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sexta-feira, 28 de maio de 2021

A IMPORTÂNCIA DE SABER PONDERAR
DIANTE DOS FATOS DA VIDA

 

Ponderar significa observar com atenção minuciosa. Significa medir e pesar todos os lados de uma questão antes de formar juízo sobre ela ou antes de agir. É requisito para uma ação interior profunda.


Portanto, precisamos dedicar-nos a avaliar amplamente os assuntos, a vê-los de diferentes ângulos, e não só conforme a nossa própria reação. Precisamos aprender a considerar os pontos de vista dos demais, alargar nossas perspectivas.

Algumas atitudes são requeridas para nos tornarmos ponderados. A primeira delas é a sinceridade na aspiração e a determinação a evoluir, a ir adiante mesmo que exista alguma reação nossa, mesmo que não estejamos dispostos. Para optar com correção temos, portanto, de diferenciar o que provém da natureza da alma, do interno do nosso ser daquilo que provém da personalidade, da natureza externa.

Outra atitude é a de não fazermos as coisas superficialmente em razão de alguma pressão externa, como prazos, debilidade física ou outras. Mesmo quando o tempo parece que vai terminar, mesmo quando o corpo físico parece não estar bem, não podemos deixar de refletir e buscar perceber o que é mais indicado em dado momento. Se agirmos assim, com verdadeira ponderação, o tempo passa a ser suficiente, o corpo passa a responder de modo positivo e tudo começa a corresponder às nossas decisões mais íntimas.

A terceira atitude é a de não deixar a mente vagar por conta própria. A mente tem de se organizar e estabelecer as prioridades entre os assuntos do dia, para fazermos com ordem o que nos cabe.
 

Para conquistarmos essas atitudes precisamos de firme intenção e de esforço. Não nos tornamos ponderados de um momento para outro. É necessário buscar tal qualidade com persistência.

Enquanto ponderamos, podemos ir além da nossa experiência se pedirmos sugestões ao profundo do nosso ser e aguardarmos em silêncio, porém sem criar expectativas. Podem então surgir ideias ou vislumbres de caminhos inusitados. Podem emergir sentimentos que não conhecíamos ou transformarem-se sentimentos antigos. Ponderar é usar todos os recursos de que dispomos: aqueles de que temos consciência e outros, da consciência superior, que se tornam acessíveis porque estamos receptivos.

Precisamos aprender a ponderar e não mostrar fraqueza. Isso significa refletir sem nos entregar a desânimos nem a pensamentos negativos. Conseguimos isso com a atenção treinada, com a qual seguimos nitidamente e com equilíbrio as etapas de um processo ou acontecimento.

Quando pedimos luz sobre algo, temos de observar como aquilo se desenvolve sem nos condicionar ao que já discernimos, pois sempre pode advir um fato novo, e o processo pode tomar outro rumo. Tudo o que discernimos é posto à prova, e precisamos continuar observando e buscando níveis mais internos da realidade.

Saber ponderar sem mostrar fraqueza leva-nos a mudanças importantes. Se tivermos essa reflexão incorporada em nossa vida, coisa alguma poderá nos surpreender. Passamos a prever os fatos e a entrever oportunidades ocultas nos acontecimentos. O inusitado deixará de ser incômodo ou fator de decepção.

Tendo aprendido a ponderar, ficamos diante do desenrolar da vida com muita simplicidade e naturalidade. Ficamos, também, preparados para suportar qualquer tipo de tensão. A ponderação tem, pois, repercussões profundas: com ela, por nada mais nos abalamos.
 

José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br

 

Além da dualidade
 
Você não está consciente disto? Não suas ações óbvias, seu sofrimento esmagador? Quem criou isto a não ser cada um de nós? Quem é responsável por isto a não ser cada um de nós? Como criamos o bem, embora pequeno, também criamos o mal, embora vasto. Bem e mal são parte de nós e são, também, independentes de nós. Quando pensamos-sentimos limitadamente, invejosamente, com ganância e ódio, estamos adicionando ao mal que se volta e nos despedaça. Este problema de bem e mal, este problema conflitante, está sempre conosco já que o estamos criando. Ele se tornou parte de nós, este querer e não querer, amar e odiar, pedir e renunciar. Estamos continuamente criando esta dualidade em que pensamento-sentimento fica preso. Pensamento-sentimento só pode ir além e acima do bem e seu oposto quando compreender sua causa. Na compreensão de mérito e demérito há liberdade dos dois. Os opostos não podem se fundir e têm que ser transcendidos através da dissolução do anseio. Cada oposto tem que ser ponderado, sentido, tão extensa e profundamente quanto possível, através de todas as camadas da consciência. Através desta ponderação, sentimento, uma nova compreensão é despertada, que não é produto de anseio ou do tempo.
 
Existe mal no mundo para o qual contribuímos como contribuímos para o bem. O homem parece se unir mais pelo ódio do que pelo bem. Um homem sábio percebe a causa de bem e mal, e pela compreensão liberta pensamento-sentimento disto. 
 
J. Krishnamurti, The Book of Life 
http://legacy.jkrishnamurti.org

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