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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

MERGULHANDO 
NA ESSÊNCIA DE RUMI
 


Última Parte
 
Desde o princípio, ele é o meu guia.
Procuro meu coração, ele é seu conquistador.
Luto pela paz, ele intercede por mim.
Vou à guerra, ele é meu punhal. 
Chego à festa, ele é o doce vinho.
Entro no jardim, ele é o narciso.
Desço às entranhas da terra,  
ele é o rubi e a cornalina.
Mergulho no fundo do mar, 
ele é a pérola que encontro.
Cruzo o deserto, ele é o oásis.
Ascendo às esferas celestes, ele é a estrela
Se me lanço à frente, ele é o meu peito.
E se ardo de mágoa, ele é o incensório.
Quando começa a batalha,  
Ele guarda meus flancos e conduz meu exército.
Se vou ao banquete, ele é o saqi, o menestrel e a taça.
Escrevo aos amigos,  ele é tinta, papel e pena
Quando desperto, ele é minha nova consciência.
Quando adormeço, ele é o dono de meus sonhos
Se procuro rima para o meu poema,  
ele a encontra depressa em minha mente.
Como o pintor e o pincel  
ele está acima de qualquer pintura
Não importa de que altura olhes, 
ele está ainda mais alto que o máximo que alcançaste.
Vai, abandona os livros e a retórica
deixa que ele seja o teu livro.
Silêncio!
As seis direções são raios de sua luz;
E além das direções é ele quem governa.
Escolhi o teu prazer em lugar do meu.
É meu o teu segredo,
Por isso guardo-o comigo, escondido no peito.
Maravilhoso Shams, Sol de Tabriz!
És em tudo merecedor de ti mesmo, como o Sol!


A cada instante, vindo de todos os lugares, 
ressoa o chamado do Amor:
Estamos indo para o céu. 
Quem deseja vir conosco?
Fomos para o paraíso e temos sido amigos dos anjos,
E agora iremos voltar para lá, 
pois este é o nosso país.
Estamos acima do paraíso, 
somos mais nobres que os anjos:
Por que não ir além deles? 
Nossa meta é a Suprema Majestade.
O que esta fina pérola tem a ver com o mundo da poeira?
Por que você veio aqui para baixo? 
Pegue sua bagagem de volta. 
O que é este lugar?
A sorte está conosco, conosco está o sacrifício...
Como os pássaros do mar, 
os homens vêm do oceano - o oceano da alma. 
Como poderia esse pássaro, nascido do mar, 
fazer sua morada aqui?
Não, nós somos as pérolas do coração do mar, 
é lá que nós moramos;
Do contrário, como poderia a onda suceder 
a onda que vem da alma?
A onda chamada 'Não sou Eu o Teu Senhor?' chegou;
ela quebrou o vaso do corpo;
E quando o vaso se quebra, a visão volta,
e a união com Ele também.

Este sou eu, 
um self que compartilha da matéria insensível,
E eu, saído da matéria muda a morrer.
Era eu, então, o verde vigor da vinha,
E eu, no meio das folhas murchas que morreram.
Era eu, aquela onda vibrante nas veias dos animais,
E eu, purgado pela morte, a erguer-me novamente.
Este sou eu agora, o homem, que deve morrer,
mas o “eu” irá sempre erguer-se,
Até estar de braço dado com a asa dos anjos, 
a lidar com as alturas estreladas.
Mas mais alto ainda que as asas dos anjos 
podem elevar-se,
O “eu” irá erguer-se, sempre em busca por mais,
Até despedir-se das asas dos anjos, 
para além dos limites das palavras,
E erguer-se, desaparecendo 
além do alcance da imaginação.
E plena de contentamento será a passagem 
para além de todas as coisas,
a eterna liberação que a morte finalmente traz.
Pois está escrito que quando a morte entoar seu refrão final,
Todas as coisas passarão e só a Face permanecerá.

Oh amigo, você não vê?
Sua face está brilhando com luz.
O mundo inteiro se embriagaria
Com o amor encontrado em seu coração.
Não corra para lá ou para cá
Buscando ao redor de você –
Ele está em você.
Existe algum lugar onde o sol não brilha?
Existe alguém que não pode ver a lua cheia?
Véu sobre véu, pensamento sobre pensamento –
Deixe-os todos irem,
Pois eles apenas ocultam a verdade.
Uma vez que você vê a glória
De sua face semelhante à lua,
Que desculpas você teria
Para a dor e a tristeza?
Qualquer coração sem seu amor -
Mesmo o coração de um rei –
É um caixão para cadáveres.
Todos podem ver a Deus
Com seu próprio coração –
Todos os que não estão mortos.
Todos podem beber
Das águas da vida
E conquistar a morte para sempre.
O véu da ignorância
Cobre a lua e o sol;
Ele até faz o amor pensar, ‘Eu não sou divino.’
Oh Shams, Luz Fulgurante de Tabriz,
Existem ainda, alguns segredos teus
Que nem eu posso contar.

Em sua luz
Eu aprendi a amar.
Em sua beleza
Aprendi a fazer poemas.
Você dança dentro do meu peito
Onde ninguém o vê
Mas às vezes, eu o vejo
E esta visão
Se transforma nesta arte.
 
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