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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A COMPREENSÃO NÃO SURGE 
ATRAVÉS DO ISOLAMENTO
 
É muito importante compreender todo o processo do nosso pensamento, e essa compreensão não surge através do isolamento. Não existe uma vida isolada. A compreensão do processo do nosso pensamento surge quando nos observamos nos nossos relacionamentos diários, nas nossas atitudes, nas nossas crenças, a maneira como falamos, a maneira como olhamos as pessoas, a maneira como tratamos nossos maridos ou nossas esposas e nossos filhos. O relacionamento é o espelho no qual se refletem os processos do nosso pensamento. Nos fatos do relacionamento se encontra a verdade, não fora do relacionamento. Não existe, é claro, a vida isolada. Podemos, cuidadosamente, eliminar diversas formas de relacionamento físico, mas, ainda assim, a mente permanecerá relacionada. A própria existência da mente implica relacionamento, e o autoconhecimento advém de se enxergarem os fatos do relacionamento tais como eles são, sem inventar, condenar ou justificar. No relacionamento, a mente faz certas avaliações, julgamentos e comparações; ela reage ao desafio de acordo com as várias formas de recordação, e essa reação é chamada de pensamento. Você descobrirá que, se a mente puder ao menos estar ciente de todo o processo, o pensamento se imobiliza. A mente então fica bastante quieta, bastante silenciosa, sem incentivo, sem movimento em qualquer direção, e, nessa quietude, a realidade adquire existência.


A COMPREENSÃO DO PROCESSO TOTAL 
DO NOSSO SER

Se estudam parte de um quadro, se examinam só uma seção, um canto do mesmo, não veem o quadro inteiro. Se víssemos o quadro todo e compreendessemos o que o artista deseja nos transmitir, depois disso talvez fosse proveitoso estudar a parte, o canto do quadro; todavia, se começarmos estudando o canto, o ângulo, em vez do quadro inteiro, nesse caso nunca teremos a compreensão do seu todo. 
 
Este é um fato muito simples; isto é, se damos importância apenas ao lado econômico do nosso viver total e aplicamos toda a nossa inteligência, e nossos pensamentos, e nossa experiência à solução econômica, perderemos de vista toda a luta humana, toda a existência do homem, seus diferentes estados: psicológicos, físicos, interiores, exteriores. E esse estudo da parte os levará à compreensão da totalidade do homem? Como quase todos nós — os especialistas, os homens eruditos, experientes, importantes — só nos mostramos interessados pela parte e tratamos apenas de legislar para a parte, talvez alguma coisa nos esteja escapando: o todo do homem, o todo da existência humana; e se compreendessemos esse todo, encontraríamos, muito provavelmente, uma solução diferente, uma resposta diferente, uma maneira mais rápida de atender ao nosso problema econômico. 
 
Aquela coisa que nos escapa é a totalidade do meu ser e do ser de vocês; ela é composta de todas essas partes, não é verdade? Eu sou o corpo, a roupa que visto, a fome, a sede, exteriormente; e, interiormente, sou todos os desejos, todas as ambições, as lutas psicológicas, as frustrações, os impulsos, a compulsão para nos preencher, a buscar algo para além da mente; eu sou o processo total de todas essas coisas, bem como vocês o são. 

Não importa muito que nos ajudemos mutuamente a compreender o processo total de vocês e de mim, e não nos limitemos a legislar para uma parte de mim, uma camada de mim? Senhor, necessito de alimento, roupa e morada, e vocês também; e necessitamos ainda de outra coisa, muito mais fundamental. Queremos nos preencher, ser pintores, escritores, santos, indivíduos prestantes, ou entes perversos; há o sentimento de ódio, da ambição, da inveja; como podem deixar tudo isso à margem, para se ocuparem só com uma particularidade, uma parte — ainda que seja uma parte "glorificada" — e falarem a respeito dessa parte, e levarem a efeito uma revolução? Minha existência não é um processo total, não representa o processo total do meu ser em diferente níveis, tanto conscientes como inconscientes? Não lhes cabe levar tudo isso em consideração, não devem ter a visão do todo de si mesmo — e não de algum Deus extraordinário? 
 
O meu "eu" está em relação com o "eu" de todos os demais homens; não existo independente deles, nem posso existir. O processo total do "todo", de vocês e de mim, tem de ser compreendido. Se tanto vocês como eu pudermos compreender o processo total do ser  e tivermos consideração e interesse pelo todo e não pela parte, encontraremos então uma solução diferente para todos os nossos problemas. Mas o encarecimento e a glorificação da parte não irá resolver o problema do todo. 

É tão mais fácil nos ocuparmos com a parte! Estamos interessados na parte — o que indica nossa superficialidade, a pequenez de nossas mentes. É só quando compreendemos o processo total do nosso ser, dia por dia, em todas as nossas relações, que há a possibilidade de se descobrir algo além dos limites da mente. Mas não podemos encontrar o que se acha além da mente, pelo encarecimento da parte. E se não descobrirmos o que existe além da mente, jamais teremos felicidade, nunca terá paz a humanidade; a vida nos apresentará luta e sofrimento sem fim. 
 
Estes são fatos evidentes; não necessitam estudá-los nos tratados de psicologia; não precisam fazer nenhum exame, não precisam conhecer nenhuma técnica, para descobrirem o que existe na mente e no coração de vocês, hora por hora, momento por momento, dia por dia, requer-se tão somente vigilância e não que se siga um guru ou um líder. Não se requer disciplina, mas o mero observar de coisas simples — cólera, ciúme, desejo de preenchimento, desejo de adquirir, desejo de ser poderoso. 
 
Observem essas coisas, nas suas relações, na vida de cada dia de vocês, e verão como funciona a totalidade do ser de vocês, verão se são o centro e se, sem alteração fundamental, radical, do centro, é possível efetuar-se uma revolução na periferia. Enquanto estivermos lustrando o exterior — o que não significa que o exterior não deva ser brilhante — esse modo de atender os nossos problemas não os resolverá. Entretanto, se pudermos compreender o processo total do nosso ser, em seguida, se possível, passar além e, daí, nos aplicarmos aos nossos problemas, encontraremos então a solução correta. A solução não será então uma causa de novos problemas, mais sofrimentos, mais aflições. 



Jiddu Krishnamurti





Sempre observamos em volta ou de baixo por isso vemos muito pouco, o nosso entendimento é limitado como na imagem acima: veremos apenas o nosso reflexo. Precisamos nos elevar para enxergar mais amplamente, assim compreenderemos melhor. Quem se eleva está mais liberto de condicionamentos e para voar é necessário abandonar a bagagem. Precisamos estar prontos e despertos para isso. Estamos ? Desejamos ? Ou preferimos segurar apenas uma parte... é mais cômodo, não ? Entretanto, nunca obteremos aquela visão integral, aquela compreensão total!  KyraKally

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