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domingo, 31 de janeiro de 2016

PERGUNTARAM A KRISHNAMURTI



O senhor refere que, no que concerne às questões espirituais, uma pessoa deve crer por si mesma. Se realmente é isso que defende, porque razão perde o seu tempo a dar conferências?

K - Senhor, porque razão derrama a flor o seu perfume? Ela não pode evitar de perfumar o ambiente. Quando percebe alguma coisa com clareza, não sentirá desejo de partilhar essa clareza com os demais? Eu refiro isto porque pessoalmente não posso impedir-me de o fazer. Eu não falo com a intenção de ajudar os outros; isso seria ser demasiado condescendente. Falo simplesmente porque existe uma canção no meu coração. E desejo expressar esse canto sem me preocupar em saber se alguém se esforça por escutar aquilo que digo. Uma flor desabrocha porque se regozija; trata-se da sua função, do seu dharma. A flor não se preocupa em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora.


 Mas tem vindo a falar há muitos anos e, no entanto, o mundo ainda não mudou. Comente esta reflexão, por favor.

K - As pessoas vão junto do rio e tomam a água na quantidade que necessitam. Alguns vão lá com um jarro; outros não bebem mais do que uns goles. Por isso a questão não é realmente do quanto é oferecido mas sim tomado. O rio está cheio de água mas você só toma uma pequena quantidade, dependendo  da satisfação provisória das suas necessidades imediatas. Você satisfaz-se com facilidade e não sente aquele profundo descontentamento. Não tem a sede necessária para beber grandes quantidades de água pura.




Não é fácil mudar. As bitolas de comportamento impostas pela sociedade, os condicionamentos aos quais nos moldamos supondo serem os mais eficazes para conquistar um lugar perfeito na família, no trabalho, enfim, na vida, vão se afirmando e confirmando, transformando-se  em véus espessos, que amontoam-se à frente de nossa visão e, seguimos como marionetes, aperfeiçoando cada vez mais esses procedimentos; cegos, impotentes espiritualmente, pois é esse lado da vida que deveríamos eleger como prioritário. Quando encontramos algum texto que nos arrebate desse miasma que nos alimenta, ou quando nos deparamos com alguém de grande sabedoria, sentimo-nos virados pelo avesso... Se a curiosidade nos anima a continuar - algo lá no fundo mandou um sinal - então, não foi possível evitar o perfume da flor, caminhamos até o rio e tomamos uma porção apenas para satisfazer as necessidades (curiosidades) imediatas. Porém, aquela voz interior começa a falar mais alto e um descontentamento surge pelo modo que estamos vivendo e percebendo o mundo; uma outra realidade, aos poucos, vai se fazendo perceptível, os véus antes espessos já estão mais transparentes facilitando a nossa compreensão e, quando isso acontece não há mais volta. O caminho vai se estreitando, as provas vão acontecendo, entretanto "o tamanho da dificuldade é igual ao tamanho da facilidade". Sejamos, pois, como as flores elas "não se preocupam em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora". KyraKally


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