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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

FILHO DO UNIVERSO


“Ao lado de uma disciplina saudável, seja gentil consigo mesmo. Você é filho do universo, assim como as árvores e as estrelas; você tem direito a estar aqui. E, quer você entenda, quer não, o universo está se desenrolando como deveria. Portanto, fique em paz com Deus, seja qual for a forma como você o concebe. E, qualquer que sejam seus trabalhos e aspirações, na confusão ruidosa da vida, mantenha a paz em sua alma. A despeito de todas as fraudes, enganações e sonhos perdidos, este ainda é um mundo belo. Seja alegre. Esforce-se para ser feliz.”

Chegamos a um belo fim da jornada. Esses são os últimos sutras de “Desiderata”. Cada palavra desses sutras está impregnada de imensas possibilidades. Cada palavra tem um significado multidimensional; por isso, tem que ser meditada. Vá devagar com cada uma delas.

“Ao lado de uma disciplina saudável, seja gentil consigo mesmo.”

O que é uma disciplina saudável? A palavra disciplina vem da mesma raiz que a palavra discípulo. Significa “aprender”. Lembre-se: aprender é verbo, não substantivo. Não significa conhecimento; significa o constante processo de saber. Conhecimento é uma coisa morta; você pode acumulá-lo. Até um computador pode ter conhecimento, mas não pode aprender, não pode ser um discípulo. O computador só pode reproduzir o que foi armazenado nele; é mecânico.

O conhecimento é acúmulo mecânico; aprender é um processo consciente. É um processo semelhante a um rio, sempre indo do conhecido para o desconhecido, sempre pronto para explorar. O conhecimento para: o ato de aprender nunca para.

Um homem como Sócrates é um homem que aprende. Mesmo no momento de sua morte, ainda está aprendendo. Quando lhe foi dado veneno, seus discípulos começaram a gritar e a chorar. Ele disse: “Não percam esta oportunidade de aprender alguma coisa sobre a morte. É um dos maiores eventos da vida; na verdade, o maior evento, pois é a culminação, o crescendo, o clímax. Esperem, observem, meditem o que está acontecendo comigo”. Foi o que ele fez. Os outros gritavam e choravam; não estavam ali na condição de quem explora, mas era como se soubessem o que era a morte.

Ninguém sabe o que é a morte, embora todos vocês já tenham morrido muitas vezes; mas ainda não sabem o que é a morte por que perderam a oportunidade de aprender; não estavam suficientemente alertas para aprender. Por isso, morreram e tornaram a morrer… e novamente perderam a oportunidade. Perderam a oportunidade porque ainda acreditam que sabem o que é a morte. Se não sabem sequer o que é a vida, como podem saber o que é a morte?

Uma vez, um homem me procurou e perguntou: “O que acontece depois da morte?”. Eu disse: “Esqueça isso! Primeiro tente aprender o que acontece antes da morte. Você já aprendeu isso? Sabe o que é a vida? Ele respondeu: “Não sei”. Eu disse: “Você está vivo e não sabe o que é a vida – como pode saber o que é a morte? Você só vai saber isso quando morrer. Mas, se não conhece a vida, do mesmo jeito perderá essa oportunidade também”.

Sócrates permaneceu alerta até o último instante. Continuou dizendo aos discípulos, até o último instante, o que lhe estava acontecendo. Estava aprendendo e ensinando.

O verdadeiro Mestre é sempre um discípulo. O verdadeiro Mestre está sempre aprendendo. Nunca reivindica conhecimento; na verdade, reivindica a agnosia, um estado de não-saber. É assim que o define Dionísio: um estado de não-saber. Sócrates disse: “Só sei uma coisa: que nada sei”. Isto é agnosia. O indivíduo tem que permanecer em constante estado de não-saber; nunca deve se tornar instruído. No momento em que ele se tornar instruído, o processo de aprendizagem para, ele chega a um ponto final.

Sócrates dizia a seus discípulos: “Ouçam, vocês podem gritas e chorar mais tarde, isso pode ficar para depois, não é essencial agora. Neste momento, algo imenso está acontecendo. Meus pés estão ficando amortecidos, algo imenso está acontecendo, mas é estranho: embora estejam morrendo, não me sinto morrendo”. Em seguida: “Minhas pernas estão totalmente adormecidas, não as sinto. Elas estão mortas, mas ainda estou inteiro. Nada me falta. Quando à minha consciência, ela não foi tocada pela morte”. E ainda: “Minhas mãos estão desaparecendo”. E continuou: “Temo agora que a qualquer momento meu coração pare; ele está afundando. Mas ainda estou tão inteiro como sempre fui; então, uma coisa é certa: pela morte do corpo, o indivíduo não morre. A morte acontece com o corpo, não com a consciência, pois minha consciência ainda está intacta”. Suas últimas palavras foram: “Minha língua está ficando amortecida e não posso mais falar, mas lembrem-se: mesmo agora continuo tão inteiro como sempre fui. Nada morreu em mim. Alguma coisa morreu à minha volta, na periferia, mas, em contraste, o centro está, na verdade, mais vivo do que nunca. Eu me sinto mais vivo porque o corpo está morto, toda a vida se tornou concentrada. Desapareceu de meu corpo, da circunferência. Tornou-se focalizada em um único ponto: no ‘eu sou'”. Essas foram suas últimas palavras. Esse é o processo de aprendizagem.

Uma pessoa com muitos conhecimentos é sempre uma pessoa estúpida, não é inteligente. Você não vai encontrar eruditos inteligentes; eles não conseguem ser.

Osho
https://bibliotecaoshobrasil.wordpress.com

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