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segunda-feira, 10 de maio de 2021

 A ÁGUIA DE ASAS PARTIDAS

Ele possuía muitas riquezas. Tinha as arcas abarrotadas de ouro e gemas preciosas.

A juventude lhe sorria e os amigos sempre se faziam presentes nos banquetes.

Habituara-se a dormir em seu leito de ébano e marfim. Dormir e sonhar.

Em seus sonhos, misturava-se a realidade das tantas vitórias que lhe enriqueciam os dias. E um desejo de paz que ainda não fruía.

Ele amava as corridas de bigas e quadrigas. Recentemente comprara cavalos árabes, fogosos. E escravos o haviam adestrado durante dias.

Tudo apontava para a vitória nas próximas corridas no porto de Cesaréia.

Mas os momentos de tristeza se faziam constantes.

A felicidade não era total. Faltava algo. Ao mesmo tempo, ele temia perder a felicidade que desfrutava.

Por isso, ouvindo falar daquele Homem singular que andava pelas estradas da Galiléia, o procurou.

Bom mestre, que bem devo praticar para alcançar a vida eterna?

Desejava saber. Como desejava. A resposta veio sonora e clara:

Por que me chamas bom? Bom somente o Pai o é. À tua pergunta, respondo: “Cumpre os mandamentos, isto é, não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás teu pai e tua mãe.”

Tudo isso tenho observado em minha mocidade. No entanto, sinto que não me basta. Surdas inquietações me atormentam. Labaredas de ansiedade me consomem. Faltava-me algo!

Então – propõe-lhe a Luz – vende tudo quanto tens, reparte-o entre os pobres. Vem, e segue-Me!

A ordem, a meiguice daquele Homem ecoava em seu Espírito. Ele era uma águia que desejava alcançar as alturas. E o Rabi lhe dizia como utilizar as asas para voar mais alto.

Pela mente em turbilhão do jovem, passam as cenas das glórias que conquistaria. Os amigos confiavam nele.

Tantos esperavam a sua vitória. Israel seria honrada com seu triunfo.

Sim, ele podia renunciar aos bens de família, mas ao tesouro da juventude, às riquezas da vaidade atendida, os caprichos sustentados...?

Seria necessário renunciar a tudo?

A águia desejava voar, mas as asas estavam partidas...

Recorda-se o jovem que os amigos o esperam na cidade, para um banquete previamente agendado. Num estremecimento, se ergue:

Não posso! – murmura. Não posso agora. Perdoa-me.

E afastou-se a passos largos. Subindo a encosta, na curva do caminho, ele se deteve. Olhou para trás. Vacilou ainda uma vez.

A figura do Mestre se desenha na paisagem, aos raios do luar. A Luz parece chamá-lo uma vez mais.

Indecisa, a alma do moço parece um pêndulo oscilante. A águia ainda tenta alçar o voo. O peso do Mundo a retém no solo.

Ele se decide. Com passos rápidos, quase a correr, desaparece na noite.

Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas narram o episódio e dizem de como o jovem se retirou triste e pesaroso.

Nem poderia ser diferente: fora-lhe dada a oportunidade de se precipitar no oceano do amor e ele preferira as areias vãs do Mundo.

O Divino Amigo nos chama, diariamente, para a conquista do reino de paz.

Alguns ainda somos como o moço rico. Deixamos para mais tarde, presos que ainda estamos a muitas questões e vaidades pessoais.

É bom analisar o que mais vale: a alegria efêmera do Mundo ou a felicidade perene que tanto anelamos. Depois, é só optar.

 
Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco 
http://www.momento.com.br 
 
 
... Vocês vão se surpreender ao saber que a cruz cristã não é cristã de forma alguma. Ela é um símbolo ariano oriental, muito antigo: a suástica. A cruz cristã é simplesmente uma parte da suástica. Mas ela também representa a mesma coisa: o vertical; o horizontal. As mãos de Cristo estão horizontais, a sua cabeça e o Ser dele estão apontando em uma direção diferente.

Gautama Buda costumava dizer, "Nascimento é dor, vida é dor, morte é dor." O que ele está dizendo é, ao mover-se na linha horizontal, você está continuamente miserável, cheio de dor. Sua vida não consegue ser uma vida de dança, de alegria. Se isto é tudo, então o suicídio é a única solução. Essa é a conclusão a que chegou a filosofia ocidental contemporânea do existencialismo de Jean-Paul Sartre, Jaspers, Heidegger, Kierkegaard e outros, a de que a vida é sem significado. No plano horizontal ela é, porque ela é simplesmente agonia, dor, doença, enfermidade e velhice. E você está preso em um pequeno corpo enquanto sua Consciência é tão vasta quanto o Universo inteiro.

Uma vez que o vertical é descoberto, começa-se o movimento na linha vertical. Aquela linha vertical não significa que você tenha que renunciar ao mundo. Mas certamente quer dizer que você não está mais no mundo, que o mundo se torna efêmero, perde a importância. Isto não significa que você tenha que renunciar ao mundo e escapar para as montanhas e os monastérios. Isto simplesmente significa que você começa, onde quer que você esteja, a viver uma vida interna que não era possível anteriormente.

Antes, você era um extrovertido, agora, de repente, você se torna introvertido. No que concerne ao corpo você pode lidar muito facilmente, se você tiver a lembrança de que você não é o corpo. Mas o corpo pode ser usado em várias formas para ajudar você a se mover na linha vertical. A penetração da linha vertical, exatamente um raio de luz entrando na sua escuridão da vida horizontal, é o início da iluminação. Você parecerá o mesmo, mas você não será o mesmo. Para aqueles que tem a clareza de ver, você não parecerá mais o mesmo. E, ao menos para você próprio, você nunca mais parecerá o mesmo. E você nunca mais conseguirá ser o mesmo. Você estará no mundo mas o mundo não estará em você.

Ambições, desejos, ciúmes começarão a evaporar. Nenhum esforço será necessário para largá-los, basta seu movimento pela linha vertical e eles começarão a desaparecer: porque eles não podem existir pela linha vertical. Eles só podem existir na escuridão da horizontal, onde todo mundo está em competição: todo mundo está cheio de luxúria, cheio de desejo por poder, um grande desejo de dominar, de se tornar alguém especial.

Na linha vertical todas estas estupidezes simplesmente desaparecem. Você se torna tão leve, tão sem peso, simplesmente como uma flor de lótus: ela está dentro da água, mas a água não a toca. Você permanece no mundo, mas o mundo já não tem qualquer impacto em você. Pelo contrário, você começa a influenciar o mundo, não com seu esforço consciente, mas só por seu Ser puro: sua presença, sua graça, sua beleza. Na medida em que cresce internamente, isto começa a se espalhar ao seu redor. Isto tocará pessoas que tem um coração aberto e fará pessoas terem medo - aquelas que tem vivido com um coração fechado, com todas as janelas, todas as portas fechadas. Estas não virão se contactar com uma pessoa assim. E, para se convencerem do porquê de não estarem vindo entrar em contato com uma pessoa assim, elas encontrarão mil e uma desculpas, mil e uma mentiras. Mas o fato básico é que elas estão com medo de serem expostas. O homem que está movendo verticalmente se torna quase um espelho. Se você se aproximar dele, você verá a face real sua, você verá a feiura sua, você verá sua contínua ambição, você verá a sua vasilha de pedinte.
 
Uma vez que esta sintonia com o Universo acontece, num sentido, você deixa de ser. No velho sentido, você não é mais. Mas, pela primeira vez, você é o Universo inteiro. Até mesmo as estrelas mais distantes estão dentro de você, o seu nada pode contê-las, assim como as flores e o sol e a lua e toda a música da Existência. Você não é mais um ego, o seu "eu" desapareceu. Mas isto não significa que você tenha desaparecido. Ao contrário, no momento em que o seu "eu" desaparece, você aparece. É um êxtase tão grande estar sem o sentimento de "eu", sem o sentimento de qualquer ego, sem pedir por mais coisa alguma. Pelo que mais você pode pedir? Você tem o nada. Neste nada você se tornou, sem conquistar, o Universo inteiro. Então, os pássaros cantantes não estão cantando só fora de você. Eles aparecem fora porque este corpo cria a barreira.

Na linha vertical você se torna mais e mais consciência e menos e menos corpo. Toda a identificação com o corpo desaparece. No nada, estes pássaros estarão dentro de você, estas flores, estas árvores e esta manhã linda estarão dentro de você. Na verdade, então não existe o fora. Tudo se torna a sua visão. E você não pode ter uma vida mais rica do que quando tudo vira seu interior. Quando sol, lua e as estrelas e todo o infinito do espaço e do tempo está dentro de você... o que mais você quer? Este é exatamente o significado de iluminação: tornar-se tão inexistente enquanto ego, que toda a Existência Oceânica se torna parte de você.

A linha vertical é rara, Vadan. Ela é, talvez, a única coisa rara na Existência, porque ela leva você à jornada da eternidade e da imortalidade. E as flores que florescem nesses caminhos são inconcebíveis pela mente. E as experiências que acontecem são inexplicáveis. Mas de um modo muito estranho, o próprio homem se torna a expressão disso. Seus olhos mostram as profundezas de seu coração, seus gestos mostram a graça do movimento vertical. Toda a vida dele irradia, pulsa e cria um campo de energia.


Trechos de Quando a eternidade penetra o tempo, Osho
https://www.oshobrasil.com.br/texto128.htm (texto completo) 

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