OS SETE PRINCÍPIOS DA CONSCIÊNCIA - III
H.P.B.
dividiu os sete princípios em dois grupos, simbolizados por duas
figuras geométricas: o quaternário inferior e a tríade superior. Vejamos
a seguir alguns poucos dados sobre cada um deles.
1)
O primeiro princípio, Sthula-Sharira ou Rupa em sânscrito, é o corpo
físico. Durante a vida, ele recebe os efeitos do tipo de funcionamento
de todos os outros princípios, e é o veículo e instrumento deles. A
regra geral é que quanto mais ativos os princípios superiores, mais
saúde e mais longevidade terá o corpo físico. As numerosas exceções
correm por conta dos desafios cármicos (individuais ou coletivos) que
são enfrentados no discipulado. Temos numerosos exemplos disso na vida
de místicos e pensadores de todas as eras, incluindo a vida de H.P.B.
(cujo trabalho nos planos internos causava limitações fisiológicas) e a
curta existência de Subba Row, um discípulo avançado dos Mahatmas. Uma
vida abstrata, dedicada aos níveis elevados de consciência, também pode
causar uma vida biologicamente curta através do autossacrifício ou de
uma forte indiferença pelas coisas do mundo externo, como foi o caso do
filósofo Baruch Spinoza. De um modo geral, porém, a boa saúde da alma é
um fator que tende a criar uma boa saúde do corpo. Os gregos tinham
como lema: “Mente saudável em corpo saudável”. [8]
O Sthula-sharira
também pode ser visto como uma página, na qual vão sendo impressos ao
longo da vida as ações dos seis princípios superiores a ele, de um lado,
e as influências do meio externo, de outro lado.
Sthula-Sharira
é o ponto de encontro do meio físico com o meio sutil, e recebe as
influências de ambos. Por meio dele, as influências externas alcançam os
princípios sutis da consciência, e, por outro lado, as ações sutis do
indivíduo alcançam o meio externo.
Não é Sthula-Sharira, pois, o princípio que luta de fato contra as influências benéficas da tríade superior ou alma imortal. É Kama que divide e disputa com a tríade superior, Atma-Buddhi-Manas, a influência sobre Sthula-Sharira.
O corpo físico em si é um templo; mas a ignorância atrai mercadores
para o templo, segundo a imagem do Novo Testamento, e eles devem ser
expulsados. Os mercadores simbolizam a preguiça, os desejos egocêntricos
e as indulgências criadas pelo quarto princípio, Kama, enquanto este princípio não é libertado dos efeitos da ignorância espiritual.
2) O segundo princípio é Prana,
o princípio vital. Ele é a força vital indispensável para os quatro
princípios inferiores. Ao longo da aprendizagem da alma, a crescente
pureza de Kama, o quarto princípio, é essencial para que as energias vitais de Prana, o segundo, sejam usadas corretamente.
3) O terceiro princípio, Linga-Sharira, é o modelo ou a forma astral. O Linga-Sharira,
segundo Helena Blavatsky escreveu em “A Chave da Teosofia” e outras
obras, é o modelo, o duplo, o fantasma, o aspecto forma. Quando
Blavatsky usa o termo astral, está pensando nestes termos. Linga-Sharira é o reservatório de vida para o corpo, é o meio concreto pelo qual Prana vitaliza o corpo físico. É a estrutura sutil, carmicamente determinada, que capta Prana e o conduz para o corpo físico. Um dos seus aspectos é o moderno “patrimônio genético”. Mas ele é também os skandhas, os registros cármicos de vidas passadas e de etapas anteriores da vida atual.
4) O quarto princípio, Kama,
é a sede das emoções, desejos e paixões. É o centro do homem animal. No
quarto e no quinto princípios está a linha de demarcação entre o homem
mortal e o homem imortal. Em “A Chave da Teosofia”, HPB qualifica o
quarto princípio como Kama-Rupa. Rupa significa corpo, forma. Mas HPB usou este termo apenas em relação à situação posterior à morte física, quando, de fato, Kama adota uma forma. Seria um erro chamar o quarto princípio humano de Kama-Rupa.
Ele só se torna Rupa, corpo ou forma, depois da morte. Ele representa,
isto sim, os elementos kâmicos do ser humano; as emoções de ordem
pessoal.
O quarto princípio torna-se puro através da lealdade à alma imortal.
5) O quinto princípio, Manas, é a mente, a inteligência, um princípio dual em suas funções. H.P.B. afirma que a luz da mente liga a mônada imortal (Atma-Buddhi) ao homem mortal. Ela acrescenta:
“O estado futuro e o destino cármico do homem dependem da gravitação de manas para baixo (em direção a Kama-Rupa, centro das paixões animais) ou para cima, em direção a Buddhi, o Ego espiritual. Neste último caso, a consciência mais elevada das aspirações espirituais individuais da mente (manas), assimilando-se a Buddhi, é absorvida por Buddhi e forma o Ego, que passa ao estado de felicidade devachânica”. [9]
Neste
trecho H.P.B. menciona o fato de que, no pós-morte, há o surgimento de
um novo “eu” ou ego, depois que a consciência superior vence a
consciência inferior e se capacita para entrar no local bem-aventurado
que é o Devachan (literalmente, “local divino”).
Este processo é descrito na carta 68 de “Cartas dos Mahatmas” [10]. A carta aborda o Devachan, o estágio abençoado que existe no longo intervalo entre duas vidas físicas.
Porém, o fato de Manas gravitar mais em função de Buddhi ou de Kama não é decisivo apenas para o que ocorrerá depois da morte física. Ele é decisivo, também, para a qualidade da vida de cada cidadão, e cada coletividade, aqui e agora.
O que fazer, então, para que nossa vida possa gravitar em torno do eu superior e da consciência búdica?
H.P.B.
considerava que a opção consciente entre a vontade nobre e firme e o
desejo pessoal e oscilante é um fator decisivo para a vida de Manas, e
também para a formação do carma presente e futuro de todo indivíduo.
6) O sexto princípio, Buddhi, é a alma espiritual. É o veículo ou instrumento de Atma,
o espírito universal puro. Buddhi é o sentimento de que estamos em
unidade interior com o Universo. É a fonte da intuição espiritual. Um
detalhe: em uma das cartas dos Mahatmas [11], um Mestre
estabelece uma relação entre o sentimento de remorso e o princípio
búdico. Buddhi está ligado, portanto, à nossa “voz da consciência”, que
às vezes aprova, e outras vezes reprova o que fazemos durante o uso do
nosso livre arbítrio. Ouvir esta consciência é um exercício possível e
útil para todos.
O despertar de Buddhi exige (e estimula) uma coerência crescente entre o que se sente, o que se pensa, se fala e se faz.
Esta harmonia fundamental nem sempre é óbvia ou fácil de ver. Ela
purifica o quaternário e faz com que a luz de Atma-Buddhi possa brilhar
verticalmente com menos distorção, ao descer do nível superior para as
esferas densas da vida.
7)
O sétimo princípio, Atma, é o espírito. É o verdadeiro eu. É uno com o
absoluto, e por isso não é exatamente um princípio humano, exceto
quando projetado por Buddhi, seu veículo, em direção a dimensões mais
limitadas. Vale a pena registrar que nas Cartas um Mahatma cita Platão e Pitágoras para explicar que, na verdade, Atma e Buddhi não estão no interior do ser humano:
“…Nem Atma nem Buddhi jamais estiveram dentro
do homem – um pequeno axioma metafísico que você pode estudar com
proveito em Plutarco e Anaxágoras. (…) Plutarco ensinava, com base em
Platão e Pitágoras, que o demonium [12] ou (…) nous sempre permanecia fora do corpo; que ele flutuava ou inspirava, digamos assim, a extremidade da cabeça humana; é apenas a opinião vulgar que sustenta que ele está dentro.” [13]
Entre
a tríade imortal e o quaternário mortal, funciona Antahkarana, a ponte
que liga Buddhi-Manas a Kama-Manas. Os sete princípios da consciência
humana são a escada de Jacó que liga céu (Atma) e terra (Sthula-Sharira,
corpo físico). A alegoria da escada para o céu está em Gênesis,
28:10-12.
Em “A Chave da Teosofia” [14], H.P.B. relaciona os sete princípios do homem com a constituição setenária do nosso planeta. E acrescenta:
“A
nossa filosofia nos ensina que, assim como há sete forças fundamentais
na natureza e sete planos de existência, há também sete estados de
consciência nos quais o homem pode viver, pensar, lembrar-se e ter o seu
ser.”
Carlos Cardoso Aveline
NOTAS:
[8]
Sobre o corpo físico, veja o capítulo 14, “O Corpo Inseparável da
Alma”, na obra “Três Caminhos Para a Paz Interior”, Carlos Cardoso
Aveline, Ed. Teosófica, Brasília, 2002, pp. 113-126.
[9]
“A Chave da Teosofia”, Capítulo VI, subtítulo “A Natureza Setenária do
Homem”. Na edição da Editora Três, Biblioteca Planeta, veja o gráfico
da p. 100. O livro está disponível nos websites associados. O trecho foi revisado conforme o original em inglês, de modo que sua transcrição não é completamente literal.
[10]
“Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, obra citada, volume I.
Trata-se da carta 16 nas edições não-cronológicas (em inglês) das
“Cartas dos Mahatmas”.
[11] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, obra citada, veja o volume II, Carta 85-B, p. 46.
[12]
“Demônio”, originalmente, significa “espírito” em grego. Foi a
ortodoxia cristã que, para melhor dominar os povos “pagãos”, deu
significado negativo à palavra, o que serviu de justificativa para
perseguições.
[13] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, obra citada, volume I, carta 72.
[14] “A Chave da Teosofia”, capítulo VI, subtítulo “A Constituição Setenária de Nosso Planeta”. Clique para ver o livro em um dos websites da Loja Independente de Teosofistas.
https://www.filosofiaesoterica.com
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