Translate

domingo, 7 de novembro de 2021

OS SETE PRINCÍPIOS DA CONSCIÊNCIA - IV

Última Parte

Segundo a teosofia original, tudo no ser humano e no cosmo deve ser estudado do ponto de vista do esquema setenário. Na ciência esotérica, se você não sabe de que ponto de vista está falando, não sabe do que está falando. Tratemos, pois, de resumir e fixar bem na memória as palavras-chave do esquema setenário:
 
1 – Sthula-Sharira – o veículo, corpo ou instrumento físico;
 
2 – Prana – a vitalidade; 
 
3 – Linga-Sharira – o astral, o duplo, o modelo, o corpo-fantasma; 
 
4 – Kama – o princípio que é sede das paixões animais e dos sentimentos de apego e rejeição;
 
5 – Manas – a mente, o princípio dual, gravitando ora em torno de Buddhi, ora em torno de  Kama;
 
6 – Buddhi – alma espiritual, compaixão universal, o veículo de Atma;
 
7 – Atma – o princípio supremo, que existe em unidade com o absoluto.  
 
Como vimos acima, estes sete princípios estão divididos em dois grupos. O quaternário inferior gravita em torno do físico. A tríade imortal gravita em torno de Atma. Entre a tríade e o quaternário existe uma ligação chamada antahkarana. E antahkarana é, tecnicamente, a “ponte” entre Manas inferior e Manas superior.  
 
Para efeitos didáticos, podemos visualizar o esquema setenário da seguinte forma:
 
Os Princípios da Consciência Humana
 
 
 
Uma imagem alegórica, limitada, do movimento dinâmico destes sete princípios pode ser a seguinte.
 
Quando Atma, o princípio supremo, olha para baixo, sente compaixão e se torna Buddhi, uma alma espiritual. Quando Buddhi olha para baixo, tem pensamentos universais que veem a diversidade externa do ponto de vista da unidade interior, e se torna Manas em seu aspecto mais elevado. Quando Manas olha para baixo, fica preso, ou tende a ser preso por Kama, e se torna Kama-Manas. Ao olhar para baixo, Kama-Manas enxerga Linga-Sharira,  o modelo astral que reúne os registros cármicos densos de vidas anteriores (e sementes de futuras). Este é o modelo sutil de um corpo físico, preparado pelo Carma. Linga-Sharira olha “para baixo” e localiza Jiva, a vida no sentido absoluto. Absorve Jiva e forma Prana, o princípio vital. Assim se cria, renova e fortalece Sthula-Sharira, o corpo físico.
 
No ciclo ascendente, a volta para casa é a marcha evolutiva em que o foco de consciência olha cada vez mais para cima.
 
Esse não é o único esquema possível quando se pensa em descrever os vários níveis de consciência do ser humano. Desde um ponto de vista prático, a classificação dos princípios e mesmo a ordem entre eles podem variar de um indivíduo para outro. As descrições gráficas da teosofia original não podem substituir os fatos, mas servem como estímulo para o despertar da autoconsciência.
 
Ao tentar compreender racionalmente o mistério dos sete princípios, alguns estudantes talvez digam que o esquema referencial dado por H.P.B. é complexo e imperfeito. E isso é verdade. Sobre certos temas, a teosofia não transmite publicamente mais do que esboços gerais e fragmentários, cuja compreensão parcial deve estimular a intuição de cada estudante. Não se pode fotografar o vento, e o espírito é sutil  como o vento.
 
É verdade que a literatura pseudoteosófica criada por Annie Besant, Charles Leadbeater e seus seguidores busca apresentar a teosofia como se ela fosse simples, linear, como se dependesse de crença cega e estivesse ligada a rituais. Este tipo de literatura distorcida é uma paródia da verdadeira teosofia e deve ser abandonada sem hesitação. Durante sua discussão com Subba Row em torno da classificação dos princípios da consciência, Helena Blavatsky escreveu:
 
“O que é esotérico deve ser mais deduzido do que ensinado abertamente.” [15]
 
Na realidade, o processo racional comum só pode obter fragmentos da verdade. Querer capturar as realidades dos mundos sutis com imagens mentais tridimensionais é como pretender guardar o vento do topo das montanhas em um pequeno vidro fechado com tampa de metal. A importância do estudo é que ele serve como uma base da qual se salta para o plano intuitivo.
 
A Carta de 1900, a última recebida de um Mahatma, informa como os Adeptos trabalham:
 
“Em períodos favoráveis, liberamos influências elevadoras que impressionam várias pessoas de diferentes maneiras. É o aspecto coletivo de muitos destes pensamentos que pode dar o rumo correto à ação.” [16]
 
Isto pode levar-nos a perceber que a energia oculta está além das faixas vibratórias que o hemisfério esquerdo e lógico-linear do cérebro é capaz de captar. Diferentes indivíduos têm diferentes graus e tipos de consciência e captam ângulos e aspectos diferentes da energia oculta, ou essencial. Ou seja, não há como colocar em palavras o que é oculto. O estudante tem de se erguer acima das classificações lineares, que são apenas como réguas indicando o real, e o não real.
 
O livro “O Mundo Oculto”, de Alfred P. Sinnett, publica várias cartas dos Mahatmas. Ali vemos um trecho de importância decisiva para que se possa compreender como ocorre o contato entre o Mestre e o aspirante ao discipulado:
 
“Só o progresso que uma pessoa faça no estudo do conhecimento Arcano a partir dos elementos rudimentares a leva a compreender gradualmente o nosso propósito. Somente assim, e não de outra forma, ela o faz fortalecendo e refinando aqueles misteriosos laços de simpatia que unem os seres inteligentes – fragmentos temporariamente isolados da Alma universal e da própria Alma cósmica – trazendo-os a uma completa harmonia. É assim, e não de outro modo, que estas simpatias despertadas servirão, na verdade, para conectar o ser humano com aquilo que, na falta de um termo científico europeu mais adequado, sou novamente compelido a descrever como aquela cadeia energética que une o cosmo material e imaterial – passado, presente e futuro – acelerando as suas percepções de modo que ele capte claramente não apenas todas as coisas materiais, mas também as espirituais. Sinto-me até irritado ao ter que usar estas três palavras desajeitadas, passado, presente e futuro! Como conceitos miseravelmente estreitos de fases objetivas do Todo Subjetivo, elas são tão inadequadas nesse sentido quanto seria um machado para fazer um trabalho delicado de escultura.” [17] 
 
A visão oculta do ser humano é complexa. É multidimensional. As palavras não são capazes de descrevê-la adequadamente. Chega-se a ela por um salto interior, espontâneo, involuntário, que ocorre a partir de muitas pequenas evidências recolhidas no mundo tridimensional.
 
Este ponto de vista intangível, do qual o estudante olha para toda vida dentro e fora de si, deve iluminar também a sua vida concreta. Além de estudar o esquema setenário de Blavatsky e outros esboços dos princípios da consciência, o estudante deve perguntar a si mesmo, do ponto de vista prático e vivencial, qual tem sido o funcionamento cotidiano dos seus vários  “eus”, colocados em uma escala vertical.  
 
Ele deve avaliar o seu “eu” físico, incluindo o grau de pureza dos seus alimentos e a quantidade de exercício adequado que pratica no trabalho ou durante o lazer, assim como o seu descanso. Estes são  fatores importantes para o primeiro, o segundo e o terceiro princípios. Ele deve examinar o seu “eu” emocional animal, Kama, com as suas diversas variantes, que se estruturam conforme as diferentes situações concretas e psicológicas que ele vive. O comportamento de Kama é igualmente importante para o funcionamento eficaz de Sthula-Sharira, Prana e Linga-Sharira.
 
O estudante deve observar seu “eu” mental – que possui suas próprias opiniões e seus raciocínios – e ver se ele gravita mais em torno do sexto princípio ou do quarto princípio. A palavra “eu”, aqui, é usada no sentido de “centro de vontade que organiza uma parte da consciência”. Nesta observação, a autocondenação e a autojustificação devem ser evitadas.
 
Os ensinamentos teosóficos ganham significado novo a cada instante.  O estudante os grava em sua própria alma, à medida que capta neles camadas superiores de significado e que os transforma em uma parte coerente da sua vida diária.  Não por acaso Platão escreveu:
 
“Eu falo da palavra inteligente gravada na alma do aprendiz…” ( “Phaedrus” [276] )
 
Embora a filosofia de H.P.B. ainda seja recente – tendo sido dada à humanidade há menos de 200 anos – ela já pode ser parcialmente compreendida e vivenciada.  A teosofia possui uma importância central para o carma positivo do planeta. Ela abre caminho lentamente para passos  evolutivos futuros, que os seres humanos já podem estudar e compreender  enquanto trabalham pelo nascimento de uma humanidade mais sábia e mais fraterna. 
 
Carlos Cardoso Aveline 
 
NOTAS:
[15] Texto intitulado “Classification of ‘Principles’”, publicado na coletânea em três volumes “Theosophical Articles”, Helena P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, 1981. Ver volume II, p. 233. 
[16] O texto incompleto da Carta de 1900 está em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, Carta 46, primeira série, p. 106. Leia a íntegra da carta nos websites associados.
[17] “O Mundo Oculto”, Alfred P. Sinnett, Editora Teosófica, Brasília, ano 2000, ver p. 142.
 
https://www.filosofiaesoterica.com  

Nenhum comentário:

Postar um comentário