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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

PARA OBSERVAR É PRECISO MEDITAR  ?
Observar é meditação, e isso não significa que para observar temos de meditar. Observar é uma das coisas mais difíceis que há. Observar, por exemplo, uma árvore, é dificílimo, porque temos ideias, imagens relativas à arvore e essas ideias — conhecimentos botânicos, etc. — nos impedem e olhar a árvore. 

Observar sua esposa ou marido é mais difícil ainda, porque você também tem uma imagem relativa de sua esposa e ela tem uma imagem a seu respeito, e a relação existente é entre essas duas imagens. É o que em geral se chama "relações": dois conjuntos de lembranças, de imagens, em relação entre si. Veja quanto isso é absurdo. As relações que em geral temos são uma coisa morta. 

Observar significa, com efeito, estar consciente da interferência do pensamento; perceber como a imagem que você tem da árvore, da pessoa, do que quer que seja, intervém no ato de olhar. Observe como você se esquece do objeto que está olhando — a árvore, a pessoa; e veja porque o pensamento interfere, porque você tem uma imagem de tal pessoa. Por que você tem uma imagem de quem quer que seja? Aqui estamos, você e eu, a nos olhar — eu, o orador, e você, o ouvinte. Você tem uma imagem relativa do orador, infelizmente; mas eu, não lhe conheço, nenhuma imagem tenho de você e, por conseguinte, posso olhá-lo. Mas não posso olhá-lo se digo para mim: Vou servir-me desse ouvinte para alcançar poder, posição, explorá-lo, tornar-me um homem famoso — você sabe o resto — de todas as futilidades que os entes humanos cultivam. 

Assim, observar significa: observar sem a interferência de nosso fundo. Entende? Todo o nosso ser, que está a olhar, é o nosso fundo — cristão, francês, intelectual. Pela observação, descobre-se esse fundo; e observá-lo sem nenhuma escolha, nenhuma inclinação, é uma disciplina tremenda — não a absurda disciplina de ajustamento, de imitação. Essa observação torna a mente sobremodo ativa, sobremodo sensível. Isso em seu todo é meditação. 

Não se entenda, pois, que "para observar é preciso meditar", porém, antes, que é quando observamos, que todas as coisas sucedem. Isso, em seu todo, é meditação, e não um certo método de controle do pensamento.



Krishnamurti



Krishnamurti afirma, com experiência, que "quando se consegue olhar para uma árvore, para uma nuvem, para a luz sobre a água, sem o observador, e também – o que é muito mais difícil, o que precisa de uma maior atenção – se você conseguir olhar para si mesmo sem a imagem, sem qualquer conclusão, porque a imagem, a conclusão, a opinião, o juízo, a bondade e a maldade, estão centrados em torno do observador, então você descobrirá que a mente, o cérebro, se torna extraordinariamente tranquilo. E essa tranquilidade não é uma coisa a ser cultivada; ela pode acontecer, ela acontece sim, se você estiver atento, se você for capaz de observar o tempo todo, observar os seus gestos, as suas palavras, os seus sentimentos, os movimentos do seu rosto e tudo o mais". Essa opinião, esse conceito que temos sobre tudo e todos nos retira a maravilhosa possibilidade de extasiar-nos com a existência. Vemos no outro aquilo que queremos ver, portanto, chegou o momento de olhar, apenas olhar com neutralidade. É tão bom quando começamos a experimentar isso. Toda a ótica muda... nós mudamos... o outro muda ... Tudo fica diferente, atraente, divino ... KyraKally

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