PARA OBSERVAR É PRECISO MEDITAR ?
Observar é meditação, e isso não
significa que para observar temos de meditar. Observar é uma das coisas
mais difíceis que há. Observar, por exemplo, uma árvore, é dificílimo,
porque temos ideias, imagens relativas à arvore e essas ideias —
conhecimentos botânicos, etc. — nos impedem e olhar a árvore.
Observar
sua esposa ou marido é mais difícil ainda, porque você também tem uma
imagem relativa de sua esposa e ela tem uma imagem a seu respeito, e a
relação existente é entre essas duas imagens. É o que em geral se chama
"relações": dois conjuntos de lembranças, de imagens, em relação entre
si. Veja quanto isso é absurdo. As relações que em geral temos são uma
coisa morta.
Observar significa, com efeito, estar consciente da
interferência do pensamento; perceber como a imagem que você tem da
árvore, da pessoa, do que quer que seja, intervém no ato de olhar.
Observe como você se esquece do objeto que está olhando — a árvore, a
pessoa; e veja porque o pensamento interfere, porque você tem uma imagem
de tal pessoa. Por que você tem uma imagem de quem quer que seja? Aqui
estamos, você e eu, a nos olhar — eu, o orador, e você, o ouvinte. Você
tem uma imagem relativa do orador, infelizmente; mas eu, não lhe
conheço, nenhuma imagem tenho de você e, por conseguinte, posso olhá-lo.
Mas não posso olhá-lo se digo para mim: Vou servir-me desse ouvinte
para alcançar poder, posição, explorá-lo, tornar-me um homem famoso —
você sabe o resto — de todas as futilidades que os entes humanos
cultivam.
Assim, observar significa: observar sem a interferência de
nosso fundo. Entende? Todo o nosso ser, que está a olhar, é o nosso fundo —
cristão, francês, intelectual. Pela observação, descobre-se esse fundo;
e observá-lo sem nenhuma escolha, nenhuma inclinação, é uma disciplina
tremenda — não a absurda disciplina de ajustamento, de imitação. Essa
observação torna a mente sobremodo ativa, sobremodo sensível. Isso em
seu todo é meditação.
Não se entenda, pois, que "para observar é preciso
meditar", porém, antes, que é quando observamos, que todas as coisas
sucedem. Isso, em seu todo, é meditação, e não um certo método de
controle do pensamento.
Krishnamurti
Krishnamurti afirma, com experiência, que "quando se consegue olhar para uma árvore, para uma nuvem, para a
luz sobre a água, sem o observador, e também – o que é muito mais
difícil, o que precisa de uma maior atenção – se você conseguir olhar
para si mesmo sem a imagem, sem qualquer conclusão, porque a imagem, a
conclusão, a opinião, o juízo, a bondade e a maldade, estão centrados em
torno do observador, então você descobrirá que a mente, o cérebro, se
torna extraordinariamente tranquilo. E essa tranquilidade não é uma
coisa a ser cultivada; ela pode acontecer, ela acontece sim, se você
estiver atento, se você for capaz de observar o tempo todo, observar os
seus gestos, as suas palavras, os seus sentimentos, os movimentos do seu
rosto e tudo o mais". Essa opinião, esse conceito que temos sobre tudo e todos nos retira a maravilhosa possibilidade de extasiar-nos com a existência. Vemos no outro aquilo que queremos ver, portanto, chegou o momento de olhar, apenas olhar com neutralidade. É tão bom quando começamos a experimentar isso. Toda a ótica muda... nós mudamos... o outro muda ... Tudo fica diferente, atraente, divino ... KyraKally
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