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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O CAMINHO DA MÃO DIREITA
E O CAMINHO DA MÃO ESQUERDA


PERGUNTA: Tantra, ou a prática da “Sexualidade Sagrada,” está se tornando muito popular no Ocidente atualmente. Você acha que esses ensinamentos oferecem um caminho espiritual autêntico?
 
CHIDANANDA: Não, não acho que esses ensinamentos ofereçam um caminho espiritual autêntico. Por quê? Por causa da fragilidade humana, da fraqueza humana. A mente humana é feita de modo que sempre toma o caminho da menor resistência. Ela sempre quer o caminho fácil. Tantra é um caminho para Deus através de todos os tipos de desfrute sensório. Tudo é oferecido a Deus e assim tudo se torna santificado; nada é profano.
 
A pessoa goza da satisfação dos sentidos e vê isso como parte da bem-aventurança de Deus. Enquanto a dualidade persistir nas experiências humanas, existe um “Eu estou desfrutando desse objeto”. Na experiência sexual mais elevada, quando um homem que possui amor verdadeiro pela mulher e esse sentimento é inteiramente recíproco, não há consciência de individualidade separada.
 
Existe uma fusão total da consciência separatista em cada um, e vai existir apenas a consciência da experiência bem-aventurada. Não vai existir o experimentador. Dizem que isso é uma possibilidade quando a fusão é feita com perfeição. As duas pessoas deixam de existir e existe apenas uma, a experiência não-dual, a Experiência Absoluta, a consciência de Brahman.
 
Assim, dizem que o corpo humano é um instrumento que, se usado apropriadamente, pode trazer uma elevação da consciência acima do nível físico. Para um em um milhão, isso pode acontecer.
 
A busca do prazer é parte da visão da vida no Ocidente – não a negação do prazer. Talvez um mestre em dez possa ser um instrutor autêntico, oferecendo genuinamente algo adequado ao temperamento ocidental.
 
Mas noventa por cento desses mestres são astutos. Sabem que existe um mercado para esse tipo de doutrina, e se aproveitam disso. Esse caminho existiu na Índia, especialmente em Bengala. Ainda hoje existe. Mas se tornou grosseiramente pervertido. As pessoas se enredaram nisso. Diziam que estavam praticando tantra, mas era apenas prazer sexual, prazer da comida e da bebida.
 
Esse caminho não as levou a lugar nenhum, mas suponho que as levou onde queriam chegar. Por isso esse caminho foi chamado pelas pessoas iluminadas da época de “caminho pervertido”.
 
Dois caminhos, então, vieram à existência: o caminho autêntico que foi chamado “o caminho da mão direita” e o caminho pervertido que apenas buscava o prazer sexual, que foi chamado de “caminho da mão esquerda”.
 
Há um episódio na vida do grande santo Sri Ramakrishna, o guru de Swami Vivekananda. Ele praticou todos os caminhos espirituais, assim como o cristianismo, o islamismo e outros, e descobriu que todos levam à mesma experiência divina final.
 
E durante um período de sua vida espiritual, também praticou o tantra. Uma mestra tântrica aproximou-se dele e disse, “Fui mandada aqui por Deus para inicia-lo no caminho tântrico para Deus”.
 
Dia após dia ela lhe expôs o caminho tântrico. Mas quando chegou no estágio final, Sri Ramakrishna, que era totalmente celibatário, replicou que através de seu corpo era impossível ter relações sexuais.
 
Ela disse, “Então farei com que o ato completo seja realizado na sua presença.” E conseguiu um praticante homem e uma praticante mulher do caminho tântrico para realizar o maithuna (união sexual) ante Sri Ramakrishna.
 
E à medida que ele observava o ato, estágio por estágio, ela ia lhe descrevendo, “Observe cuidadosamente. Agora você vê que estão em êxtase. Estão perdendo a consciência exterior.” E nesse estágio, de repente Ramakrishna perdeu também toda consciência exterior e entrou em profundo samadhi.
 
Assim, observando o casal, ele provou para si mesmo que a experiência sexual mais elevada pode elevar a pessoa àquele estado além de toda dualidade.
 
Portanto, a ciência do tantra existe, mas existem poucos instrutores autênticos. Além disso, esse caminho deve ser estritamente seguido sob a supervisão pessoal de um verdadeiro guru.
 
Acredito que a maior parte dos que pregam a moderna sexualidade sagrada estão interessados em lucrar com isso. A força sexual é sagrada; o sexo é sagrado. É uma das coisas mais sagradas. Mas a sexualidade sagrada que pregam atualmente é um equívoco.
 
Se você se enredar na sexualidade, o sagrado se distancia de você. E isso se deve à fraqueza humana. Portanto, não é um caminho que recomendo.
 
 
wami Chidananda
http://yoga-ensinamentos.blogspot.com

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