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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A BUSCA, POEMA


Longamente peregrinei por este mundo de coisas efêmeras .
Dele conheci os passageiros deleites, como o belo arco-íris, que muito cedo em nada se desfaz, assim, desde as origens do mundo .
Vi todas as coisas passarem - belas, festivas, deleitáveis .
Na busca do Eterno perdi-me entre as coisas finitas; de todas provei, em busca da Verdade .

No perpassar das idades, conheci as delícias do mundo efêmero:
A terna mãe com seus filhos, o arrogante e o livre, o mendigo que erra pela face da terra ,
O conforto dos ricos, a mulher tentadora, o belo e o feio, o autoritário, o poderoso,
O homem importante, o benfeitor, o protetor, o oprimido e o opressor, o libertador e o tirano, 

O homem de muitas posses, o renunciante - o sannyasi , o homem prático e o sonhador ,
O arrogante sacerdote de suntuosas vestes e o humilde devoto,
O poeta, o artista, o criador .

Prostrei-me diante de todos os altares do mundo,
Todas as religiões me conheceram, cerimônias inúmeras pratiquei,
Regalei-me das pompas do mundo, combatente fui, de batalhas ganhas e perdidas,
Desprezei e fui desprezado, conheci as tristezas e agonias de inúmeras desditas,
Nadei em prazeres e na opulência .

Nos secretos recantos de meu coração exultei, conheci nascimentos e mortes sem conta ,
Todas essas efêmeras esferas percorri, entre êxtases passageiros, crendo-as eternas,
No entanto, jamais encontrei o eterno Reino da Felicidade .

Outrora eu Te buscava, ó Verdade imperecível, ó felicidade eterna , culminância de toda Sabedoria !
No topo da montanha, no céu constelado, nas sombras do terno luar, nos templos do homem , 

Nos livros dos doutos, na tenra folha primaveril, nas águas irrequietas, no rosto do homem ,
No regato cantarolante, na tristeza, na dor, na alegria e no êxtase - mas não Te encontrei .

Assim como o montanhista ascende aos altos picos, largando a cada passo seus múltiplos fardos, assim também me alcei às alturas, abandonando as coisas transitórias .

Como o sannyasi de áureas vestes, a buscar felicidade, com sua taça de mendicante, assim também renunciei .

Como o jardineiro que mata as ervas daninhas de seu jardim , assim também aniquilei o ego .
Como os ventos, sou livre e sem entraves .

Forte e diligente como o vento que penetra os ocultos recantos do vale .
Rebusquei os recessos de minha alma, purificando-me de todas as coisas, passadas e presentes .

Qual o silêncio que, de súbito, se estende sobre o mundo rumoroso, assim também, subitamente, 

Te encontrei no fundo do coração de todas as coisas e do meu próprio .

Sobre a trilha da montanha , sentado numa pedra, a meu lado e dentro de mim Te encontrei
E, em Ti e em mim contidas, todas as coisas .
Feliz o homem que encontra a Ti e a mim em todas as coisas .
Na luz do sol poente, a filtrar-se entre as delicadas rendas de uma árvore primaveril, eu Te contemplei .
Na ave que passa rápida e desaparece no negror da montanha, Te contemplei .

Tua glória despertou a glória que em mim dormia .
Tendo encontrado, ó mundo, a Verdade, a Felicidade eterna, dela desejo dar .
Vem meditemos juntos, juntos poderemos e sejamos felizes, raciocinemos juntos e façamos surgir a Felicidade .

Tendo provado e conhecido a pleno as tristezas e dores, os êxtases e alegrias deste mundo efêmero, compreendo tua aflição .
A glória de uma borboleta só dura um dia, assim também, ó mundo, são teus deleites e prazeres .

Como as tristezas da criança, assim, ó mundo, são tuas tristezas e dores,
Teus prazeres, que levam a muitas tristezas, tuas desditas, que levam a maiores desditas,
Incessante luta e fúteis vitórias .

Como o delicado botão, após padecer longo inverno, desabrocha e de fragrância o ar embalsama, para murchar antes de cair o sol, assim são tuas lutas, teus grandes feitos, e tua morte -
- Uma roda de dor e de prazer, de nascimento e morte .

Assim como andei perdido entre as coisas transitórias, em busca daquela eterna Felicidade,
Assim também tu, ó mundo, estás perdido na esfera do efêmero .
Desperta e reúne tuas forças, olha em torno e medita.

Aquela Felicidade imarcescível, felicidade que é a única Verdade, que é o fim de toda busca, de toda indagação e dúvida, que liberta do nascimento e da morte, felicidade que é a única lei, o único refúgio, a fonte de todas as coisas, que dá perene conforto,essa real Felicidade, que é Iluminação, em ti habita .

Tendo-me fortalecido, desejo dar desta felicidade .
Tendo alcançado o desapego afetuoso, desejo dar desta felicidade .
Tendo alcançado a tranquilidade apaixonada, desejo dar desta felicidade .
Tendo vencido a vida e a morte, desejo dar desta felicidade .

Larga, ó mundo, tuas vaidades e segue-me, pois sei o caminho que leva ao alto da montanha, sei o caminho que leva ao fim desta agitação e tormento .

Só existe uma Verdade,
Uma Lei,
Um Refúgio,
Um Guia
Para aquela eterna Felicidade .

Desperta, ergue-te ,
Medita e reúne tuas forças .
 

Krishnamurti  
http://gdesantis-poemas.blogspot.com

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