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domingo, 26 de janeiro de 2020

 PARA LIDAR COM A CULPA



O mal não existe
 
Procure pensar se, em algum momento de sua vida, você já fez o mal de propósito. Se não fez, por que achar que os outros o fazem? Algum doente mental talvez o faça, mas uma pessoa nessas condições não é responsável por seus atos. Todos nós, sem qualquer exceção, procuramos o nosso próprio bem, embora procuremos disfarçar. Acontece que, na maior parte das vezes, esse “bem” não é o que se pensa, não é um “bem” de verdade.

O receio de perder o “bem” nos torna egoístas e até cruéis. E, na verdade, o bem é gratuito e está dentro de nós! Quando pretendemos prender o bem, tornamo-nos vaidosos. Que bobagem! O bem sempre esteve conosco e nem é obra nossa!

O bem existe, é a essência da vida. Quando não conseguimos vê-lo, nem sabemos desfrutar dele, damos-lhe o nome de “mal”. Acontece que o mal em si não existe: trata-se de um ofuscamento ou de uma menor percepção do bem. E o que chamamos de “mal” nos causa medo, porque somos todos feitos para o bem e a felicidade. Perdendo a felicidade de vista, nós nos assustamos; somos tomados por uma inquietação que nos leva ao sofrimento quando não podemos ver a realidade como ela é. Compreendendo tudo, perdoamos tudo. E o perdão só existe quando percebemos que, na realidade, nada temos de perdoar. Assim é o perdão do Pai. A civilização ainda não avançou o suficiente para entender que todo criminoso é um doente que não é responsável por seus atos, do mesmo modo que os loucos. Ambos precisam de cura, não de prisão.

Na presença do amor todos nós mudamos, mesmo quando o amor é duro. Não devemos nos esquecer de que a reação do amor é sempre aquela que a outra pessoa necessita, porque o amor verdadeiro é clarividente e é compreensivo. Sempre está a favor do outro.

Não existe criança má, não existe homem mau. Existem os enganados, os programados e os loucos. Batendo no homem ou colocando-o na prisão, não o curamos. Talvez possamos mudar seu comportamento através da pressão excessiva, causando-lhe medo, mas jamais mudaremos a doença que o faz agir assim, sua compulsão. Ela pode ser reprimida, mas voltará mais tarde e haverá de manifestar- se com maior agressividade e violência.

Na maior parte dos casos, os atos compulsivos têm origem na repressão sexual, manifestando-se de uma forma simbólica — como a cleptomania — para a satisfação de desejos que estão reprimidos no inconsciente. Se não os descobrirmos e dermos passagem livre à sua repressão, os atos compulsivos continuarão ali e jamais serão curados, por mais que procuremos modificar a conduta da pessoa. Se conseguíssemos descobrir a origem de nossas repressões, nós nos curaríamos para sempre. Por isso é tão importante nos conhecer a fundo, estar bem acordados. Conhecendo a nós mesmos, facilmente conheceremos os outros.

O inconsciente humano tem uma importância enorme. Ele é bastante delicado e de sensibilidade enormemente complicada, com exemplos de causa e efeito que, se descobertos, permitiriam resultados quase mágicos. Mas, sem conhecer isso, como uma pessoa poderá mudar? Fazer o mal aos outros é o mesmo que fazer mal a nós mesmos. Quando compreendermos isso, o perdão será muito fácil para todos nós. Poderemos nos defender dos outros, impedindo que nos magoem, mas sem sentir ódio algum, apenas a compreensão do amor clarividente.

O homem é livre, mas não existe liberdade que nos permita distorcer o bem. Só fazem o mal os loucos ou aqueles que estão adormecidos — isto é, aqueles que não sabem o que é a liberdade, ou que não têm liberdade para ser autênticos — porque são escravos de suas compulsões ou de seus medos. Sua motivação é o ressentimento e o egoísmo que os torna cruéis. Temos de nos defender dos seus atos, mas não devemos confundir o doente com sua enfermidade e condená-lo.

Exercício

Pense em alguma coisa que você tenha feito no passado e que, quando recorda, provoca em você sentimento de culpa. Tente entender que, como aquilo que fez tinha para você uma parte agradável, essa parte não permitiu que você visse a injustiça, ou foi mais forte do que ela. Você estava agindo sob os efeitos de sua programação de preconceitos, paralisado e hipnotizado por ela, acreditando que a felicidade estava em fazer aquilo. Não é mesmo? Então vejamos se você consegue ver o que aconteceu como consequência de uma doença da qual gostaria de curar-se.

Se você perceber isso é porque está despertando para a realidade, está sendo sensibilizado. E onde existe sensibilidade — abertura para a verdade — não pode haver pecado. Talvez você esteja doente e precise da cura, de despertar para a realidade. Mas, se já consegue ver isso, é sinal de que está conseguindo, e já sabe porque age dessa maneira.

E veja se consegue perdoar a si mesmo, sem sentir mais nenhuma culpa nem ressentimento. Se de fato compreendeu a situação e aceitou o seu papel nela, não terá mais remorsos nem sentirá rejeição ao recordar os fatos passados.

Agora procure pensar em alguma rejeição, ofensa ou injustiça que recebeu de outra pessoa. Foi mesmo uma ofensa? Ou foi o seu medo e insegurança que o fez sentir–se ofendido? Também é possível que a outra pessoa não soubesse como agir. De qualquer maneira, você deve entender que, agindo desse modo, a outra pessoa prejudicou mais a si mesma do que a você. Você consegue ver as coisas assim?

A outra pessoa é inocente, muito embora tivesse reagido como louca, nesse momento em particular. O importante mesmo é que ela não tem capacidade para ofender você, nem com palavras, nem com atitudes e nem com gestos. Foi a sua insegurança que se sentiu atacada e colocou em guarda os seus mecanismos de defesa. Procure recompor a situação e verá que de fato é assim. Que é o pecado? O pecado existe, mas é um ato de loucura. Você deve preocupar-se apenas em desmontar a programação a que está sujeito e não com o que qualquer pessoa possa dizer.

 
Anthony de Mello em Autolibertação
https://tudopositivo.wordpress.com
 
 
NOTA: Este texto foi postado em Tudo Positivo com o título  "Ensinamento e um exercício para lidar com a culpa"



CULPA
 
A culpa é parte da mente egocêntrica; ela não é espiritual. As religiões a exploram, mas ela nada tem a ver com espiritualidade. A culpa simplesmente lhe diz que você poderia ter feito diferente. Trata-se de um sentimento do ego, como se você não fosse impotente, como se tudo estivesse em suas mãos.

Nada está em suas mãos. Você próprio não está em suas mãos. As coisas estão acontecendo, nada está sendo feito. Uma vez entendido isso, a culpa desaparece. Algumas vezes você pode chorar e se lamentar por algo, mas no fundo você sabe que aquilo tinha de acontecer, porque você é impotente, uma parte de uma enorme totalidade – e você é uma parte muito minúscula. É como quando existe uma folha em uma árvore, vem um forte vento e a folha se separa da árvore. Agora a folha pensa em mil e uma coisas – que poderia ter sido de uma outra maneira, e não dessa maneira, que essa separação poderia ter sido evitada. O que a folha poderia fazer? O vento era forte demais.

A culpa lhe dá uma noção errada de que você é poderoso, de que você é capaz de fazer tudo. A culpa é a sombra do ego: você não podia mudar a situação e está se sentindo culpado a respeito. Se você a investigar profundamente, perceberá que você era incapaz, e toda a experiência o ajudará a se tornar menos egocêntrico.

Se você ficar observando o formato que as coisas tomam, as formas que surgem e os acontecimentos que se desenrolam, aos poucos abandonará o seu ego. O amor acontece – a separação também. Nada podemos fazer a esse respeito. Isso é o que chamo de uma atitude espiritual: quando você entende que nada pode ser feito, quando entende que você é apenas uma minúscula parte de uma tremenda vastidão.

Osho, AboveAll Don´t Wobble
 https://www.oshosukul.com
 
 

POR QUE SOMOS COMIDOS PELA CULPA ?

 
A maioria de nós está ocupada consigo mesma, em diferentes maneiras, da manhã à noite e, consciente ou inconscientemente, vamos alimentando essa corrente. Ao subir subitamente um desafio, esse movimento, essa ocupação egoísta perturba-se e, então, nos sentimos "culpados", sentimos que estamos fazendo algo iníquo, ou que deixamos de fazer algo justo; mas esse sentimento está ainda na corrente da atividade egocêntrica, não é verdade?[...]

Por que deveis sentir-vos "culpado"? Se estais vivendo intensamente, com todo o vosso ser, se percebeis plenamente tudo o que se passa ao redor de vós e dentro de vós, tanto consciente como inconscientemente, onde há lugar para a "culpa"? O homem que vive fragmentariamente, que está interiormente dividido, esse, sim, sente "culpa". Uma parte dele é boa, outra parte é corrupta; uma parte procura ser nobre, e a outra é ignóbil; uma parte é ambiciosa, cruel, e a outra fala de paz e de amor. Essas pessoas sentem-se "culpadas" porque se acham ainda dentro do padrão que elas próprias fabricaram. Enquanto houver atividade egocêntrica, não podereis superar o sentimento de culpa. Só desaparece esse sentimento quando ides ao encontro da vida totalmente, com todo o vosso ser, isto é, quando não há preenchimento de espécie alguma. Vedes então que o sentimento de culpa já não existe, porque não estais pensando em vós mesmos. Não há atividade egocêntrica.

Senhores, se estais escutando, mas não agis, isso é o mesmo que estar sempre a arar sem nunca semear. É melhor não escutar uma verdade, do que escutá-la sem agir, porque ela então se torna veneno. Se aprovais ou desaprovais certas particularidades do que se está dizendo, isso é sem importância; o importante é perceberdes a verdade de que, ENQUANTO FUNCIONARDES DENTRO DO CAMPO DA ATIVIDADE EGOCÊNTRICA, não podeis fugir a várias formas de sofrimento e frustração. O sofrimento e a frustração só podem cessar quando viveis totalmente, com a intensidade de todo o vosso ser, de vossa MENTE, CORAÇÃO e CORPO; e não podeis viver desse modo completo, com essa intensidade, se só cuidais de vossa própria virtude. Podeis estar livres hoje do sentimento de culpa , mas ele surgirá com outra forma amanhã ou um dia depois.

Experimentai isso, senhores, experimentai um pouco viver intensamente todos os dias, com toda a vossa mente, coração e corpo, com tudo o que possuís, e vereis que então não há contradição, não há pecado. É o desejo, a inveja, a ambição, que gera a contradição, e a mente envolvida em contradição NUNCA DESCOBRIRÁ A REALIDADE.

Jiddu Krishnamurti em, O Homem Livre
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 
 
 

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