A disciplina impede a inteligência. A inteligência é resultado da libertação do temor. Mas você acha que não deve ficar livre do temor. Pensa que o temor conserva o homem no caminho reto e que, por conseguinte, deve disciplinar o seu filho para que ele não se rebele contra você, e ensinar-lhe o que você acredita ser a Verdade. Começa, pois, a condicioná-lo, por meio do temor; você quer que se ajuste ao padrão da sociedade. Você instala, assim, gradualmente, no seu espírito, o temor e lhe destrói a inteligência. É isso o que está ocorrendo à maioria de nós, não é exato? Talento, erudição, capacidade de argumentar, de citar outros — nada disso significa inteligência. O homem inteligente é sem temor. Não se pode dissipar o temor por meio de compulsão ou ajustamento. O temor é um veneno que atua lentamente no seu ser total, destruindo-lhe toda a lucidez.
Assim, pois, considerando devidamente o problema da disciplina, você verá não ser a disciplina coisa importante; que o que tem importância é a compreensão do “processo da mente”, o “processo” de conduta, tanto em vós mesmo como em tudo que lhe cerca. A compreensão de si mesmo é essencial. A compreensão de si mesmo não exige que você se retire da vida, que se torne eremita ou monge. Você não pode se compreender no isolamento; só pode se compreender quando em relação com outro, pois viver é estar em relação; e para compreender a si mesmo, você tem que fazer uso do espelho das relações, o que requer uma capacidade extraordinária, e não temor ou uma mente que diga “isto é errado”, ou “isto é correto”; essa é uma mentalidade de colegial. Só o pensamento não amadurecido está sempre condenando ou justificando.
(…) Uma mente inteligente não precisa de disciplina; ela se disciplina continuamente — isto é, está sempre a observar, a adaptar-se e nunca se acha dentro do rígido molde chamado “disciplina”. Senhor, uma mente criadora é a mais disciplinada das mentes; entretanto, sua disciplina não resulta do temor e, sim, a disciplina própria da mente que compreende, que está sempre cônscia das suas ações e dos movimentos dos seus próprios desejos. Esse percebimento não exige disciplina. Apenas a mente preguiçosa, inutilizada, “desintegrada”, só essa mente tem medo de amadurecer e por isso diz: “preciso disciplinar, controlar; preciso ser isso, ser aquilo” ou “não devo ser isso”. Essa mente jamais descobrirá o que é a Verdade.
A mente disciplinada não pode, nunca, descobrir o que é a Verdade. A mente disciplinada, não pode saber o que é amor. Por isso, nunca conhecemos o amor. Conhecemos tão-somente, a sensação do sexo, ou essa vaidade de sermos amados ou de amarmos. Não sabemos o que é o amor. O amor não é coisa da mente. O amor não é produto de nenhuma artifício da mente que crê, que limita a si mesma, e que teme. O amor nasce apenas quando a mente compreende a natureza da inveja. Quando a mente compreender as próprias tendências de preenchimento, seu desejo e seu medo à frustração, só então poderá surgir aquela coisa que não é mera sensação, mas a “qualidade do amor”, a qual resolverá todos os problemas.
Pensar que você sabe é ser imaturo. Funcionar a partir do conhecimento, da conclusão, é ser imaturo. Funcionar a partir do não-conhecimento, da não-conclusão, do não-passado é maturidade. A maturidade é a confiança profunda em sua consciência; a imaturidade é a desconfiança em sua consciência. Quando você desconfia de sua consciência, confia no conhecimento, mas este é um substituto muito fraco. Tente compreender isso — é importante. Em sua vida, você tem experimentado muitas coisas; tem lido, escutado, pensado. Agora, todas essas conclusões estão aí. Diante de determinadas situações, você pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar por meio de todo o passado acumulado, de acordo com ele — é o que eu chamo de funcionar através de um centro, de conclusões, da experiência banal, morta —, e, não importa o que você faça, sua resposta nunca será de fato uma resposta, e sim uma reação. Ser reacionário é ser imaturo. Ou, se você funcionar agora, neste momento, por meio de sua consciência, de sua percepção, deixando de lado tudo que sabe – o que eu chamo de funcionar através do não-conhecimento —, estará funcionando por meio da inocência. Isso é maturidade.
Eu estava lendo uma piada: Parecia ao Sr Smith que agora que seu filho tinha feito 13 anos, era importante conversar sobre aqueles assuntos que um adolescente deveria saber sobre a vida. Então ele chamou o garoto numa certa noite, fechou a porta cuidadosamente e disse com uma dignidade marcante:
— “Filho, eu gostaria de discutir os fatos da vida com você”.
— “Claro, pai”, disse o garoto. “O que você gostaria de saber?”
A mente é imatura quando não está pronta para aprender. O ego se sente muito preenchido se não precisa aprender nada de ninguém; o ego se sente avançado se acha que já sabe. Mas o problema é que a vida segue mudando, nunca é a mesma; segue fluindo, é um fluxo. E seu conhecimento é sempre o mesmo. Seu conhecimento não está evoluindo com a vida, está parado em algum lugar do passado, e sempre que você reage você perde o sentido porque não será exatamente a coisa certa a fazer. A vida muda mas seu conhecimento permanece o mesmo, e você age baseado nesse conhecimento. Isso significa que você vive o hoje com o conhecimento de ontem. Você nunca será capaz de estar vivo.
Agora deixe-me lhe contar um paradoxo: cada criança que é inocente é madura. A maturidade não tem nada a ver com a idade porque não tem nada a ver com a experiência; a maturidade tem a ver com responsividade, frescor, virgindade, inocência. Por isso quando uso a palavra “maduro”, não quero dizer que quando você for mais experiente você será mais maduro. Isso é o que as pessoas geralmente querem dizer quando usam essa palavra — eu não quero dizer isso. Quanto mais você reúne conhecimento, mais sua mente se torna imatura; e quando você chega aos setenta ou oitenta, você será completamente imaturo porque terá um velho passando para funcionar.
Quando uma criança pequena… sabe nada, não tem experiência, ela funciona aqui e agora. Por isso as crianças podem aprender mais do que as pessoas mais velhas. Os psicólogos dizem que se uma criança não for forçada a aprender, não for forçada a ser disciplinada, ela pode aprender qualquer língua estrangeira em três meses. Apenas deixe-a com pessoas que sabem a língua e ela vai captá-la em três meses. Mas se você a força a aprender, levará quase três anos, porque quanto mais você força, mais ela começa a funcionar sobre o que ela aprende, através do conhecimento de ontem. Se ela é deixada sozinha ela se movimenta livremente, espontaneamente; o aprendizado vem fácil, sozinho, no seu próprio ritmo. Quando a criança chega aos oito anos ela aprendeu quase 70% do que quer que ela vai aprender na sua vida inteira. Ela pode viver 80 anos, mas aos 8 terá aprendido 70% — ela vai aprender apenas 30% mais, e cada dia sua capacidade de aprender será menor e menor e menor. Quanto mais ela sabe, menos ela aprende.
Sócrates disse em sua terceira idade, “Agora sei que nada sei”. Isso é maturidade. No seu final ele disse, “Não sei nada”. A vida é tão vasta. Como pode essa pequena mente saber? No máximo, alguns lampejos são suficientes. Mesmo eles são demais. A existência é tão tremendamente vasta e infinita, sem início, sem fim… como pode essa pequena gota de consciência sabê-la? É suficiente quando alguns lampejos vem, algumas portas se abrem, alguns momentos acontecem quando você entra em contato com a existência. Mas esses momentos não podem ser transformados em conhecimento. Sua mente tende a fazer isso – então ela se torna mais e mais imatura.
Então a primeira coisa em que você deveria ser capaz de aprender e sua capacidade de aprendizado nunca deveria ser oprimida pela conhecimento, nunca coberta por pó. O espelho do aprendizado deveria permanece limpo e novo para que possa continuar refletindo. A mente pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar como uma câmera: uma vez exposta, finalizada – o filme imediatamente se torna conhecido e perde sua capacidade de aprender. Exposto uma vez e já sabe – agora é inútil; agora não é capaz de aprender mais. E então há um outro tipo de aprendizado – aprender como um espelho. Exponha o espelho por mil e uma vezes, não faz diferença – você pode chegar na frente do espelho, você está refletido; se você sair, o reflexo sai. O espelho nunca acumula. O filme na câmera imediatamente acumula – grava, segura, mas o espelho simplesmente reflete: você chega na frente, você está nele; você sai, você se foi. Esse é o caminho para se manter maduro.
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