OS SETE PRINCÍPIOS DA CONSCIÊNCIA - IV
Segundo
a teosofia original, tudo no ser humano e no cosmo deve ser estudado do
ponto de vista do esquema setenário. Na ciência esotérica, se você não
sabe de que ponto de vista está falando, não sabe do que está falando.
Tratemos, pois, de resumir e fixar bem na memória as palavras-chave do
esquema setenário:
1 – Sthula-Sharira – o veículo, corpo ou instrumento físico;
2 – Prana – a vitalidade;
3 – Linga-Sharira – o astral, o duplo, o modelo, o corpo-fantasma;
4 – Kama – o princípio que é sede das paixões animais e dos sentimentos de apego e rejeição;
5 – Manas – a mente, o princípio dual, gravitando ora em torno de Buddhi, ora em torno de Kama;
6 – Buddhi – alma espiritual, compaixão universal, o veículo de Atma;
7 – Atma – o princípio supremo, que existe em unidade com o absoluto.
Como
vimos acima, estes sete princípios estão divididos em dois grupos. O
quaternário inferior gravita em torno do físico. A tríade imortal
gravita em torno de Atma. Entre a tríade e o quaternário existe uma
ligação chamada antahkarana. E antahkarana é, tecnicamente, a “ponte” entre Manas inferior e Manas superior.
Para efeitos didáticos, podemos visualizar o esquema setenário da seguinte forma:
Os Princípios da Consciência Humana
Uma imagem alegórica, limitada, do movimento dinâmico destes sete princípios pode ser a seguinte.
Quando Atma, o princípio supremo, olha para baixo, sente compaixão e se torna Buddhi, uma alma espiritual. Quando Buddhi olha para baixo, tem pensamentos universais que veem a diversidade externa do ponto de vista da unidade interior, e se torna Manas em seu aspecto mais elevado. Quando Manas olha para baixo, fica preso, ou tende a ser preso por Kama, e se torna Kama-Manas. Ao olhar para baixo, Kama-Manas enxerga Linga-Sharira,
o modelo astral que reúne os registros cármicos densos de vidas
anteriores (e sementes de futuras). Este é o modelo sutil de um corpo
físico, preparado pelo Carma. Linga-Sharira olha “para baixo” e localiza Jiva, a vida no sentido absoluto. Absorve Jiva e forma Prana, o princípio vital. Assim se cria, renova e fortalece Sthula-Sharira, o corpo físico.
No ciclo ascendente, a volta para casa é a marcha evolutiva em que o foco de consciência olha cada vez mais para cima.
Esse
não é o único esquema possível quando se pensa em descrever os vários
níveis de consciência do ser humano. Desde um ponto de vista prático, a
classificação dos princípios e mesmo a ordem entre eles podem variar de
um indivíduo para outro. As descrições gráficas da teosofia original não
podem substituir os fatos, mas servem como estímulo para o despertar da
autoconsciência.
Ao
tentar compreender racionalmente o mistério dos sete princípios, alguns
estudantes talvez digam que o esquema referencial dado por H.P.B. é
complexo e imperfeito. E isso é verdade. Sobre certos temas, a teosofia
não transmite publicamente mais do que esboços gerais e fragmentários,
cuja compreensão parcial deve estimular a intuição de cada estudante.
Não se pode fotografar o vento, e o espírito é sutil como o vento.
É
verdade que a literatura pseudoteosófica criada por Annie Besant,
Charles Leadbeater e seus seguidores busca apresentar a teosofia como se
ela fosse simples, linear, como se dependesse de crença cega e
estivesse ligada a rituais. Este tipo de literatura distorcida é uma
paródia da verdadeira teosofia e deve ser abandonada sem hesitação.
Durante sua discussão com Subba Row em torno da classificação dos
princípios da consciência, Helena Blavatsky escreveu:
“O que é esotérico deve ser mais deduzido do que ensinado abertamente.” [15]
Na
realidade, o processo racional comum só pode obter fragmentos da
verdade. Querer capturar as realidades dos mundos sutis com imagens
mentais tridimensionais é como pretender guardar o vento do topo das
montanhas em um pequeno vidro fechado com tampa de metal. A importância
do estudo é que ele serve como uma base da qual se salta para o plano
intuitivo.
A Carta de 1900, a última recebida de um Mahatma, informa como os Adeptos trabalham:
“Em
períodos favoráveis, liberamos influências elevadoras que impressionam
várias pessoas de diferentes maneiras. É o aspecto coletivo de muitos
destes pensamentos que pode dar o rumo correto à ação.” [16]
Isto
pode levar-nos a perceber que a energia oculta está além das faixas
vibratórias que o hemisfério esquerdo e lógico-linear do cérebro é capaz
de captar. Diferentes indivíduos têm diferentes graus e tipos de
consciência e captam ângulos e aspectos diferentes da energia oculta, ou
essencial. Ou seja, não há como colocar em palavras o que é oculto. O estudante tem de se erguer acima das classificações lineares, que são apenas como réguas indicando o real, e o não real.
O
livro “O Mundo Oculto”, de Alfred P. Sinnett, publica várias cartas dos
Mahatmas. Ali vemos um trecho de importância decisiva para que se possa
compreender como ocorre o contato entre o Mestre e o aspirante ao
discipulado:
“Só
o progresso que uma pessoa faça no estudo do conhecimento Arcano a
partir dos elementos rudimentares a leva a compreender gradualmente o
nosso propósito. Somente assim, e não de outra forma, ela o faz
fortalecendo e refinando aqueles misteriosos laços de simpatia que unem
os seres inteligentes – fragmentos temporariamente isolados da Alma
universal e da própria Alma cósmica – trazendo-os a uma completa
harmonia. É assim, e não de outro modo, que estas simpatias despertadas
servirão, na verdade, para conectar o ser humano com aquilo que, na
falta de um termo científico europeu mais adequado, sou novamente
compelido a descrever como aquela cadeia energética que une o cosmo
material e imaterial – passado, presente e futuro – acelerando as suas
percepções de modo que ele capte claramente não apenas todas as coisas
materiais, mas também as espirituais. Sinto-me até irritado ao ter que
usar estas três palavras desajeitadas, passado, presente e futuro! Como
conceitos miseravelmente estreitos de fases objetivas do Todo Subjetivo,
elas são tão inadequadas nesse sentido quanto seria um machado para
fazer um trabalho delicado de escultura.” [17]
A visão oculta do ser humano
é complexa. É multidimensional. As palavras não são capazes de
descrevê-la adequadamente. Chega-se a ela por um salto interior,
espontâneo, involuntário, que ocorre a partir de muitas pequenas
evidências recolhidas no mundo tridimensional.
Este
ponto de vista intangível, do qual o estudante olha para toda vida
dentro e fora de si, deve iluminar também a sua vida concreta. Além de
estudar o esquema setenário de Blavatsky e outros esboços dos princípios
da consciência, o estudante deve perguntar a si mesmo, do ponto de
vista prático e vivencial, qual tem sido o funcionamento cotidiano dos
seus vários “eus”, colocados em uma escala vertical.
Ele
deve avaliar o seu “eu” físico, incluindo o grau de pureza dos seus
alimentos e a quantidade de exercício adequado que pratica no trabalho
ou durante o lazer, assim como o seu descanso. Estes são fatores
importantes para o primeiro, o segundo e o terceiro princípios. Ele deve
examinar o seu “eu” emocional animal, Kama, com as suas diversas
variantes, que se estruturam conforme as diferentes situações concretas e
psicológicas que ele vive. O comportamento de Kama é igualmente
importante para o funcionamento eficaz de Sthula-Sharira, Prana e
Linga-Sharira.
O
estudante deve observar seu “eu” mental – que possui suas próprias
opiniões e seus raciocínios – e ver se ele gravita mais em torno do
sexto princípio ou do quarto princípio. A palavra “eu”, aqui, é usada no
sentido de “centro de vontade que organiza uma parte da consciência”.
Nesta observação, a autocondenação e a autojustificação devem ser
evitadas.
Os ensinamentos teosóficos ganham significado novo a cada instante. O estudante os grava em sua própria alma,
à medida que capta neles camadas superiores de significado e que os
transforma em uma parte coerente da sua vida diária. Não por acaso
Platão escreveu:
“Eu falo da palavra inteligente gravada na alma do aprendiz…” ( “Phaedrus” [276] )
Embora
a filosofia de H.P.B. ainda seja recente – tendo sido dada à humanidade
há menos de 200 anos – ela já pode ser parcialmente compreendida e
vivenciada. A teosofia possui uma importância central para o carma
positivo do planeta. Ela abre caminho lentamente para passos evolutivos
futuros, que os seres humanos já podem estudar e compreender enquanto
trabalham pelo nascimento de uma humanidade mais sábia e mais fraterna.
Carlos Cardoso Aveline
NOTAS:
[15] Texto
intitulado “Classification of ‘Principles’”, publicado na coletânea em
três volumes “Theosophical Articles”, Helena P. Blavatsky, Theosophy
Co., Los Angeles, 1981. Ver volume II, p. 233.
[16] O texto incompleto
da Carta de 1900 está em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas
por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, Carta 46, primeira série,
p. 106. Leia a íntegra da carta nos websites associados.
[17] “O Mundo Oculto”, Alfred P. Sinnett, Editora Teosófica, Brasília, ano 2000, ver p. 142.
https://www.filosofiaesoterica.com
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