O FRACASSO COMO PORTAL DE ACESSO PARA A REALIZAÇÃO
Os homens destinados à Realização
afastam-se de qualquer tipo de compensação em algum momento de suas
vidas consagrando-se UNICAMENTE àquele objetivo. Seu pensamento parece
não se desviar para nada além daquilo. Em paralelo ao DESINTERESSE
comum, esses homens seguiram caminhos muito diferentes. No entanto,
todos eles têm ALGO EM COMUM: o FRACASSO, ou sucessivos fracassos se
decidiram percorrer diversos caminhos.
Esta é a VIA DESCENDENTE dos
fracassos repetidos até o fracasso final. Desejo citar sobre o tema uma
notável intuição de Dag Hammarsjöld: "Levado pelo labirinto da vida,
chego a um momento e a um lugar onde compreendo que o caminho conduz a
um trunfo que é uma catástrofe, e uma catástrofe que é um trunfo... e
que a única elevação possível para o ser humano está nas profundezas da
humilhação".
A morte do ego e o renascimento são simultâneos; quanto aos momentos
imediatamente anteriores à "morte", são iguais para todos os homens. O
estado interior nestes instantes está composto de uma humilhação
completa e aceita, isto é, da visão de si como nada, como não sendo
nada. O pensamento, desvalorizado, se detém. A afetividade também se
dilui, porque o homem experimenta ao mesmo tempo sentimentos de igual
intensidade: de um lado, o desespero nas suas próprias possibilidades,
de outro, uma total confiança n'Ele a favor da abdicação do Eu. Nesse
momento, finalmente, o homem deixa de FAZER algo por sua Realização,
desejando-a COM TODO O SEU SER.
Citemos uma frase do zen: " O SATORI cai sobre nós de maneira imprevista, após esgotarmos todas as forças do nosso SER"...
O instante em que se esgotam todas as forças do nosso ser é o instante
da Realização. Eis uma descrição do mesmo Ch'an: "O leve contato de um
fio de baixa tensão origina uma explosão que afeta até as estruturas da
Terra; tudo o que jazia no espírito explode como uma erupção vulcânica
ou brilha como um relâmpago".
... A duração da evolução interior que vai do primeiro desejo da
Realização aos últimos instantes dessa morte-para-renascer é muito
variável. Embora tenha sido de apenas dois anos para Ramana Maharshi,
também pode durar dezenas de anos. Será que Buda estava pensando nisso
quando, ao ser interrogado sobre a maior virtude humana, respondeu que
era a PACIÊNCIA?
Hubert Benoit
Dalai Lama afirma algo muito interessante quando diz que 'A paciência... é cultivada através do processo racional de análise... É essencial começar nosso treinamento da paciência quando estamos calmos e não quando sentimos raiva'. Leonardo da Vinci afirma que 'A paciência faz contra as ofensas o mesmo que as roupas fazem contra o frio; pois se vestires mais roupas conforme o inverno aumenta, tal frio não te poderá afetar. De modo semelhante a paciência deve crescer em relação as grandes ofensas; tais injúrias não poderão afetar a tua mente'. A paciência assemelha-se a uma tartaruga; sua armadura é forte e suporta as mais duras pancadas; caminha devagar, porém, desviando-se dos obstáculos, vai longe. KyraKally
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