NUNCA SE TEME O DESCONHECIDO;
TEME-SE O ACABAR DO CONHECIDO
O organismo tem um fim, obviamente. O homem pode viver cerca de noventa
anos, e se os cientistas descobrirem algum medicamento talvez possa
viver cento e cinquenta — mas sabe Deus porque é que se quer viver até
aos cento e cinquenta, da maneira como vivemos! Mas mesmo assim, mesmo
que se possa chegar aos cem anos, o organismo deteriora-se, porque
vivemos de modo completamente errado: em conflito, com medo, em tensão, a
matar animais e seres humanos. Que desordem fazemos das nossas vidas! A
velhice torna-se portanto uma coisa terrível!
No entanto, há sempre morte — morte para os jovens, para os de
meia-idade ou para os velhos. Que entendemos nós por morrer, à parte a
morte física, que é inevitável?
A morte tem um sentido mais profundo do que o simples acabar do
organismo físico: o de psicologicamente chegar ao fim — o súbito acabar
do "eu", do "você". Este "eu", este "você", que acumula conhecimentos,
que sofre, que vive com lembranças agradáveis e dolorosas, com todo o
esforço penoso do conhecido, com os conflitos psicológicos, com as
coisas que não compreende, com as coisas que quis fazer e que não fez. A
luta psicológica, as lembranças, o prazer, as dores — tudo isso acaba. É
disso realmente que se tem medo e não do que está além da morte. Nunca
se teme o desconhecido; teme-se o acabar do conhecido. E o conhecido é a
nossa casa, a nossa família, a nossa mulher, os nossos filhos, as
nossas ideias, os nossos livros, os nossos móveis, as coisas com que nos
identificamos. Quando isso acaba, a pessoa sente-se completamente
isolada, sozinha — é disso que se tem medo. Isso é uma forma de morte e
essa é a única morte.
Ao compreendermos isso — não de maneira teórica, mas realmente — ao
compreendermos que se tem medo de perder tudo o que se possui ou se
criou, ou aquilo para que se trabalha, perguntamos: ""Não será possível
morrer psicologicamente todos os dias, para que a mente seja fresca,
jovem e inocente em cada dia?" Façam-no, realmente, e verão que coisas
extraordinárias acontecem. Então, a mente torna-se inocente, o que uma
mente envelhecida, embora cheia de experiências, nunca é. Só a mente que
abandona os seus fardos todos os dias, que todos os dias põe fim aos
seus problemas, é inocente. Então a vida ganha um sentido totalmente
diferente. Então pode-se descobrir o que é o amor.
Krishnamurti
"... Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dai aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me... " Aquele que deseja a espiritualidade precisa abandonar todas as posses, pois elas o prende ao mundo... como podemos seguir os ensinamentos de Jesus preocupados em administrar família, imóveis, aplicações bancárias... estaremos divididos... a entrega é total, não parcial. Precisamos de muitas vidas para compreender isso, para exercitar o incondicional desapego material, intelectual e psicológico; estamos excessivamente condicionados. Analisemos como viveram os grandes mestres. Não carregavam fardos, apenas o desejo ardente de despojarem-se das ilusões materiais. Suas próprias vidas representavam seus ensinamentos. KyraKally
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