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terça-feira, 9 de novembro de 2021

VIDA, CURA E PURIFICAÇÃO

A vida, a cura e a purificação, que em outros tempos eram simbolizadas pelo elemento água, devem ser hoje reencontradas nas correntes de energias sutis, espirituais.

A água pode abrigar em si a essência dessas energias, mas é bom saber que na realidade não é ela que vivifica, cura ou purifica. É a abertura e a aspiração do indivíduo que, ao fazê-lo contatar as energias que permeiam o elemento água, permitem que elas se fundam nas do seu próprio ser, elevando-o.

As energias que são atraídas por um instrumento de cura, seja esse instrumento a água ou qualquer outro, abrangem uma faixa bem ampla de vibrações, da qual cada um irá absorver o que lhe corresponde. Essa filtragem é feita pela consciência interna da pessoa, que permite penetrar em sua aura somente o impulso que lhe for adequado.

A água é símbolo universal da vida, no qual estão implícitas, entre outras, as qualidades de pureza, transparência e abundância.

É quando um indivíduo se desliga dos limites formais, quando vai mergulhando na sua própria essência, que ele passa a conhecer a Vida em cura, como uma realização suprema. Só então o conceito de cura, que normalmente se encontra na mente, vai sendo substituído pelo conhecimento de que a cura é a possibilidade de expressão de uma realidade interna, de um padrão de perfeição que temos dentro de nós. Sendo esse padrão saudável retirado dos níveis de escuridão e densidade, tendo a pessoa abdicado de lidar com as energias desses baixos níveis, ela passa a viver o cumprimento de uma Lei Maior, divina, e deixa de buscar realizações materiais. A pessoa pode ser então erguida do poço das dores, dos sofrimentos e das doenças para o trabalho com as energias da cura. A cura passa a ser vista como um ajuste daquilo que não exprime o padrão divino, como um processo que aproxima a criatura do arquétipo que lhe corresponde.

Momento a momento, do Cosmos chegam à Terra energias curativas. O homem deve contribuir para realizar a sua cura, onde quer que ele viva. Se puder tornar-se o que interiormente é em seu íntimo, irradiará essas energias, pois todo ser, consciência ou partícula vivente que realiza em si o que é destinado, torna-se curador.

O curador exprime em si a perfeição da vida. Sendo a energia de cura o que leva a vida à perfeição, como poderia ela ser veiculada por alguém que não a tem realizada em si mesmo?

No que se refere à cura nos níveis físicos, há uma chave para o reconhecimento da importância da ordem e da perfeita manutenção dos ambientes externos que espelhem a harmonia. Seguramente as pessoas que hoje buscam a cura interior já devem ter percebido esse fato.

Compreendendo o sentido da Criação, o homem poderá ter as chaves para harmonizar a si mesmo e tudo o que o circunda. Há muito foi dito que o macrocosmos reflete-se no microcosmos. Assim, o corpo do Cosmos reflete-se no corpo planetário e no corpo humano. Mas, para exprimir a harmonia de esferas cósmicas, o homem deve ter sua consciência na busca dos planos em que a vida cósmica se encontra.

Isso tudo é uma questão de abertura para o contato com o mundo interior, a alma, que pode levar ao despertar da consciência. E quando o processo de despertar interno tem início em um indivíduo, é necessário que ele siga as indicações que passa a receber desse mundo interior; caso contrário, ele não absorverá devidamente os ensinamentos que cada etapa do caminho lhe traz.
 
Purificação: um passo significativo em nossas vidas

Um grupo de 12 seres estava para dar um significativo passo espiritual, interior, e então Jesus convidou-os para um ato de unificação. Terminada a ceia, deitou água num recipiente e começou a lavar os pés de todos eles, enxugando-os com uma toalha com a qual estava cingido. Mas um dos 12 disse a Jesus: “Senhor, Tu, lavar-me os pés?!”. Jesus respondeu-lhe: “O que faço não compreendes agora, mas em breve o compreenderás”. Mesmo assim o discípulo não admitia que o Mestre lhe lavasse os pés. Diante disso, Jesus afirmou-lhe que, se seus pés não fossem lavados, ele, Pedro, não poderia partilhar da energia espiritual.

Esse conhecido episódio (Evangelho segundo João, 13:5-8) simbolizava uma etapa do processo de purificação, um ciclo de aperfeiçoamento humano, deixado por Jesus. O trabalho do lava-pés descrito na história bíblica representa o fechamento de um ciclo de libertação material. Se os laços que os homens têm com a vida material tiverem sido depurados em grau suficiente, o lava-pés terá sobre eles uma ação mais profunda.

Quando uma pessoa se purifica, o material que é dele eliminado fica sobre o seu caminho, do mesmo modo que ao banhar-se ele ainda pisa sobre a água que lavou o seu corpo. O lava-pés simboliza a purificação também dos caminhos e do que restou da parte já purificada.

Mesmo sabendo de todas as suas potencialidades latentes, o homem insiste em reter o que deve ser dissolvido. Se ele colaborasse em maior proporção com as forças divinas – que permanentemente o inspiram – muito maior liberação poderia se dar no planeta.

Muitos indivíduos, mesmo conscientes da Lei Maior, a Lei de Deus, colocam-se diante da Fonte de vida para usufruir das suas dádivas. Buscam curar seus males, mas querem continuar vivendo de acordo com padrões antigos que são, muitas vezes, as próprias causas desses males.

Os homens sempre receberam cuidados e atenção para que pudessem amadurecer, e então poderem atuar nos momentos de maior necessidade, como esses que hoje se vivem, coligados à própria Luz interna. A energia que Deus e as Hostes Angelicais dispensam ao processo de despertar dos indivíduos assemelha-se ao cuidado daquele que leva nas mãos algo delicadíssimo. Existem, portanto, as possibilidades para a vida interior tornar-se consciente e passar a ser delineadora dos rumos para a humanidade.

O amor que se dedica à vida da alma traz a energia que a Fonte desse amor inspira, transformando um arbusto seco em uma árvore florida. Se o homem conhecesse o poder de uma vida dedicada ao Divino, não se distrairia tanto com coisas passageiras.

Se houvessem mãos suficientes para executar o que a vida interior indica, as energias do sacrifício e amor que descem aos planos da vida material ficariam liberadas para tarefas mais amplas.
Quando um coração é puro, nele pode ressoar a voz da Sabedoria, com autenticidade. O facho de Luz que cruza mares de fogo e os campos da vida interior toca todas as partículas existentes; se há abertura, ele então penetra, ilumina, revela e faz criar.

Tantas vezes foi dito aos homens: “Sois deuses”. Mas os costumes da vida humana não os deixam entrever tudo o que está disponível para que realmente vivam como chispas do Fogo Divino. Não se trata de confiar naquilo que humanamente cada um dispõe, mas na onipotência do Espírito.
 
Como a Cura pode manifestar-se no Plano físico 
 
Estamos considerando, neste estudo, o nível físico-etérico como a primeira dimensão, o nível astral ou emocional como a segunda, o mental pensante como a terceira e o mental abstrato, onde temos consciência do eu superior, como a quarta. Além dessas, há a dimensão intuitiva, seguida da espiritual e de outras mais elevadas.

O que vale para o espírito é a intenção que o indivíduo tem de elevar-se, de transformar-se. Elevar-se quer dizer colocar a mente em motivos positivos, não egoístas. Deixar, aos poucos, de pensar no próprio bem e querer melhorar para tornar-se cada vez mais apto a ajudar o próximo. Essas são atitudes coerentes com a energia e com a vocação da alma. Assim se começa um processo de cura.

A presença das enfermidades é própria dos níveis de consciência físico-etérico, emocional e mental – não existe além deles. É nesses três planos vulneráveis que também está localizada a parte pessoal de nossa consciência. Se o homem polariza sua atenção apenas nesses níveis, torna-se ainda mais suscetível à condição doentia dos níveis terrestres.

Por longos períodos de tempo em que se desenvolvia a civilização terrestre atual, o homem habituou-se a identificar-se com os aspectos densos e pessoais do seu ser. Os eus superiores estiveram mais receptivos à realidade do mundo concreto do que ativos em outras direções.

Havendo concordância entre a vontade profunda de um indivíduo e a vontade superficial do seu consciente, a cura pode operar-se. Ao harmonizar a personalidade com a própria vida, que é sua essência interior, a cura é processada, e seus efeitos tornam-se visíveis nos planos físico-etérico, emocional e mental – seja instantaneamente, seja a médio ou longo prazo. Há exemplos nos quais o indivíduo é curado sem que perceba: a alegria interior passa a estar presente em seu olhar e a carga de ansiedade deixa de existir em sua mente e em seu coração.

Para que a cura interior ocorra, nem sempre são necessários intermediários aqui na Terra. Essencial é que construamos voluntariamente uma ponte de comunicação entre nosso eu consciente e o núcleo de amor-sabedoria que habita em nós. Essa energia, essência de cada ser, encontra-se no vórtice das forças evolutivas da quarta dimensão e é representada em cada um de nós pelo eu superior.

O cultivo da alegria chamará o eu superior do homem a uma atividade positiva, que poderá manifestar-se inclusive no plano físico e nos fatos concretos de sua vida, porque encontra as vias abertas para sua expressão. Curar verdadeiramente é permitir que a alma flua sem impedimentos através dos corpos da personalidade. Essa cura interior dá também à pessoa a oportunidade de servir com altruísmo ao mundo. A doação que ela faz de si própria é a melhor forma para as energias universais começarem a nutrir o seu ser e para emergirem à superfície energias profundas e interiores.

Tomar consciência de que existe uma vida totalmente saudável no nível das almas, e saber que essa vida pode refletir-se na Terra, é abrir a porta para a energia de cura. O que pode acontecer em seguida é imprevisível.
 
Para parar de sofrer e evoluir é preciso ter gratidão e humildade
 
Sem gratidão, o homem sequer enxerga as dádivas que a vida lhe traz; não compreende a mensagem que os raios do sol buscam transmitir-lhe quando douram o horizonte, tampouco entende o canto dos pássaros, chamando-o a compartilhar da alegria que o universo concede a todos os seres. Sente o perfume de uma flor, mas não penetra na essência do aroma oriundo dos jardins dos mundos internos.

Sem gratidão, mesmo que ele viva internamente em um reino superior, vê apenas elementos materiais à sua volta. Estando imerso na plenitude da existência, limita-se à sua temporalidade. Porém, como mostrar as cores àquele que não as pode ver? O milagre da vida interior é estar presente mesmo enquanto o mundo externo afoga-se em turbilhões de conflitos. Ela prevalece e reafirma-se como infinita e inextinguível e, sem a sua chispa a acalentar a matéria, nada existiria. Ainda que imperceptível, flameja no âmago de todas as coisas.

A ação desarmônica dos homens não faz desaparecer essa vida interior; nuvens escuras não podem ocultá-la nem a contínua rejeição de sua presença pode fazê-la desistir de doar-se, pois é a única verdade, o único porquê, o único sentido. É poder quando os homens fraquejam; é suavidade quando lhes falta doçura; é sabedoria quando ignoram como conduzir-se; é amor quando tendem a ceder à ira; é luz quando se encontram nas trevas. Na vida interior estão todas as qualidades e tesouros; nela tudo se inicia e a ela tudo se destina.

Sem que a consciência passe pelo estado de “sentir-se completamente abandonada”, não poderá despojar-se totalmente de sua bagagem e abraçar de maneira incondicional o que a espera. Seja qual for a tarefa concedida a um indivíduo no Plano Evolutivo, ele não conseguirá realizá-la se não se entregar à Luz interna. Devido aos vícios e apegos próprios dos corpos terrestres, tal estado de despojamento os assusta.

Terá de encontrar em si mesmo um solo firme para prosseguir sua caminhada e saber que, ao assumir integralmente a tarefa que lhe foi designada, liberará a Hierarquia para trabalhos maiores.

O ser humano não vem ao mundo para permanecer indefinidamente imaturo. O amadurecimento interno deve emergir como fruto de um processo conscientemente assumido e a necessidade de confirmações externas deve ser substituída por uma fé inabalável. Chegando à superação das etapas materiais, vê que todo desenvolvimento que ele pensou haver conseguido nada mais foi que um treino para as fases que se seguiriam. Tem, então, que se deixar permear por sua energia interior sem desejar apoios e, em total disponibilidade, assumir o que do Alto lhe é indicado.

No caminho evolutivo uma porta não se abre se quem está diante dela não tem condições de transpô-la. Diz a lei espiritual que não se deveria, prematuramente, colocar um ser diante do que ele não pode ainda assumir. Assim, ele inicia sua formação em níveis internos, nos quais inexistem reações negativas e, desse modo, fortalece suas bases para expressar-se nos planos materiais, quando chegar o momento.

Quem julga saber não está preparado para a instrução interna, pois aos seus ouvidos as palavras parecerão vazias de sentido. Tal indivíduo escuta mas não entende, pois está cheio de si, cheio de pretensões. Mesmo que lhe seja mostrada a luz ele não a enxergará, pois seus olhos veem apenas as cores que ele mesmo projeta. Desse, o sábio se compadece; diante desse, se cala.

 
José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br

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