Translate

domingo, 7 de novembro de 2021

 OS SETE PRINCÍPIOS DA CONSCIÊNCIA - I

Uma Chave para Compreender a Filosofia Esotérica

É impossível colocar chá numa xícara que está repleta com outra substância.Se um estudante quer aprender teosofia, terá de esvaziar a si mesmo e a sua xícara. Deve renunciar a temas pessoais e sentimentos sobre assuntos mundanos, esquecendo questões materiais. E mesmo isso não basta: é preciso força de vontade e um agudo discernimento

 À medida que o peregrino expande sua visão da vida, percebe que o caminho espiritual está rodeado de luzes falsas e de fogos de artifício brilhantes, que não levam a lugar algum. Ele deve identificar e deixar de lado o caminho fácil da pseudoteosofia, dos ritualismos, das canalizações e outras formas de autoengano.
 
A dura decisão de abandonar as ilusões permite ao estudante aumentar o seu grau de bom senso e autoconfiança, e  tomar medidas práticas para compreender e vivenciar o  ensinamento da filosofia esotérica moderna.
 
Como, exatamente, isto pode ser feito?
 
Em 1891, falando a um dos seus alunos poucas semanas antes de deixar a vida física, H. P. Blavatsky deu indicações valiosas sobre esta questão. Ela disse que, “não importa o que se estude na Doutrina Secreta”, a mente deve manter com firmeza  quatro percepções centrais “como base da sua ideação”.
 
A primeira percepção ou ideia é a da unidade fundamental de toda existência. Esta união interior inclui e preserva a diversidade e os contrastes da natureza externa.  
 
A segunda ideia a ter sempre em mente, segundo H.P.B., é a de que não existe matéria morta no universo. Nada é inerte, tudo evolui. Cada átomo é uma vida.
 
A terceira e a quarta percepções estão diretamente ligadas ao tema dos sete princípios da consciência humana. HPB acrescentou:
 
“A terceira ideia a manter presente é a de que o Homem é o MICROCOSMO. Assim sendo, todas as Hierarquias dos Céus existem nele. Porém na verdade não existe nem Macrocosmo nem Microcosmo, mas UMA SÓ EXISTÊNCIA. O grande e o pequeno só existem como tais quando vistos por uma consciência limitada. A quarta e última ideia é aquela expressa no Grande Axioma Hermético que, na verdade, resume e sintetiza todas as outras. Como o Interno, assim é o Externo; como é acima, assim é abaixo, só existe UMA VIDA E UMA LEI e o que atua é o ÚNICO. Nada é Interno, nada é Externo; nada é GRANDE, nada é Pequeno; nada é Alto, nada é Baixo na Economia Divina.” [1]   
 
Este é o grande motivo para estudar o tema dos sete princípios da consciência, um dos mais importantes de toda a filosofia esotérica. O assunto contém a chave pela qual se chega ao verdadeiro conhecimento oculto, ou essencial. O homem é o microcosmo. Por isso ele tem de conhecer a si mesmo (seus sete princípios) para poder conhecer o mundo a seu redor. E a recíproca é verdadeira: ele também precisa estudar o cosmo para conhecer a si mesmo.
 
Os pitagóricos da Grécia antiga estudavam a “música” cósmica das esferas ou planetas  para conhecerem-se a si mesmos, porque o grande é como o pequeno, e vice-versa. E por que motivo os primeiros teosofistas ecléticos, alunos de Amônio Sacas em Alexandria, no século três da nossa era, trabalhavam com o princípio da analogia em sua busca da verdade universal? Porque só há uma EXISTÊNCIA UNA, cujas manifestações externas são diversas.
 
Por essa mesma razão prática, a obra “A Doutrina Secreta” dá uma grande atenção ao funcionamento da vida em sua dimensão cósmica. Alguns leitores reclamam, afirmando que grande parte de “A Doutrina Secreta” é “muito abstrata”. E, sem dúvida, estão corretos. Mas os Mestres de Sabedoria têm fortes razões para dizer que o estudante  precisa adotar um ponto de vista abstrato, para compreender a origem do universo e a longa jornada da alma humana.
 
Não há nada mais prático do que o estudo dos processos cósmicos, porque ele desperta Buddhi-Manas no estudante, ou seja, une o seu quinto princípio, mental, ao seu sexto princípio, intuitivo.  
 
Este é o passo evolutivo que se espera da humanidade na etapa atual.
 
Cabe registrar que o conceito blavatskiano de “raça” só se relaciona secundariamente com o corpo físico. Esotericamente, a ideia de raça não depende da cor da pele; e tampouco há raças “melhores” ou “piores” que outras. A palavra “raça” diz respeito a um protótipo fundamentalmente psicoespiritual (embora também físico) do ser humano. Ao mesmo tempo, refere-se a um período de tempo quase inimaginavelmente longo e a uma determinada etapa da evolução geológica do  planeta. Basta dizer que as duas primeiras raças não eram plenamente físicas e habitaram o planeta quando ele tinha características geológicas muito diferentes das atuais. Neste contexto, as pequenas diferenças “raciais” entre os povos da humanidade atual são desprezíveis. A convivência harmoniosa dos seres humanos,  independentemente de cor da pele, classe social, sexo, afiliação religiosa ou ideologia política, é o primeiro objetivo do movimento universalista e esotérico.   Os estudantes dessa filosofia devem trabalhar pela fraternidade e pela felicidade de todos os seres.
 
É verdade que, durante o século 20, o conceito de raça foi distorcido e utilizado para justificar antissemitismo e outros crimes contra a humanidade. Mas a filosofia esotérica não pode abandonar o conceito milenar e fundamental de raça-raiz apenas porque, em determinado momento, ele foi distorcido por líderes políticos criminosos. As distorções passam, e a verdade fica. O mau uso eventual de conceitos filosóficos deve estimular-nos a estar atentos para perceber o significado que cada um dá às palavras, e para o contexto vivo em que elas são empregadas.
 
No tema das raças, como em tantos outros, a simplificação excessiva da filosofia esotérica também traz sérios perigos. H.P.B. evitou a redução dos seus ensinamentos a um conjunto de ideias demasiado fáceis. A intenção era impedir, ou tornar menos provável, que estudantes inexperientes pudessem memorizar alguns conceitos e iludir-se pensando que conheciam a ciência esotérica.
 
A civilização moderna – inspirada e dominada pela cultura europeia e pelos elementos culturais associados a ela, espalhados pelos vários continentes – está situada na segunda metade da quinta raça-raiz, mais precisamente na quinta sub-raça da quinta raça-raiz. Ela alcançou o ponto em que Manas, a mente, passa a receber cada vez com mais força a luz intuitiva de Buddhi, preparando o surgimento da sexta sub-raça da quinta raça-raiz. Este despertar ocorre através de indivíduos e setores sociais pioneiros e inicialmente pouco numerosos. Como efeito colateral inevitável, esta nova energia parece tirar de foco e desarticular os mecanismos anteriores e convencionais de produção de sentimento ético. Enquanto pequenos setores pioneiros despertam, outros setores sociais – inicialmente majoritários – parecem perder todo senso ético e qualquer inspiração vinda dos planos superiores de consciência. Assim, a crise da transição se aprofunda. Mas é por causa da nova energia inspiradora que as velhas estruturas tremem.
 
Há sete raças-raízes. Cada uma delas tem, de acordo com H.P.B., sete sub-raças. Ao longo de toda a quinta raça-raiz, o foco evolutivo trabalha predominantemente o quinto princípio, Manas, assim como no conjunto da sexta raça-raiz o foco estará especialmente concentrado no sexto princípio, Buddhi
 
O mesmo processo se desenvolve, em escala menor, nas sete sub-raças. Cada uma delas se dedica a um princípio especialmente. Na quarta sub-raça da quinta raça, por exemplo, houve um relativo predomínio do quarto princípio, do desejo (Kama). Na atual quinta sub-raça da quinta raça, temos um relativo predomínio do princípio mental (Manas). Na sexta sub-raça da nossa quinta raça-raiz, haverá um despertar do sexto princípio, o princípio búdico, centro e sede da alma espiritual. Estamos vivendo o longo processo do seu surgimento.
 
A relação direta – numérica e numerológica – entre os sete princípios do homem tal como aparecem na teosofia original e as sete etapas sucessivas da evolução da humanidade é um forte motivo para que se mantenha o esquema original do ensinamento. Os sete princípios são a ponte entre o microcosmo (o ser humano) e o macrocosmo (o planeta e o universo).
 
A vida cósmica (e humana) é como um carrossel que gira dentro de um carrossel, e o segundo carrossel gira dentro de outro carrossel ainda maior, e assim sucessivamente. Em termos de realidades espaciais, cada átomo é uma miniatura do sistema solar, e cada sistema solar é uma miniatura da Via Láctea.
 
Na escala de tempo, o segundo faz parte do minuto, o minuto faz parte da hora, a hora faz parte do dia, o dia faz parte do ano, o ano faz parte do século, e o século é uma pequena partícula de grandes eras cósmicas. Também a evolução das almas está perfeitamente sincronizada com os ciclos maiores e menores.
 
O espaço-tempo universal, abstrato e absoluto – o círculo ilimitado que tudo contém – é chamado de Parabrahman em filosofia esotérica. A chave para perceber estas realidades vivencialmente – através da lei da analogia – está nos sete princípios da consciência humana.
 
As rodas grandes e pequenas dos ciclos da vida universal encaixam umas nas outras. Assim se dá a relação entre microcosmo e macrocosmo. A  enumeração dos sete princípios permite o estudo da cosmologia e da natureza oculta do ser humano ensinadas nas “Cartas dos Mahatmas” e em “A Doutrina Secreta”.  O esquema didático original do ensinamento teosófico nos oferece uma visão sistêmica da vida, capaz de unir coerentemente a parte e o todo. Ele mostra de que modo a parte contém o todo, e de que maneira o ser humano é um resumo coerente do universo. 
 
O tema das Raças, Rondas e Cadeias coloca desafios lógicos à nossa compreensão e amplia a nossa capacidade de perceber intuitivamente o funcionamento do cosmo. 
 
Carlos Cardoso Aveline

NOTAS: 
[1] “Fundamentos da Filosofia Esotérica”, H. P. Blavatsky, org. Ianthe Hoskins, Editora Teosófica, Brasília, 90 pp., ver pp. 77 e seguintes.

https://www.filosofiaesoterica.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário