O QUE É QUE REENCARNAÇÃO ?
Investigando a Dimensão Imortal da Consciência
Robert Crosbie
O
que reencarna é um mistério para muitos, porque há uma certa
dificuldade de compreender a permanência que existe através de repetidas
encarnações. Eles sabem que o corpo nasce, e morre, e se dissolve. Mas
suas mentes estão tão identificadas com o corpo, em suas relações e sua
ambientação, que são incapazes de se dissociar dele. Eles pensam em si
mesmos como pessoas, como corpos de natureza física e, portanto, não
conseguem ver onde, neles, pode estar o poder de encarnar através de uma
vida e outra.
A teosofia apresenta uma visão ampliada, ao mostrar que o homem não
é o seu corpo, porque o corpo está continuamente mudando; e que o homem
não é sua mente, porque ele está constantemente a mudar de opinião; mas
que existe no homem algo permanente, que é a sua identidade através de
todos os tipos de personificações.
Não
houve nenhuma mudança em nossa identidade desde a infância até os dias
atuais. O corpo mudou, o ambiente mudou, mas a identidade permanece a
mesma e não vai mudar daqui para a frente, apesar de todas as alterações
no corpo, ou na mente, ou nas circunstâncias. Só aquilo que é imutável
em nós é real. Nada que muda é real. Só o que é real percebe a mudança. A
mudança não pode ver a mudança. Só o que é constante percebe a mudança.
Apenas o permanente pode perceber a impermanência. Por menos que o
percebamos, há algo em nós que é eterno e imutável.
Esta
alguma coisa imutável, constante e imortal em nós não está distante de
qualquer partícula, nem de qualquer ser. Há apenas uma vida no mundo, à
qual nós pertencemos assim como todos os outros seres. Nós todos viemos
da mesma Fonte Única - e não de muitas fontes -, e estamos trilhando o
mesmo caminho para o mesmo grande objetivo. Os antigos diziam que o Eu
Divino está em todos os seres, mas não brilha em todos. Aquilo que é
real é interior, e pode ser reconhecido por qualquer ser humano dentro
de si mesmo. Todo ser humano precisa da compreensão de que é capaz de
brilhar e manifestar o Deus interior, ainda que todos os seres o
expressem apenas parcialmente.
Se,
então, a Fonte é a mesma em todos os seres - e a fonte é o Espírito
Único -, por que há tantas formas, tantas personalidades, tantas
individualizações?
A
teosofia mostra que tudo isso são desenvolvimentos. Nós nos movemos,
vivemos e temos nosso ser neste grande Oceano da Vida, que é ao mesmo
tempo Consciência e Espírito. Esse oceano é separável em suas gotas
constituintes. A separação é realizada por meio do grande processo da
evolução. Mesmo nos reinos abaixo de nós, que são da mesma Fonte, a
tendência a se separar em gotas de consciência individualizada acontece
em grau cada vez maior. No reino animal, as espécies que estão mais
próximas de nós se aproximam da autoconsciência, mas nós, como seres
humanos, já chegamos a esse estágio, no qual cada um é uma gota
constituinte do grande oceano da Consciência. Assim como acontece com um
oceano de água, em que cada gota contém todos os elementos do grande
todo, assim também cada gota constituinte da humanidade - um ser humano -
contém em si todos os elementos do grande universo.
O
mesmo poder existe em todos nós. No entanto, desde onde nós estamos na
escada da existência, podemos ver muitos seres abaixo de nós, e outros
seres maiores acima de nós. A humanidade está agora construindo a ponte
de pensamento, uma ponte de ideias, que conecta o inferior ao superior.
O
propósito da encarnação ou da nossa descida à matéria não é apenas
obter mais conhecimento da matéria, mas também ajudar os reinos
inferiores para que subam até onde estamos. Nós somos como deuses, para
os reinos inferiores. É o nosso impulso que traz a eles felicidade ou
sofrimento. É a nossa visão errada do propósito da vida que faz da
Natureza algo tão duro; que provoca toda a angústia e as catástrofes que
nos afligem em ciclones, tornados [1], doenças e pestilências de
todo tipo. Tudo isso é criado por nós próprios; e por quê? Porque há
uma sublimação dos reinos mineral, vegetal e animal em nossos corpos, e
estes reinos têm vida em si mesmos.
Cada
célula do nosso corpo tem o seu nascimento, sua juventude, maturidade,
decadência, e sua morte; e a sua reencarnação. Estamos impulsionando
cada uma dessas vidas conforme o pensamento, a vontade ou sentimento que
temos, no sentido de ajudar ou de prejudicar os outros. Estas vidas
saem de nós para o bem ou para o mal, e voltam para seus reinos como
boas ou más. Portanto, devido à nossa falta de compreensão da nossa
própria e verdadeira natureza, e sem ter uma compreensão da fraternidade
universal, estamos desempenhando mal nossos deveres neste plano, e
ajudamos imperfeitamente a evolução dos reinos inferiores.
Nós
só percebemos a nossa responsabilidade para com eles quando vemos que
todo ser está no seu caminho para cima; que tudo o que vive acima do
homem foi humano algum dia; que todos os seres abaixo do homem serão, em
um momento futuro, elevados ao nível da humanidade, quando nós tivermos
ido mais além; que todas as formas, todos os seres e todas as
individualizações são apenas aspectos do Espírito Único.
Partindo,
então, do ponto de vista de que este Espírito Único e imutável está em
tudo - e de que ele é a causa de todo desenvolvimento evolutivo, a causa
de todas as encarnações - onde está, podemos perguntar, o nosso poder
de carregar de uma vida para outra aquilo que vemos e que sabemos? Como é
preservada a continuidade do conhecimento adquirido através da
observação e da experiência? De que modo a individualidade é mantida
como tal?
Devemos
lembrar-nos de que éramos seres autoconscientes quando este planeta
começou; alguns até mesmo eram autoconscientes quando esse sistema solar
começou; porque há uma diferença nos graus de desenvolvimento de
diferentes seres humanos.
Se
o planeta e sistema solar começaram em um estado de substância
primordial, ou matéria nebulosa, como diz a Ciência, então devemos ter
tido corpos feitos daquele tipo de substância. Naquela substância mais
refinada estavam todas as possibilidades de cada grau de materialidade,
e, por causa disso, todas as mudanças de matérias gradualmente mais
densas ocorreram dentro do verdadeiro corpo da matéria primordial; e
toda a experiência está dentro desse corpo. Nosso nascimento ocorre
dentro desse corpo. Tudo o que nos ocorre está dentro do corpo - um
corpo de uma natureza que não muda ao longo de todo o Manvântara [2].
Cada um tem um corpo de substância mais sutil, de natureza interna, que
é o real recipiente do indivíduo. Nele o indivíduo vive, se move e tem o
seu ser, e mesmo a grande glória e delicadeza daquele corpo não é o
homem; mas apenas a veste mais elevada da Alma. O Verdadeiro Homem que
somos é o Homem que foi, é, e que sempre será, para quem a hora da morte
nunca vai chegar - o Homem pensador; o Homem observador - sempre
pensando e agindo continuamente.
A
vida é uma só. O Espírito é um. A Consciência é uma. Estes três são um -
uma trindade - e nós somos esta trindade. Todas as alterações de forma e
substância são produzidas através do Espírito e da Consciência que se
expressam nas várias formas de vida. Nós somos este Espírito Único. Cada
um de nós se posiciona na vasta congregação de seres neste grande
universo, vendo e sabendo aquilo que consegue perceber através dos
instrumentos que tem. Nós somos a Trindade - o Pai, o Filho e o Espírito
Santo; ou, na linguagem teosófica, somos Atma, Buddhi e Manas. Atma é o Espírito Único, que não pertence a ninguém, mas a todos. Buddhi é a experiência sublimada de todo o passado. Manas
é o poder do pensamento, o pensador, o homem, o homem imortal. Não há
ser humano sem o Espírito. E não há ser humano sem a experiência do
passado. Mas a mente é o reino da criação, das ideias, e o próprio
Espírito, apesar de todo o seu poder, age de acordo com as ideias que
estão na mente.
A obra “A Voz do Silêncio”, de Helena Blavatsky diz:
“A mente é como um espelho. Ela reúne poeira enquanto reflete.”
A
mente necessita da sabedoria da alma para afastar o pó. Aquilo que
chamamos de mente é apenas um refletor que apresenta, conforme a
treinamos, diferentes imagens. O Espírito age para o bem ou para o mal,
de acordo com as ideias vistas. Existe o mal no mundo? É o poder do
Espírito que o causou. Existe o bem no mundo? É o poder do Espírito que o
causou. Porque há apenas um poder. A distorção desse poder traz o mal; o
seu direcionamento correto traz o bem.
Devemos abandonar a ideia
de que somos seres pobres, fracos e miseráveis, que não podem fazer
nada por si mesmos. Enquanto mantivermos essa ideia, nunca faremos nada.
Temos de adotar a outra ideia - a ideia de que somos Espírito, somos
imortais. E quando percebermos o que isso significa, esse poder irá
fluir diretamente em nós e através de nós, sem restrições de qualquer
tipo, salvo aquelas que surgem dos instrumentos que nós mesmos tornamos
imperfeitos. Portanto, devemos abandonar a ideia de que somos este corpo
físico pobre, miserável, limitado, sobre o qual temos tão pouco
controle. Nós não podemos parar as batidas do coração; não podemos parar
a respiração sem destruir o corpo; não podemos interromper a constante
dissociação de matéria que acontece nele, nem impedir sua dissolução
final. Algumas pessoas falam de fazer “demonstrações” contra a morte,
mas seria o mesmo que protestar contra a queda das folhas das árvores,
quando chegam as rajadas de vento do inverno. A morte acontecerá sempre,
e há uma grande vantagem nisso. Se não conseguíssemos trocar de corpos,
como haveria qualquer possibilidade de avanço? Será que estamos tão
satisfeitos com nossos corpos atuais que não desejamos mudar? Certamente
que não.
Há
apenas uma coisa nesta vida que pode ser preservada permanentemente, e
esta coisa é a natureza espiritual, a grande compaixão divina que
podemos traduzir pela palavra “amor”.
Nós
somos os Eus Superiores reencarnantes, que continuarão a renascer até
que a grande tarefa à qual nos propusemos esteja concluída. Essa tarefa é
a elevação de toda a humanidade para o estágio mais elevado possível de
perfeição numa Terra deste tipo.
Nós
encarnamos de tempos em tempos para a preservação do que é correto,
para a destruição da maldade e o estabelecimento da justiça. É para isso
que estamos aqui, quer saibamos ou não, e devemos alcançar um
reconhecimento da imortalidade na nossa própria natureza, antes de poder
libertar-nos da angústia que aflige a humanidade por toda parte. Temos
de nos manter em contato e em sintonia com o grande propósito da
natureza, que é a evolução da Alma, e em função do qual existe todo o
universo.
NOTAS:
[1] “É
a nossa visão errada do propósito da vida que faz da Natureza algo tão
duro; que provoca toda a angústia e as catástrofes que nos afligem em
ciclones, tornados...”. Nesta frase, Robert Crosbie menciona a
relação direta que há entre os pensamentos e as ações da humanidade, de
um lado, e os ciclos geológicos e ecológicos do planeta Terra, de outro
lado. A humanidade responde, de certo modo, pela vida mental do planeta. Cada
vez que a vida do planeta decai no plano da mente da humanidade, a vida
geológica também decai. O processo é regulado pela Lei dos
Ciclos. Todos os níveis de consciência estão carmicamente interligados e
interagem ativamente entre si. (CCA)
[2]
Manvântara: um período de manifestação do Universo, ou de um sistema
solar. Cada Manvântara é seguido de um Pralaya ou período de descanso, e
depois surge outro Manvântara. (CCA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário