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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

ENTRE DOIS MUNDOS
 
Estendera o Eterno, de um a outro extremo, a sua potência creadora - desde os puros espíritos até à matéria bruta.
 
Desde a mais alta vida intelectual - até à mais profunda negação do intelecto.
 
Entretanto, não atingira ainda o Eterno o extremo limite de sua divina audácia...
 
Restava-lhe ainda o mais temerário e paradoxal de todos os atos - a união do espírito e da matéria.
 
Seria possível fundir em um único ser a luz dos puros espíritos - e a noite da matéria inerte?...
 
Reduzir a uma síntese essas duas antíteses?...
 
"E disse o Senhor: Façamos o homem - e fez Deus, da substância da terra, um corpo e inspirou-lhe na face o espírito vivente"...
 
E ergueu-se, no meio da natureza virgem, esse paradoxo ambulante, esse enigma anônimo, essa indefinível esfinge, semi-animal e semi-anjo - o homem...
 
Quando os espíritos celestes viram o homem, exultaram sobre a sua grandeza e choraram sobre a sua miséria......
 
Cristalizaram-se, na alma humana, essas centelhas de júbilo e essas lágrimas de dor - e formaram um mar imenso de doce amargura e inextinguível nostalgia...
 
Principiou, então, neste mundo visível, a luta entre a luz e as trevas - entre o bem e o mal...
 
A história da humanidade......
 
Têm os puros espíritos sua pátria - lá em cima......
 
Tem a matéria bruta sua sede - cá embaixo...
 
Mas onde está a pátria do espírito-matéria?...
 
Na terra? - protesta o espírito!
 
No céu? - protesta a matéria!
 
Entre o céu e a terra? - mas lá se erguem os braços duma cruz!
 
É por isto mesmo que o mais humano e mais divino dos homens expirou entre o céu e a terra - na sua pátria cruciforme...
 
"Não havia lugar para ele" - em outra parte...
 
E é por isso mesmo que os melhores dentre os homens são sempre crucificados...
 
Não os compreende a terra - nem os acolheu ainda o céu...
 
E assim, entre o céu e a terra, vive o homem esta vida dilacerada de angústias e paradoxos.
 
Sem pátria certa,
 
Em perene exílio,
 
Oscilando entre a matéria e o espírito.
 
Lutando,
 
Sofrendo,
 
Amando.
 
Até que a matéria volte à matéria,
 
E o espírito ao Espírito.
 
Sintetizando dois mundos
 
Em Deus.
 
 
 
Texto extraído do livro "De Alma Para Alma";  
Huberto Rohden

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