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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

LIÇÕES DE KRISHNAMURTI
 PARA NOSSAS VIDAS


 
Onde está a segurança? Pode não existir nenhuma segurança, afinal. Perceba a beleza disso – não desejar nenhuma segurança, não ter nenhuma compulsão, nenhum sentimento em que haja segurança. A vida não pode ter segurança; a vida existe para ser vivida, não para criar problemas e depois tentar solucioná-los. Ela existe para ser vivida e depois morrer. Eis um dos nossos medos – morrer.

A mente é silenciosa apenas com a abundância de energia, quando existe aquela atenção na qual toda contradição, o impulso do desejo em diferentes direções, cessou. A mente que não é silenciosa nunca está livre; e só para a mente silenciosa os céus estão abertos. A felicidade da mente não é encontrada através da busca, nem está na fé. Só a mente silenciosa pode receber essa felicidade que não está na igreja ou na crença. Para a mente estar silenciosa, todos os seus cantos contraditórios têm que se juntar e se fundir na chama da compreensão. A mente silenciosa não é a mente reflexiva. Para refletir, deve haver aquele que olha e aquilo que é olhado, o experimentador carregado com o passado. Na mente silenciosa não existe centro de onde se tornar, ser, ou pensar. Todo desejo é contradição, pois todo centro de desejo está em oposição a outro centro. O silêncio da mente inteira é meditação.
 
Verdade é verdade, única. Ela não tem lados, nem caminhos. Todos os caminhos juntos não levam à verdade. Não há caminho para a verdade, ela tem que chegar a você. E ela só pode chegar a quando sua mente e seu coração são simples, claros, e existe amor em seu coração. Quando existe amor em seu coração, você não fala em organizar fraternidade; não fala sobre crença, não fala sobre divisão ou dos poderes que criam divisão, você não precisa buscar reconciliação. Aí você é um simples ser humano sem rótulo, sem um país. Significa que você deve desfazer-se de todas aquelas coisas e permitir que a verdade surja, e ela só pode chegar quando a mente está vazia, quando a mente deixa de criar. Então ela chegará sem seu convite. Ela chegará tão suavemente como o vento e o desconhecido. Chega obscuramente, não quando você está olhando, querendo. Está lá tão de repente como a luz do sol, tão pura como a noite; mas para recebê-la, o coração deve estar cheio e a mente vazia.

O modo como vivemos não tem nenhum significado e nenhum propósito. Podemos inventar um propósito, o propósito da perfeição, iluminação, alcançar a mais alta forma de sensibilidade; podemos inventar teorias infindáveis. E nos tornamos presas dessas teorias, tornando-as nossos problemas. Nossa vida diária não tem significado, não tem propósito, exceto ganhar um pouco de dinheiro e levar um tipo de vida estúpida. Pode-se observar tudo isso em si mesmo; a batalha sem fim dentro de si mesmo, buscando um propósito, buscando iluminação, aprender uma técnica de meditação. Você pode inventar mil propósitos, mas não precisa ir a nenhum lugar, não precisa ir ao Himalaia, a um monastério ou a algum ashram, porque tudo está dentro de você. O mais alto, o incomensurável, está em você, se você souber como olhar. Não pressuponha que isso está lá; essa é uma das peças mais estúpidas que pregamos em nós mesmos: que somos Deus, que somos o “perfeito” e todo o resto dessa infantilidade. Ainda assim, por meio da ilusão, por meio do mensurável, você encontra o que é imensurável; mas você precisa começar consigo mesmo, onde pode descobrir por si mesmo como olhar.
 
O pensamento nunca é novo, porque o pensamento é a resposta da memória, da experiência, do conhecimento. O pensamento, que é velho, torna também velho aquilo que você olha com deleite e que por um momento sentiu profundamente. Do velho vem o prazer, nunca do novo. No novo não existe o tempo.
 
Porque nosso cérebro está sempre ativo, reagindo à tudo. E essa resposta do velho cérebro deve inevitavelmente levar à confusão, à decisão, a operar e agir de acordo com o antigo padrão. Mas quando você vê o fato de que qualquer decisão nasce da confusão e, portanto, de problemas aumentados, sua preocupação não é a decisão, mas se a mente pode estar livre da confusão.
 
A mente está confusa porque responde o tempo todo de acordo com o antigo padrão. Esteja ciente, veja a verdade de que está agindo de acordo com o antigo padrão. Veja a verdade disso, não a sua visão intelectual, veja a realidade disso. A própria visão disso é o fator libertador. É como quando vejo o perigo, há ação instantânea, não há escolha. Do mesmo modo, quando vejo o perigo da decisão nascida da confusão, esse perigo libera a mente do antigo, e há assim uma ação integral que não se baseia em decisão.
 
Como posso viver no presente quando sou o resultado do passado e estou usando o presente como um meio de chegar ao futuro? Isso significa que eu tenho que trazer todo o tempo, o passado, o presente e o futuro, para o presente imediato. Para viver no presente, o tempo deve entrar em colapso.

Certamente, não há nada permanente, e ainda assim a mente exige permanência, segurança, porque tem medo de viver em um estado de incerteza. Viver em tal estado requer muito equilíbrio, compreensão; do contrário, torna-se neurótico. Somente quando a mente não está presa no desejo de permanência, é livre, porque não há nada na terra de Deus, ou interiormente, que seja permanente. Até mesmo sua alma não é permanente, isso é uma invenção dos sacerdotes.
 
Qualquer forma de crença é um obstáculo. Se você está aberto ao desconhecido, não pode haver qualquer crença. Afinal, a crença é uma forma de autoproteção. Quando a mente está completamente vazia, só então é capaz de receber o desconhecido. Somente quando a mente está totalmente silenciosa, completamente inativa, sem cria projeções, quando não busca nada e está totalmente quieta, somente então aquilo que é eterno e atemporal pode ser descoberto.
 
O pensamento é sempre velho – pois o pensamento é reação da memória, e as lembranças são sempre velhas – o pensamento cria, no tempo, a ideia que lhe faz medo, a qual não é um fato real. O pensamento é o responsável pelo medo.
 
Levamos conosco a carga de tudo o que disseram milhares de pessoas, e das lembranças de todos os nossos infortúnios. Abandonar tudo isso, totalmente, é estar só, e a mente que estar só não é apenas inocente, mas também jovem – purificada, viva, qualquer que seja a idade. Só essa mente pode ver o que é a verdade, e aquilo que as palavras não podem medir.

A liberdade é um estado mental; não é estar livre de alguma coisa, porém um estado de liberdade – liberdade para duvidar e questionar todas as coisas e, portanto, uma liberdade tão intensa, ativa e vigorosa, que expulsa toda espécie de dependência, de escravidão, de ajustamento e aceitação. Essa liberdade implica o estar completamente só.
 
Você nunca está só porque está cheio de todas as memórias, todas as murmurações de ontem; sua mente nunca está livre desses trastes imprestáveis que acumulou. Para ficar só, você tem de morrer para o passado.
 
É você – o observador – uma entidade morta a observar uma coisa viva, ou você é uma coisa viva a observar outra coisa viva? Porque, no observador, existem os dois estados.
 
O observador é o censor que não deseja o medo; é o conjunto de todas as suas experiências relativas ao medo. E assim o observador está separado da coisa a que chama medo, há espaço entre ambos; está perpetuamente tentando dominá-lo ou dele fugir, e daí provém essa batalha entre ele próprio e o medo – essa batalha que é uma enorme perda de energia.
 
Observando-o, você verá que o observador é meramente um feixe de ideias e lembranças sem validade, sem substância nenhuma, ao passo que o medo é uma realidade. O observador é o medo e, uma vez percebido isso, não há mais dissipação de energia no esforço para livrar-se do medo, e o intervalo de tempo-espaço entre o observador e a coisa observada desaparece. Quando perceber que você é uma parte do medo, que não está separado dele, que você é o medo, então nada poderá fazer a respeito dele: o medo acabou totalmente.  
 
Você não deve meditar em público ou com outra pessoa, e nem mesmo em grupo. Você sempre deve meditar sozinho, de preferência no silêncio da noite ou na quietude da manhã. Você também não deve seguir nenhum nenhum método, nem repetir palavras, nem fixar a mente em algo ou criar alguma projeção. A serenidade só vem quando a mente está livre de pensamentos. Quando há influência dos desejos ou do que quer que a mente esteja perseguindo, no passado ou no futuro, não há serenidade. Somente na imensidão do presente é que essa serenidade se manifesta.

Choveu muito, e o riacho com águas barrentas desemboca no mar. Na praia, as ondas são enormes e quebram com grande estrondo. Você caminha contra o vento, e de súbito reconhece que não há nada entre você e o céu, e essa abertura total é o paraíso. Estar completamente aberto, disponível para as colinas, para o mar e para as pessoas é a própria essência da meditação. Não resistir, não ter barreiras em relação a nada, ser realmente livre, completamente livre mesmo das menores compulsões e demandas com seus conflitos e hipocrisias. Isso é andar pela vida de braços abertos. Isso é meditação.
 
https://obudaemmim.blogspot.com
 

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