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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

OS HOMENS 
DE MENTE MUNDANA 


Características do Homem de Mente Mundana
 
Os homens são de duas classes: aqueles que o são só de nome (manush) e aqueles que estão despertos (man-hush). Somente os que têm sede de Deus pertencem à segunda classe; aqueles que estão enlouquecidos pela “luxúria e ouro” são homens comuns, homens só de nome.

Como uma mesma máscara pode ser levada por várias pessoas, assim há várias espécies de criaturas que são humanas só de aparência. Embora todas elas tenham forma humana, algumas são como tigres famintos, outras como ursos ferozes e há também os que são como astutas raposas ou venenosos répteis.
 
Como a peneira deixa passar os grãos finos e retém os de má qualidade, assim há pessoas malvadas que desprezam tudo o que é bom e só guardam o que é mau. Completamente oposta é a natureza das almas boas que, tal como as peneiras, jogam fora o mau e guardam o bom.

Há pessoas que não têm nada no mundo que possa prendê-las, no entanto, elas mesmas acreditam em apegos e ligações, pois não querem e nem apreciam a liberdade. Por exemplo, um homem que não tem família ou parentes para sustentar, geralmente cuida de um gato, um macaco ou um cachorro e assim “satisfaz sua sede de leite, bebendo só o soro”. Tal é a armadilha que o feitiço de maya estende aos homens.

O terneiro é alegre e cheio de vida. Corre e salta o dia todo e só fica quieto nos momentos em que vai mamar. Mas quando se amarra uma corda no seu pescoço, se acalma pouco a pouco e seu olhar se torna triste e abatido. Do mesmo modo, um rapaz que ainda não tenha se interessado por assuntos do mundo é alegre e despreocupado. Quando, por outro lado, é amarrado com o forte nó do matrimônio e começa a sentir a responsabilidade da família, toda sua alegria desaparece. Seu olhar reflete abatimento e ansiedade, seu rosto se torna pálido e profundas rugas sulcam sua fronte. Feliz daquele que pode ficar como uma criança durante toda a sua vida, livre como o ar da manhã, fresco como uma flor recém-aberta e puro como uma gota de orvalho.
 
Como um menino ou menina não tem nenhuma ideia do prazer conjugal, assim um homem mundano não pode compreender o êxtase da Divina comunhão.

Para um homem mundano não é fácil resistir a atração da “mulher e ouro” e dirigir a mente a Deus, embora seja constantemente golpeado pelas misérias e sofrimentos da vida.
 
Um homem mundano se conhece facilmente por sua aversão a tudo o que tenha sabor de religião. Não só lhe desgosta a música ou hinos sagrados, como também trata de dissuadir aos demais para que não os escutem. Um homem assim ri das orações e ridiculariza a sociedade religiosa e os homens piedosos.
 
Algumas vezes, em companhia dos devotos, vêm aqui alguns homens mundanos. As conversas religiosas não agradam estes homens. Tornam-se impacientes e intranquilos, se outras pessoas falam de Deus e da vida espiritual. Até fica-lhes difícil ficar quietos e de vez em quando dizem no ouvido de seu amigo: “Quando vamos embora? Pretende ficar aqui muito mais tempo?”. Seus amigos respondem: “Esperem um pouco, iremos dentro de pouco tempo”. No fim essas pessoas mundanas dizem, com desgosto: “Continuem vocês suas conversas. Nós vamos e lhe esperaremos no barco que nos levará a Calcutá”.

Quando alguém fala com um homem mundano, pode ver claramente que ele tem armazenado em seu coração, toda espécie de pensamentos e desejos mundanos, do mesmo modo que as pombas têm o estômago repleto de grãos.

O coração de um homem mundano é como o cabelo eriçado. Por mais que seja tratado, não consegue ficar liso. Do mesmo modo o coração de um malvado não se purifica facilmente.

O kamandalu (pote de casca de abóbora) de um sadhu (monge) pode ser levado aos quatro dhamas (lugares de peregrinação). Certamente ficará tão amargo como antes. Muito parecida é a natureza dos homens mundanos.

O oleiro faz as vasilhas com argila sem cozer, mas nada pode fazer com a argila que tenha sido cozida. Do mesmo modo, o coração que foi queimado no fogo dos desejos mundanos, não se influencia com sentimentos elevados, nem se pode dar-lhe uma bela forma.

Como a água não penetra em um bloco de pedra, assim aos ensinamentos religiosos não produzem nenhuma impressão nas almas ligadas.

Como um cravo não penetra em uma pedra mas entra facilmente na terra, assim os conselhos dos santos não produzem nenhum efeito na mente das pessoas mundanas, mas penetram profundamente no coração dos crentes.

A argila branda pode ser modelada facilmente, mas não ocorre o mesmo com a pedra dura. Do mesmo modo, a sabedoria Divina se imprime no coração de um devoto, mas não penetra na alma ligada.

Como a água debaixo de uma ponte entra por um lado e sai pelo outro, assim os conselhos religiosos recebidos pelas pessoas mundanas lhes entram por um ouvido e saem pelo outro, sem deixar nenhuma impressão.

Qual é a característica de um homem mundano? É parecido com o mangusto no cesto do domesticador. O domesticador de mangustos coloca um cesto no alto de uma parede para que sirva de ninho ao animal. Também amarra ao pescoço do mangusto uma corda com um peso suspensa na outra extremidade. A mangusto sai do ninho, desce pela parede e se move de um lado a outro, mas se cansa e volta correndo para esconder-se no cesto. Certamente, embora se sinta cômoda, não pode ficar ali muito tempo, porque o peso amarrado na corda o obriga a sair do ninho. Do mesmo modo, o homem mundano, forçado pelas misérias e sofrimentos da vida, eleva às vezes sua mente e se refugia em Deus, mas o peso morto do mundo e suas atrações logo o fazem voltar à vida terrena. 19. Os peixinhos, ao ver como a água passa pelos buracos das armadilhas de bambu, que são colocados nos arrozais, entram ali alegremente. Mas uma vez dentro não podem sair. De forma similar, os homens tolos caem nas redes do mundo, atraídos por seu falso brilho e como é mais fácil entrar do que renunciar, ficam presos permanentemente, assim como os peixinhos.
 
É difícil que o homem mundano desperte espiritualmente. Por quantos perigos se vê ameaçado! Quantos pesares ele passa em sua vida e quantas vezes é enganado! Mas apesar disso, não desperta. É como o camelo que tem particular atração pelos arbustos espinhosos, os quais não deixa de comer mesmo que fira sua boca. O homem mundano, sem dúvida, sofre muito, mas esquece em poucos dias. Talvez morra a esposa ou lhe tenha sido infiel, mas logo volta a casar-se. Ou talvez tenha perdido um filho e chora desconsoladamente, mas não passa muito tempo e tudo se apaga de sua memória. A mãe da criança morta, somente depois de uns dias sofrendo tão terrível pena, volta a ocupar-se de seu toucado e joias. Os pais se empobrecem para dar dote a suas filhas casadoiras, no entanto continuam tendo filhos. Também há pessoas que se arruinaram com litígios, no entanto não deixam de buscar novos pleitos. O homem mundano pode ser comparado, também, com a cobra que tenha caçado uma toupeira e não a pode engolir, nem abandonar e está engasgada com ela. Talvez chegue a se dar conta de que não há nada substancial no mundo, o qual é pura pele e caroço, como a fruta do “amrah” (fruta muito ácida), mas não pode esquecer e dedicar seu coração a Deus. Se alguém tirar dele tudo o que lhe pertence e o levar a um ambiente santo, perderá o ânimo e se sentirá desfalecer, como acontece com o verme do esterco, quando é colocado em um pote de arroz.

Ninguém guardará o leite fresco em uma vasilha de barro onde antes tivesse coalhada, por medo de que o leite talhe. Tal pote, tampouco, pode ser usado para cozinhar, porque pode romper-se sobre o fogo. Do mesmo modo, um guru experiente não conferirá seus valiosos preceitos espirituais a um homem mundano, pois sabe que este o interpretará mal e tratará de usá-lo para fins egoístas. Tampouco lhe pedirá nenhum serviço pessoal, pois sabe que poderá pensar que o preceptor está abusando dele.

Um homem não pode renunciar, embora o deseje, se for impedido pelos karmas (impulsos da vida passada) que estão frutificando na vida presente, ou as impressões que foram deixadas em sua mente pelas ações passadas. Certa vez um yogui disse a um rei que se sentasse para meditar a seu lado. O rei respondeu: “Não, isso não pode ser. Eu posso sentar-me perto de você, mas a sede de prazeres mundanos ficará tão viva como sempre, em minha mente. Como estou destinado a gozar, se ficar perto deste bosque, talvez um reino se levantará aqui. 
 

Os Ensinamentos de Sri Ramakrishna
 
http://misticismonaturalmn.blogspot.com 
 

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