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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

SOBRE A DIFICULDADE 
DE COMPREENSÃO

Compreendo o que você diz, quando estou traduzindo? Sou capaz de escutar o que você diz, sem o traduzir, acomodando-o às minhas circunstâncias? Posso escutá-lo sem nenhuma barreira? Não é só então que vem a compreensão? 

A compreensão não é algo que nasce sem esforço? Se você está fazendo esforço para me compreender, toda a sua capacidade se consome nesse esforço; você não me escuta. Se não está fazendo esforço, se está simplesmente escutando, sem compulsão, sem tradução, sem interpretação, sem comparação — o que significa que está deixando as palavras, o pensamento, o sentimento, a coisa que se diz, a totalidade da coisa que está sendo sugerida, que você está deixando tudo isso penetrar — não há então comunhão direta de algo que eu vejo e que você também vê? Então, essa compreensão — que não é minha nem sua, porém compreensão — é o lampejo de algo que é verdadeiro. 

A compreensão, pois, não é pessoal. Não é sua nem minha. É um "estado de ser" em que a mente é capaz de receber o que é a Verdade. Entretanto, a mente é incapaz de receber a Verdade, se está limitada pela autoridade, pela tradição; está então comparando o que se diz com o Bhagavad-Gita, com a Bíblia, com isso e com aquilo. Não há dúvida, pois, de que a compreensão é um estado em que a mente não está comparando, no qual não há autoridade alguma; é percebimento sem escolha; dessa forma, a mente vê diretamente, sem nenhuma interpretação, sem nenhum intermediário. Assim, pois, se nós dois, você e eu, pudermos ver, se pudermos nos achar naquele estado, é óbvio que haverá então percepção imediata do que é verdadeiro. 

Mas, no que diz respeito a maior parte de nós, nosso conhecimento, nossas experiências, autoridades, compulsões, as várias atividades de nossa vida diária, nos estão impedindo de experimentar diretamente algo que é verdadeiro. Por mais que me ouçam, suas mentes estão estorvadas de tal maneira pela autoridade, pelo saber, pela experiência, que são incapazes de ver as coisas diretamente. 

Assim, pois, apenas vem a compreensão quando a mente está realmente tranquila, quando não é coagida, compelida, quando, na sua tranquilidade e serenidade, a mente está receptiva. Se compreensão não é acumulação, não se pode juntar compreensão; não se pode armazenar compreensão. A compreensão vem em clarões, numa série de clarões ou num só clarão de longa duração — o que indica que a mente deve se achar sobremodo tranquila, escutando, sem fazer escolha alguma. 

Mas uma mente condicionada, uma mente disciplinada, aprisionada, limitada por compulsões — essa mente não pode compreender, não pode experimentar diretamente a Verdade. E é esse experimentar da Verdade, de momento em momento, que produz a libertação criadora.

 
Juddu Krishnamurti




Krishnamurti, em quase toda a extensão de seu ensinamento, enfatizou sobre a compreensão da mente; se somos capazes de entender a vida, as pessoas, os fatos, etc. sem a interferência da mente. Ela é como uma pessoa extremamente estudiosa que tem uma resposta pronta para toda e qualquer questão. Esse tipo geralmente nos fadiga, nos importuna, porque está fora de nós, está no exterior dos acontecimentos e aguça a nossa percepção; a mente é um mecanismo que faz parte do nosso conjunto de percepções internas e, sem dúvida, interfere em nossas respostas, pois sua  participação é tão efetiva e abstrata que não conseguimos identificar sua interveniência em nosso escutar e responder. KyraKally

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