O verdadeiro êxito na vida consiste num problema de construção de destinos, um problema complexo de longo alcance, que só se pode resolver conhecendo o funcionamento das leis profundas que regem a vida, e a posição de cada um dentro dessas leis, ou seja, o plano duma vida enquadrada no plano geral do universo, em função de Deus. Como se pode chegar a uma orientação completa do caso particular, se não se conhece a Lei geral? A maioria não é dona dos acontecimentos da sua vida, mas é serva dirigida por eles.
A vida é um jogo vasto e complexo. Fala-se de destino e da sua fatalidade. Mas, os construtores desse destino somos nós mesmos e depois ficamos sujeitos à sua fatalidade. Da mesma forma que o passado representa a semeadura do presente, o presente representa a semeadura dó futuro. A semeadura é livre, mas a colheita obrigatória. Assim, somos ao mesmo tempo livres e dependentes. Temos o poder de nos arruinar ou de nos salvar, como quisermos, mas não podemos alterar a Lei, e a nossa ruína ou salvação fica fatalmente sujeita às normas da Lei de Deus. Ela regula os movimentos de tudo que existe e do homem também. Conhecê-la quer dizer conhecer as regras do jogo da vida, isto é, a ciência da própria conduta, a arte de evitar os movimentos errados e fazer os certos, para fugir do dano próprio e atingir o melhor bem-estar possível.
A coisa mais importante na vida, a base de tudo, é a orientação. E a maioria vive correndo atrás das ilusões do momento, desorientada e descontrolada. Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta é uma bem estranha posição para o mundo, que ainda obedece à lei animal do mais forte. Seguir a vontade de Deus não quer dizer perder a própria e tomar-se autômato. Essa obediência é um estado de abandono em Deus, em absoluta confiança, como o filho nos braços da mãe. Mas, esse abandono é ativo e dinâmico, como o de quem vai atrás de um guia sábio e bom que o defende e lhe garante o êxito, desde que o seguidor queira obedecer com boa vontade, sinceridade e fidelidade.
Este é um problema absolutamente individual, de escolha e resultados individuais. Se soubermos aprender esta arte de viver em harmonia com Deus, a nossa existência se deslocará do plano da injustiça e da força em que vive o homem, ao plano da justiça e da bondade em que tudo funciona com princípios diferentes. Surge então uma coisa que o mundo não acredita seja possível: para chegar a possuir o que precisamos e para alcançar sucesso não é necessário força ou astúcia. Basta tê-lo merecido, como a justiça o exige.
O Destino de Cada Um
Duas mulheres desciam pelo caminho carregando lenha na cabeça. Uma era idosa e a outra bem jovem, e os fardos que elas carregavam pareciam bastante pesados. Cada uma equilibrava sobre a cabeça, protegida por um rolo de tecido, um longo fardo de galhos secos amarrados com cipós verdes, e o mantinha no lugar com a ajuda de uma das mãos. Seus corpos balançavam livremente enquanto elas desciam o morro com passos ligeiros. Elas nada tinham nos pés, embora o caminho fosse áspero. O pé parecia encontrar seu caminho, pois as mulheres não olhavam para baixo; elas mantinham suas cabeças eretas, os olhos injetados e distantes. Eram muito magras, com as costelas a mostra, e o cabelo da mulher mais velha estava embaraçado e sujo. O cabelo da garota deve ter sido penteado e untado recentemente, porque estava ainda um pouco limpo, com fios reluzentes; mas ela também estava cansada. E exalava exaustão. Não devia fazer muito tempo que ela brincava e cantava com outras crianças, mas isso havia acabado. Agora sua vida era juntar madeira nos morros, e seria até ela morrer, com um intervalo de vez em quando, com a chegada de um filho. Fomos descendo o caminho. A cidadezinha ficava várias milhas distante, e lá elas venderiam seus fardos por uma ninharia, só para começar amanhã outra vez. Elas conversavam, com longos intervalos de silêncio. De repente a mais jovem disse para a mãe que estava com fome, e a mãe respondeu que elas haviam nascido com fome, vivido com fome e morreriam com fome; esse era o destino delas. Era a afirmação de um fato; na voz dela não havia reprovação, nem raiva, nem esperança. Continuamos descendo o caminho pedregoso. Não havia observador ouvindo, penalizado, e andando atrás delas. Ele não era parte delas por amor e pena; ele era elas. Elas não eram os estranhos que ele havia encontrado na subida, elas eram dele; eram dele as mãos que carregavam os fardos; e o suor, a exaustão, o cheiro, a fome, não eram delas, para serem lamentados e compartilhados. O tempo e o espaço acabaram. Não havia pensamentos em nossas cabeças, muito cansadas para pensar; e se pensamos, era para vender a madeira, comer, descansar e começar outra vez. O pé no caminho pedregoso nunca se feria nem o sol sobre a cabeça. Havia apenas dois de nós descendo aquele morro costumeiro, passando pelo poço onde bebemos como sempre e cruzando o leito seco do córrego que lembrávamos.
Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o “supremo princípio”, “o maior ideal”, e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto – pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.
Liberdade de Escolha
És livre para imprimir na tua existência o padrão de felicidade ou de aflição com o qual desejes conviver. A liberdade é lei da vida, que faz parte do concerto da harmonia universal.
Os imperativos inamovíveis e deterministas são vida e morte, no que diz respeito aos equipamentos orgânicos, mesmo assim, sob o fatalismo de incessantes transformações. Submetido à ordem da ação, que desencadeia reações correspondentes, és o que de ti próprio faças, movimentando-te no rumo que eleges.
Há pessoas que preferem a queixa e a lamentação, armazenando o pessimismo em que se realizam. Negociam o carinho que pretendem receber com as altas quotas de padecimentos que criam psiquicamente.
Ao lado de outras, que chantageiam os afetos, mediante a adoção de sofrimentos irreais, estabelecem como metas a conquista de atenções e carícias que lhes são sempre insuficientes, não se dando conta que, dessa forma, farão secar a fonte generosa que as oferece.
Ninguém se sente bem ao lado de criaturas que elegem o infortúnio como falsa solução para os seus conflitos existenciais. Essa coação emocional termina por produzir amizades falsas, situações constrangedoras, mais insegurança.
Podes e deves ser feliz. Esta é a tua liberdade de escolha.
Se te encontras atrelado ao carro das aflições, porfia construindo o bem e te libertarás. A dificuldade de agora é o efeito da insensatez do passado. A vida renova-se a cada momento. Situações funestas alteram-se para melhor, à semelhança de paisagens ensombradas que rapidamente vestem-se de Sol.
Não dês trégua à desdita, à ociosidade, aos queixumes. És senhor do teu destino, e ele tem para ti, como ponto de encontro, o infinito. Quem se desvaloriza e se desmerece e se invalida, fica na retaguarda.
É necessário que te envolvas com o programa divino. Todo aquele que se não envolve positivamente, nunca se desenvolve. Se preferires sofrer, terás liberdade para a experiência até o momento em que te transfiras para a opção do bem-estar. Desse modo, não transformes incidentes de pequena monta, coisas e ocorrências corriqueiras, em tragédias.
Ninguém tem o destino do sofrimento. Ele é resultado da ação negativa, jamais a causa. Faze uma avaliação honesta da tua existência, sem consciência de culpa, sem pieguismo desculpista, sem coerção de qualquer natureza, e logo depois desperta para o que deves produzir de bom, de útil, de construtivo empenhando-te na realização da tua liberdade de ser feliz.
A presença divina apoia-me nos processos de crescimento e renovação. Cada momento constitui-me oportunidade nova para avançar ou corrigir erros. As transformações que a vida opera são fases de desenvolvimento. A poda renova; a dor desperta; a provação educa; a alteração de comportamento propõe esforço.
Estou fadado à felicidade, que lograrei mediante renovação e luta, pois que sou filho de Deus.
Joanna de Ângelis
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