A CONSTITUIÇÃO UNI-TRINITÁRIA
DO SER HUMANO
O
ser humano é uma embarcação pequena e frágil navegando no oceano
cósmico. A sua tripulação é formada por três personagens que
correspondem aos seus três elementos formadores: o espírito, no centro, a
vitalidade, na frente; e o corpo físico, atrás. Essas três forças são
agrupadas em uma unidade individual: o barco.
A
força vital é representada pela imagem de uma mulher de saúde excelente
e exuberante. Ela está descabelada e parece tola, tamanha a intensidade
da vida que a anima. De fato, ela é, de certo modo, o motor do barco,
dirigido pelo espírito e agindo sobre a matéria, isto é, sobre o
esqueleto da arquitetura física. Sua força motora é dada pela sua
própria reserva de vitalidade e em grande parte também pelas pulsações
poderosas da vida atmosférica, que ela recolhe em sua vela estendida,
assim como o ser humano a reúne abrindo seus pulmões.
A força
vital faz com que a embarcação avance independentemente da vontade do
espírito, assim como, no corpo físico, a vida faz com que todas as
engrenagens das vísceras funcionem sem a intervenção da vontade. Mas,
por si só, a força vital é incapaz de uma liderança clara e bem pensada.
Na verdade, ela está de costas para a direção seguida pelo barco e só
cuida da sua própria exuberância. Ela é a louca da casa, é o
inconsciente, a fonte de impulsos instintivos, de paixões cegas, de
impulsos impensados. Ela deve sempre se voltar para o espírito e
obedecer à direção dele, para que o barco siga no rumo correto. A
figura situada no centro simboliza o espírito. Ele é descrito como um
homem velho, porque é imortal, tendo sido criado pelo Espírito Eterno.
Ele domina os outros dois tripulantes, comandando diretamente a vida à
sua frente e indiretamente a vida material, que está atrás dele.
Ele
tem como ponto de apoio o universo e se mantém erguido com a ajuda de
duas muletas, que representam a ciência e a religião. Elas compensam a
sua fraqueza e o ajudam a encontrar seu caminho e a educar a si mesmo na
vida. O espírito está no comando do navio porque segura as
cordas da vela que reúne a vitalidade. Ele pode corrigir as inclinações e
regular as energias impetuosas da vida, assim como os rumos
frequentemente incorretos da matéria física que governa a parte
posterior.
Ele conhece o objetivo oculto da existência, e busca
torná-lo cada vez mais claro aos olhos da Vida, estimulando-a a agir
corretamente, porque o tempo, medido pela sua ampulheta, é limitado para
evoluir sob esta forma individual. O seu olhar está voltado para a
frente, pois é ele que sabe, é ele que registra o passado, que zela pelo
presente e vê à distância o futuro, para o qual deve guiar a
embarcação.
A matéria física, na retaguarda, é simbolizada pela
dimensão perecível do indivíduo: o esqueleto. É a matéria que governa no
ar, com a ajuda das asas erguidas, e na água, com ajuda da sua foice,
que serve de leme.
Pela ação do leme, a matéria física
influencia a força vital e o espírito, e, se o espírito ainda não tiver
domínio suficiente no controle da vela, a matéria passa a impor a sua
própria direção e a colocar o barco perigosamente à deriva. Mas se o
espírito tiver sido educado e treinado ele pode corrigir a ação do leme
material e impor um rumo correto, administrando adequadamente a vela.
A
matéria física está armada com um arco e flechas, contidos em uma
aljava. Obedecendo às sugestões da força vital ou do espírito, a matéria
pode usá-los para se defender ou para atacar, e pode até fazer uso
nocivo deles, perfurando a sua força vital. Acontece então o suicídio do
indivíduo.
Da harmonia das relações entre os três personagens
depende o bom desempenho do barco, ou seja, do agrupamento individual.
Sem vida e sem a sua vela motriz, o espírito não tem qualquer controle
da matéria. Sem vida e sem espírito, a matéria não tem mais qualquer
apoio ou orientação, mas está condenada ao naufrágio e ao
desaparecimento.
Quando a calma reina ao redor da embarcação,
quando o ar e a água estão pouco agitados, o conjunto todo pode
descansar. O espírito consegue então ausentar-se, deixar mais folgadas
as cordas da vela, e a vida continua a dirigir o barco sozinha. É o que
acontece durante o sono. Mas quando surge uma comoção externa, o piloto
acorda e retoma o seu posto de comando.
Se a vela da vitalidade
ficar demasiado esticada, pode-se abandonar a direção sábia do espírito e
impor ao conjunto da embarcação movimentos desordenados e destrutivos,
como ocorre quando a cólera ou o impulso de forças vitais inconscientes
substituem a vontade razoável.
Quando a embarcação fica
danificada devido a uma manobra infeliz de um dos personagens, ou por
causa de uma desobediência ou de ignorância, é necessário parar num
porto para fazer o devido conserto. Ocorre então uma doença que exige
repouso e cuidado adequados. Os danos materiais ou a doença são
consequências de ações anteriores, e servem como lições.
Paul Carton
https://www.filosofiaesoterica.com
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