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quinta-feira, 13 de maio de 2021

 PURO ENTRE IMPUROS

 

Longos anos, em tempos idos,
Fui impuro com os impuros.
Depois, nauseado da minha impureza,
Separei-me dos impuros,
Para ser puro com os puros.
E, como era difícil encontrar ambiente puro
Entre os homens impuros,
Abandonei a sociedade humana
Deste mundo imundo,
E refugiei-me à solidão da Natureza,
Longe, bem longe dos homens...
Habitei em vastos desertos silentes,
Isolei-me no cume de taciturnas montanhas,
Meditei em cavernas desnudas
E vi que a Natureza era pura.
Enamorei-me da Natureza,
Inconscientemente pura,
Eu, que ansiava por ser
Conscientemente puro...
Ah! como me fazia bem
Essa inconsciente pureza em derredor!
Senti profunda afinidade

Entre mim e a Natureza,
Entre meu superconsciente,
Desejoso de pureza,
E aquele subconsciente
Da Natureza dormente.
E verifiquei que me conservava puro
Como a água, quando solicitamente isolada
Num recipiente puro.

Mas, que seria de mim, se abandonasse
Aquele ambiente de pureza que me cercava?
Acontecer-me-ia o que acontece à água,
À água pura em contato com ambiente impuro?...
Sim, eu o sabia,
Eu o sentia...
Minha pureza era fraca e precária,
Porque condicionada àquele ambiente casual...
E nasceu dentro de mim um desejo imenso,
O desejo de ser incondicionalmente puro,
Puro por força interna,
E não apenas por proteção externa,
Puro no meio de quaisquer impurezas,
Como a luz, que não se isola
Em segregados recipientes,
Para continuar a ser pura,
E ser fiel a si mesma...

E por que não poderia eu ser fiel a mim mesmo,
Como a luz?
Eu, que sou a “luz do mundo”?
Puro e incontaminável como a luz,
Que, afoita e sorridente,
Se lança ao meio de cloacas e sentinas,
A fétidos pantanais,
E imundas sodomas
E de todas as impurezas
Sai imaculada e pura...

* * *
Aborrecido, envergonhado da pura solidão,
Tive desejo de testar a minha pureza,
Lançar-me ao meio das maldades do mundo
Sem ser mau,
Ao meio de impuras sodomas,
Sem ser impuro,
Ao meio das babilônias dos profanos
Sem ser profano...
Senti em mim o veemente apelo
Da minha divina sacralidade...
Aureolado e penetrado da luz do meu Cristo interno,
Quis sentar-me à mesa com publicanos e pecadores,
Sem ser pecador nem publicano...
Compreendi que as profundas verdades
Brotam da solidão,
Como as nascentes que rompem

Do seio de altas montanhas.
Mas compreendi também que a verdade solitária
É apenas meia verdade,
Porque necessita do isolamento perene,
Para ser perenemente pura.
E eu queria ser puro como a luz,
Que não necessita de ser solitária,
Mas é solidária – e continua a ser pura...
Queria ser puro como a luz branca, incolor,
E puro também como a luz multicor,
Difusa pelo prisma, que dispersa sem contaminar...

A verdade é austera e silente,
Como a luz branca, incolor,
Porque habita a sós com Deus,
Profundamente solitária;
Mas, quando o Verbo da Verdade
Se faz carne no seio da Beleza,
Nasce a suprema Poesia Cósmica,
Solitária em Deus
E solidária com todas as criaturas de Deus.
 

Assim discorria eu comigo mesmo
Quando passou alguém,
Envolto em Verdade e Beleza,
E disse: “Eu sou a luz do mundo”...
E, quando eu, fascinado, o contemplava,

Acrescentou, olhando para mim:
“Vós também sois a luz do mundo”...
Desde essa hora tenho a certeza
De poder ser invulnerável,
Incontaminável,
Como a luz,
Se for fiel à “luz do mundo”
Que em mim está.
À luz, que purifica todas as impurezas
E não recebe em si as impurezas que elimina.

E em horizontes longínquos surgiu
Uma alvorada de luzes e cores,
A luz branca da Verdade,
Aureolada do colorido da Beleza...
E a minha vida se aureolou
De estranha poesia
Da poesia cósmica do Nazareno...

Huberto Rohden, Escalando o Himalaia
http://universalismoesoterico.blogspot.com

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