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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O QUE BUSCAMOS DE FATO:
VERDADE, 
FELICIDADE 
OU SATISFAÇÃO ?

Presumivelmente, a maioria de vocês tem um instrutor de alguma espécie, não é verdade? Alguma espécie de "guru", lá no Himalaia, ou por aqui mesmo. Não é verdade isso? Alguma espécie de guia. Ora, por que precisam dele? Naturalmente, não necessitam dele para fins materiais, a não ser que lhes prometa um bom emprego para depois de amanhã. Assim sendo, presumo que o necessitam para fins psicológicos, não é mesmo? Pois bem, por que necessitam dele? Fundamentalmente, é claro que dele necessitam, porque dizem: "Estou confuso; não sei como viver neste mundo; as coisas são muito contraditórias. Há confusão, há sofrimento, há morte, decadência, degradação, desintegração, e preciso de alguém para me aconselhar no que fazer". Não é esta a razão pela qual necessitam de um guru, por que se dirigem a um guru?

Vocês dizem: "Confuso como estou, necessito de um instrutor para me ajudar a esclarecer a confusão, ou, melhor, para me ajudar a dissolver a confusão". Não é isso? A necessidade de vocês, portanto, é psicológica. Vocês não consideram o Primeiro Ministro como o guru de vocês, visto que ele se ocupa, meramente, da existência material da sociedade. Vocês apelam para ele a fim de que atenda às suas necessidades físicas; enquanto, aqui, vocês procuram um instrutor par atender às suas necessidades psicológicas. 

Mas, o que é que vocês entendem pela palavra "necessidade"? Preciso de um pouco de sol, preciso de alimento, de roupas, e de moradia; preciso, da mesma forma, de um instrutor? Para responder a essa pergunta, devo descobrir quem criou essa terrível confusão que me rodeia e que também está em mim. Se sou responsável pela confusão, sou eu, então, a única pessoa que poderá dissipar a confusão, o que significa que preciso compreender a confusão; mas vocês, em geral, procuram um instrutor para que ele os liberte da confusão, ou lhes mostre o caminho, ou lhes dê instruções sobre a maneira de proceder em face da confusão. Ou dizem: ""Este mundo é falso, e preciso achar a Verdade". E o guru, instrutor diz: "Eu achei a verdade" — e por isso vocês vão a ele para compartilhar aquela verdade. 

Pode a confusão ser dissipada por outra pessoa, por maior que seja tal pessoa? É bem certo que essa confusão existe nas nossas relações, e que, portanto, precisamos compreender as nossas relações recíprocas, as nossas relações com a sociedade, com a propriedade, as ideias, etc.; e pode alguém nos dar a compreensão dessas relações? Alguém pode nos apontar ou mostrar isso ou aquilo, mas é a mim que compete compreender as minhas relações, a minha posição. Senhor, isso lhe interessa? Encontro dificuldade, porque sinto que você não está interessado: está observando outra pessoa fazendo alguma coisa. Quando vocês fazem uma pergunta, não compreendem a importância de prestar atenção à resposta. Por conseguinte, estão fazendo pouco caso de seu guru e da confusão de vocês. Em verdade, pouco lhes importa o que diz o seu guru e só o procuram por hábito. 

Consequentemente, a vida não tem importância para vocês, ela não é energia, não é criação, não é algo que precisa ser compreendido. E, posso ler isso na fisionomia de vocês, não estão seriamente interessados nesta questão. Vocês escutam, ou para se justificar na sua busca de gurus, ou para fortalecer a própria convicção de que os gurus são necessários. Mas, dessa maneira não encontraremos a verdade que esta questão encerra. Vocês só podem encontrar a verdade contida nesta questão, se esquadrinharem o seu coração para acharem a razão do por que necessitam de um guru. 

Há, pois, muitas coisas contidas nesta questão. Parece que julgam que a verdade é estática, e que, por isso, um guru pode levá-los aonde está. Assim como um homem pode indicar o caminho da estação, assim também julgam que um guru pode mostrar-lhes o caminho da Verdade. Significaria isso que a Verdade é estática; mas, será estática a Verdade? Bem gostariam que o fosse, porquanto tudo o que é estático satisfaz, pois, pelo menos, sabem o que é e podem conservá-lo em suas mãos. De sorte que o que buscam, em verdade, é só satisfação. Desejam segurança, desejam a garantia de um guru, desejam que ele lhes diga: "Você está indo muito bem, continue" — desejam que ele lhes dê conforto mental, que lhes anime, emocionalmente. Assim sendo, procuram, invariavelmente, um guru que de fato lhes satisfaça. 

Essa é a razão de haver tantos gurus e tantos discípulos; o que significa que realmente não buscam a verdade, mas somente satisfação; e o homem que lhes der o máximo de satisfação, esse homem chamaram de o guru de vocês. Tal satisfação, ou é neurológica, isto é, física, ou psicológica; e, na presença do guru, pensam sentir uma paz profunda, uma grande tranquilidade, uma impressão de ser compreendido. Por outras palavras, querem um pai ou uma mãe glorificados, para ajudar-lhes a vencer a dificuldade. Senhor, você já esteve sentado tranquilamente à sombra de uma árvore? Aí também se encontra uma paz profunda. Aí também nos sentimos compreendidos. 

Por outras palavras, na presença de uma pessoa muito tranquila, ficamos igualmente tranquilos; e atribuem essa tranquilidade ao instrutor e o rodeiam de grinaldas, enquanto tratam a pontapés o empregado de vocês. Assim, pois, quando dizem que necessitam de um guru, nisso estão implicadas todas essas coisas, não é verdade? E o guru que lhes garante a fuga, torna-se para vocês uma necessidade.

A confusão só existe nas relações entre indivíduos; mas, por que necessitamos de alguém para nos ajudar a compreender esta confusão? Dirão, agora, porventura: "O que você está fazendo? Não está agindo como nosso guru? — Certamente, não estou procedendo como guru de vocês, primeiro, porque não estou lhes dando satisfação alguma, e, depois, porque não estou lhes dizendo o que devem fazer, momento por momento, dia por dia. Estou apenas a apontar-lhes uma coisa; vocês podem levar ou deixar ficar — e isso depende de cada um e não de mim. Nada peço a vocês: nem adoração, nem adulação, nem insultos, nem os seus deuses. Eu só digo: "isso é um fato; levem ou deixem ficar". Mas a maioria de vocês o deixará ficar, pela razão muito clara de não encontrar nele satisfação. Mas o homem que é realente sincero, verdadeiramente ardoroso na sua intenção de descobrir, encontrará nutrição suficiente no que estamos dizendo, ou seja, que a confusão só existe nas relações de vocês. Tratemos, por conseguinte, de compreender essas relações. 

 

Jiddu Krishnamurti





Frequentemente visito alguém muito sábio e todas as vezes que o via observava que seu semblante estava sempre diferente, ora abatido, ora risonho, ora delgado, ora redondo, etc. Certa vez necessitei vê-lo pela manhã e também à tarde e, o que costumava observar, chamou muito minha atenção naquele dia: pela manhã seu rosto parecia muito fino, porém à tarde estava bem volumoso. Não me contive, contei-lhe o que vinha espreitando. Ele me respondeu que cada um de nós é como um espelho um do outro; o que eu sempre notava em sua expressão facial era exatamente como eu aparentava estar interiormente. "A confusão só existe nas relações entre indivíduos". O modo como vemos o outro não seria um reflexo do que ainda precisamos observar em nós mesmos ? KyraKally



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