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quinta-feira, 13 de maio de 2021

 A MENTE DISCIPLINADA 
NUNCA PODE SABER O QUE É O AMOR

Por que não vos livrais da teoria ideológica relativa ao que você deveria ser, que não contém verdade nenhuma? O fato é: o que você é atualmente? Por que você não procura compreender esse fato? A compreensão do que você é não exige disciplina; ao contrário, você pode examiná-lo livremente, livremente investigar a verdade. Em geral, porém, não queremos compreender o que somos, estamos sempre a buscar aquilo que não somos, sempre em demanda do que deveríamos ser, esperando assim fugir ao que somos. A compreensão do que somos é o único fato, a única realidade; e nessa compreensão você há de encontrar a verdade infinita de que “o que é” é, e de que “o que é” nunca é estático. Mas isso requer uma mente não carregada de temor, não tolhida por uma ideia de disciplina ou daquilo que meu pai, minha mãe, meu guru, minha sociedade possam dizer de mim.

A disciplina impede a inteligência. A inteligência é resultado da libertação do temor. Mas você acha que não deve ficar livre do temor. Pensa que o temor conserva o homem no caminho reto e que, por conseguinte, deve disciplinar o seu filho para que ele não se rebele contra você, e ensinar-lhe o que você acredita ser a Verdade. Começa, pois, a condicioná-lo, por meio do temor; você quer que se ajuste ao padrão da sociedade. Você instala, assim, gradualmente, no seu espírito, o temor e lhe destrói a inteligência. É isso o que está ocorrendo à maioria de nós, não é exato? Talento, erudição, capacidade de argumentar, de citar outros — nada disso significa inteligência. O homem inteligente é sem temor. Não se pode dissipar o temor por meio de compulsão ou ajustamento. O temor é um veneno que atua lentamente no seu ser total, destruindo-lhe toda a lucidez.

Assim, pois, considerando devidamente o problema da disciplina, você verá não ser a disciplina coisa importante; que o que tem importância é a compreensão do “processo da mente”, o “processo” de conduta, tanto em vós mesmo como em tudo que lhe cerca. A compreensão de si mesmo é essencial. A compreensão de si mesmo não exige que você se retire da vida, que se torne eremita ou monge. Você não pode se compreender no isolamento; só pode se compreender quando em relação com outro, pois viver é estar em relação; e para compreender a si mesmo, você tem que fazer uso do espelho das relações, o que requer uma capacidade extraordinária, e não temor ou uma mente que diga “isto é errado”, ou “isto é correto”; essa é uma mentalidade de colegial. Só o pensamento não amadurecido está sempre condenando ou justificando.

(…) Uma mente inteligente não precisa de disciplina; ela se disciplina continuamente — isto é, está sempre a observar, a adaptar-se e nunca se acha dentro do rígido molde chamado “disciplina”. Senhor, uma mente criadora é a mais disciplinada das mentes; entretanto, sua disciplina não resulta do temor e, sim, a disciplina própria da mente que compreende, que está sempre cônscia das suas ações e dos movimentos dos seus próprios desejos. Esse percebimento não exige disciplina. Apenas a mente preguiçosa, inutilizada, “desintegrada”, só essa mente tem medo de amadurecer e por isso diz: “preciso disciplinar, controlar; preciso ser isso, ser aquilo” ou “não devo ser isso”. Essa mente jamais descobrirá o que é a Verdade.

A mente disciplinada não pode, nunca, descobrir o que é a Verdade. A mente disciplinada, não pode saber o que é amor. Por isso, nunca conhecemos o amor. Conhecemos tão-somente, a sensação do sexo, ou essa vaidade de sermos amados ou de amarmos. Não sabemos o que é o amor. O amor não é coisa da mente. O amor não é produto de nenhuma artifício da mente que crê, que limita a si mesma, e que teme. O amor nasce apenas quando a mente compreende a natureza da inveja. Quando a mente compreender as próprias tendências de preenchimento, seu desejo e seu medo à frustração, só então poderá surgir aquela coisa que não é mera sensação, mas a “qualidade do amor”, a qual resolverá todos os problemas.

Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 

A mente como uma câmera ou como um espelho: a maturidade da mente

Pensar que você sabe é ser imaturo. Funcionar a partir do conhecimento, da conclusão, é ser imaturo. Funcionar a partir do não-conhecimento, da não-conclusão, do não-passado é maturidade. A maturidade é a confiança profunda em sua consciência; a imaturidade é a desconfiança em sua consciência. Quando você desconfia de sua consciência, confia no conhecimento, mas este é um substituto muito fraco. Tente compreender isso — é importante. Em sua vida, você tem experimentado muitas coisas; tem lido, escutado, pensado. Agora, todas essas conclusões estão aí. Diante de determinadas situações, você pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar por meio de todo o passado acumulado, de acordo com ele — é o que eu chamo de funcionar através de um centro, de conclusões, da experiência banal, morta —, e, não importa o que você faça, sua resposta nunca será de fato uma resposta, e sim uma reação. Ser reacionário é ser imaturo. Ou, se você funcionar agora, neste momento, por meio de sua consciência, de sua percepção, deixando de lado tudo que sabe – o que eu chamo de funcionar através do não-conhecimento —, estará funcionando por meio da inocência. Isso é maturidade.

Eu estava lendo uma piada: Parecia ao Sr Smith que agora que seu filho tinha feito 13 anos, era importante conversar sobre aqueles assuntos que um adolescente deveria saber sobre a vida. Então ele chamou o garoto numa certa noite, fechou a porta cuidadosamente e disse com uma dignidade marcante: 

— “Filho, eu gostaria de discutir os fatos da vida com você”.
— “Claro, pai”, disse o garoto. “O que você gostaria de saber?”

A mente é imatura quando não está pronta para aprender. O ego se sente muito preenchido se não precisa aprender nada de ninguém; o ego se sente avançado se acha que já sabe. Mas o problema é que a vida segue mudando, nunca é a mesma; segue fluindo, é um fluxo. E seu conhecimento é sempre o mesmo. Seu conhecimento não está evoluindo com a vida, está parado em algum lugar do passado, e sempre que você reage você perde o sentido porque não será exatamente a coisa certa a fazer. A vida muda mas seu conhecimento permanece o mesmo, e você age baseado nesse conhecimento. Isso significa que você vive o hoje com o conhecimento de ontem. Você nunca será capaz de estar vivo.

Agora deixe-me lhe contar um paradoxo: cada criança que é inocente é madura. A maturidade não tem nada a ver com a idade porque não tem nada a ver com a experiência; a maturidade tem a ver com responsividade, frescor, virgindade, inocência. Por isso quando uso a palavra “maduro”, não quero dizer que quando você for mais experiente você será mais maduro. Isso é o que as pessoas geralmente querem dizer quando usam essa palavra — eu não quero dizer isso. Quanto mais você reúne conhecimento, mais sua mente se torna imatura; e quando você chega aos setenta ou oitenta, você será completamente imaturo porque terá um velho passando para funcionar.

Quando uma criança pequena… sabe nada, não tem experiência, ela funciona aqui e agora. Por isso as crianças podem aprender mais do que as pessoas mais velhas. Os psicólogos dizem que se uma criança não for forçada a aprender, não for forçada a ser disciplinada, ela pode aprender qualquer língua estrangeira em três meses. Apenas deixe-a com pessoas que sabem a língua e ela vai captá-la em três meses. Mas se você a força a aprender, levará quase três anos, porque quanto mais você força, mais ela começa a funcionar sobre o que ela aprende, através do conhecimento de ontem. Se ela é deixada sozinha ela se movimenta livremente, espontaneamente; o aprendizado vem fácil, sozinho, no seu próprio ritmo. Quando a criança chega aos oito anos ela aprendeu quase 70% do que quer que ela vai aprender na sua vida inteira. Ela pode viver 80 anos, mas aos 8 terá aprendido 70% — ela vai aprender apenas 30% mais, e cada dia sua capacidade de aprender será menor e menor e menor. Quanto mais ela sabe, menos ela aprende.

Sócrates disse em sua terceira idade, “Agora sei que nada sei”. Isso é maturidade. No seu final ele disse, “Não sei nada”. A vida é tão vasta. Como pode essa pequena mente saber? No máximo, alguns lampejos são suficientes. Mesmo eles são demais. A existência é tão tremendamente vasta e infinita, sem início, sem fim… como pode essa pequena gota de consciência sabê-la? É suficiente quando alguns lampejos vem, algumas portas se abrem, alguns momentos acontecem quando você entra em contato com a existência. Mas esses momentos não podem ser transformados em conhecimento. Sua mente tende a fazer isso – então ela se torna mais e mais imatura.

Então a primeira coisa em que você deveria ser capaz de aprender e sua capacidade de aprendizado nunca deveria ser oprimida pela conhecimento, nunca coberta por pó. O espelho do aprendizado deveria permanece limpo e novo para que possa continuar refletindo. A mente pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar como uma câmera: uma vez exposta, finalizada – o filme imediatamente se torna conhecido e perde sua capacidade de aprender. Exposto uma vez e já sabe – agora é inútil; agora não é capaz de aprender mais. E então há um outro tipo de aprendizado – aprender como um espelho. Exponha o espelho por mil e uma vezes, não faz diferença – você pode chegar na frente do espelho, você está refletido; se você sair, o reflexo sai. O espelho nunca acumula.  O filme na câmera imediatamente acumula – grava, segura, mas o espelho simplesmente reflete: você chega na frente, você está nele; você sai, você se foi. Esse é o caminho para se manter maduro.

Osho, em “A Música Mais Antiga do Universo” 
https://www.dharmalog.com

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