OS SETE PRINCÍPIOS DA CONSCIÊNCIA - I
É impossível colocar chá numa xícara que está repleta com outra substância.Se um estudante quer aprender teosofia, terá de esvaziar a si mesmo e a sua xícara. Deve renunciar a temas pessoais e sentimentos sobre assuntos mundanos, esquecendo questões materiais. E mesmo isso não basta: é preciso força de vontade e um agudo discernimento
À
medida que o peregrino expande sua visão da vida, percebe que o caminho
espiritual está rodeado de luzes falsas e de fogos de artifício
brilhantes, que não levam a lugar algum. Ele deve identificar e deixar
de lado o caminho fácil da pseudoteosofia, dos ritualismos, das
canalizações e outras formas de autoengano.
A
dura decisão de abandonar as ilusões permite ao estudante aumentar o
seu grau de bom senso e autoconfiança, e tomar medidas práticas para
compreender e vivenciar o ensinamento da filosofia esotérica moderna.
Como, exatamente, isto pode ser feito?
Em
1891, falando a um dos seus alunos poucas semanas antes de deixar a
vida física, H. P. Blavatsky deu indicações valiosas sobre esta questão.
Ela disse que, “não importa o que se estude na Doutrina Secreta”, a
mente deve manter com firmeza quatro percepções centrais “como base da
sua ideação”.
A primeira
percepção ou ideia é a da unidade fundamental de toda existência. Esta
união interior inclui e preserva a diversidade e os contrastes da
natureza externa.
A segunda
ideia a ter sempre em mente, segundo H.P.B., é a de que não existe
matéria morta no universo. Nada é inerte, tudo evolui. Cada átomo é uma
vida.
A terceira e a quarta percepções estão diretamente ligadas ao tema dos sete princípios da consciência humana. HPB acrescentou:
“A
terceira ideia a manter presente é a de que o Homem é o MICROCOSMO.
Assim sendo, todas as Hierarquias dos Céus existem nele. Porém na
verdade não existe nem Macrocosmo nem Microcosmo, mas UMA SÓ EXISTÊNCIA.
O grande e o pequeno só existem como tais quando vistos por uma
consciência limitada. A quarta e última ideia é aquela expressa no
Grande Axioma Hermético que, na verdade, resume e sintetiza todas as
outras. Como o Interno, assim é o Externo; como é acima, assim é abaixo,
só existe UMA VIDA E UMA LEI e o que atua é o ÚNICO. Nada é Interno,
nada é Externo; nada é GRANDE, nada é Pequeno; nada é Alto, nada é Baixo
na Economia Divina.” [1]
Este
é o grande motivo para estudar o tema dos sete princípios da
consciência, um dos mais importantes de toda a filosofia esotérica. O
assunto contém a chave pela qual se chega ao verdadeiro
conhecimento oculto, ou essencial. O homem é o microcosmo. Por isso ele
tem de conhecer a si mesmo (seus sete princípios) para poder
conhecer o mundo a seu redor. E a recíproca é verdadeira: ele também
precisa estudar o cosmo para conhecer a si mesmo.
Os
pitagóricos da Grécia antiga estudavam a “música” cósmica das esferas
ou planetas para conhecerem-se a si mesmos, porque o grande é como o
pequeno, e vice-versa. E por que motivo os primeiros teosofistas
ecléticos, alunos de Amônio Sacas em Alexandria, no século três da nossa
era, trabalhavam com o princípio da analogia em sua busca da verdade
universal? Porque só há uma EXISTÊNCIA UNA, cujas manifestações externas
são diversas.
Por essa mesma razão prática,
a obra “A Doutrina Secreta” dá uma grande atenção ao funcionamento da
vida em sua dimensão cósmica. Alguns leitores reclamam, afirmando que
grande parte de “A Doutrina Secreta” é “muito abstrata”. E, sem dúvida,
estão corretos. Mas os Mestres de Sabedoria têm fortes razões para dizer
que o estudante precisa adotar um ponto de vista abstrato, para
compreender a origem do universo e a longa jornada da alma humana.
Não há nada mais prático do que o estudo dos processos cósmicos, porque ele desperta Buddhi-Manas no estudante, ou seja, une o seu quinto princípio, mental, ao seu sexto princípio, intuitivo.
Este é o passo evolutivo que se espera da humanidade na etapa atual.
Cabe
registrar que o conceito blavatskiano de “raça” só se relaciona
secundariamente com o corpo físico. Esotericamente, a ideia de raça não
depende da cor da pele; e tampouco há raças “melhores” ou “piores” que
outras. A palavra “raça” diz respeito a um protótipo fundamentalmente
psicoespiritual (embora também físico) do ser humano. Ao mesmo tempo,
refere-se a um período de tempo quase inimaginavelmente longo e a uma
determinada etapa da evolução geológica do planeta. Basta dizer que as
duas primeiras raças não eram plenamente físicas e habitaram o planeta
quando ele tinha características geológicas muito diferentes das atuais.
Neste contexto, as pequenas diferenças “raciais” entre os povos da
humanidade atual são desprezíveis. A convivência harmoniosa dos seres
humanos, independentemente de cor da pele, classe social, sexo,
afiliação religiosa ou ideologia política, é o primeiro objetivo do
movimento universalista e esotérico. Os estudantes dessa filosofia
devem trabalhar pela fraternidade e pela felicidade de todos os seres.
É
verdade que, durante o século 20, o conceito de raça foi distorcido e
utilizado para justificar antissemitismo e outros crimes contra a
humanidade. Mas a filosofia esotérica não pode abandonar o conceito
milenar e fundamental de raça-raiz apenas porque, em determinado
momento, ele foi distorcido por líderes políticos criminosos. As
distorções passam, e a verdade fica. O mau uso eventual de conceitos
filosóficos deve estimular-nos a estar atentos para perceber o
significado que cada um dá às palavras, e para o contexto vivo em que
elas são empregadas.
No
tema das raças, como em tantos outros, a simplificação excessiva da
filosofia esotérica também traz sérios perigos. H.P.B. evitou a redução
dos seus ensinamentos a um conjunto de ideias demasiado fáceis. A
intenção era impedir, ou tornar menos provável, que estudantes
inexperientes pudessem memorizar alguns conceitos e iludir-se pensando
que conheciam a ciência esotérica.
A
civilização moderna – inspirada e dominada pela cultura europeia e
pelos elementos culturais associados a ela, espalhados pelos vários
continentes – está situada na segunda metade da quinta raça-raiz, mais
precisamente na quinta sub-raça da quinta raça-raiz. Ela alcançou o
ponto em que Manas, a mente, passa a receber cada vez com mais força a luz intuitiva de Buddhi, preparando o surgimento da sexta sub-raça da quinta raça-raiz.
Este despertar ocorre através de indivíduos e setores sociais pioneiros
e inicialmente pouco numerosos. Como efeito colateral inevitável, esta
nova energia parece tirar de foco e desarticular os mecanismos
anteriores e convencionais de produção de sentimento ético. Enquanto
pequenos setores pioneiros despertam, outros setores sociais –
inicialmente majoritários – parecem perder todo senso ético e qualquer
inspiração vinda dos planos superiores de consciência. Assim, a crise da
transição se aprofunda. Mas é por causa da nova energia inspiradora que
as velhas estruturas tremem.
Há
sete raças-raízes. Cada uma delas tem, de acordo com H.P.B., sete
sub-raças. Ao longo de toda a quinta raça-raiz, o foco evolutivo
trabalha predominantemente o quinto princípio, Manas, assim como no conjunto da sexta raça-raiz o foco estará especialmente concentrado no sexto princípio, Buddhi.
O
mesmo processo se desenvolve, em escala menor, nas sete sub-raças. Cada
uma delas se dedica a um princípio especialmente. Na quarta sub-raça da
quinta raça, por exemplo, houve um relativo predomínio do quarto
princípio, do desejo (Kama). Na atual quinta sub-raça da quinta raça, temos um relativo predomínio do princípio mental (Manas).
Na sexta sub-raça da nossa quinta raça-raiz, haverá um despertar do
sexto princípio, o princípio búdico, centro e sede da alma espiritual.
Estamos vivendo o longo processo do seu surgimento.
A
relação direta – numérica e numerológica – entre os sete princípios do
homem tal como aparecem na teosofia original e as sete etapas sucessivas
da evolução da humanidade é um forte motivo para que se mantenha o
esquema original do ensinamento. Os sete princípios são a ponte entre o
microcosmo (o ser humano) e o macrocosmo (o planeta e o universo).
A
vida cósmica (e humana) é como um carrossel que gira dentro de um
carrossel, e o segundo carrossel gira dentro de outro carrossel ainda
maior, e assim sucessivamente. Em termos de realidades espaciais, cada
átomo é uma miniatura do sistema solar, e cada sistema solar é uma
miniatura da Via Láctea.
Na
escala de tempo, o segundo faz parte do minuto, o minuto faz parte da
hora, a hora faz parte do dia, o dia faz parte do ano, o ano faz parte
do século, e o século é uma pequena partícula de grandes eras cósmicas.
Também a evolução das almas está perfeitamente sincronizada com os
ciclos maiores e menores.
O espaço-tempo universal, abstrato e absoluto – o círculo ilimitado que tudo contém – é chamado de Parabrahman
em filosofia esotérica. A chave para perceber estas realidades
vivencialmente – através da lei da analogia – está nos sete princípios
da consciência humana.
As
rodas grandes e pequenas dos ciclos da vida universal encaixam umas nas
outras. Assim se dá a relação entre microcosmo e macrocosmo. A
enumeração dos sete princípios permite o estudo da cosmologia e da
natureza oculta do ser humano ensinadas nas “Cartas dos Mahatmas” e em
“A Doutrina Secreta”. O esquema didático original do ensinamento
teosófico nos oferece uma visão sistêmica da vida, capaz de unir
coerentemente a parte e o todo. Ele mostra de que modo a parte contém o
todo, e de que maneira o ser humano é um resumo coerente do universo.
O
tema das Raças, Rondas e Cadeias coloca desafios lógicos à nossa
compreensão e amplia a nossa capacidade de perceber intuitivamente o
funcionamento do cosmo.
Carlos Cardoso Aveline
NOTAS:
[1]
“Fundamentos da Filosofia Esotérica”, H. P. Blavatsky, org. Ianthe
Hoskins, Editora Teosófica, Brasília, 90 pp., ver pp. 77 e seguintes.
https://www.filosofiaesoterica.com
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