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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

DISTANCIAMENTO E INDIFERENÇA
 
 
Como posso perceber se estou a cultivar o distanciamento ou a indiferença?

Não é difícil saber. Como é que você percebe que tem uma dor de cabeça, ou como é que você sabe que não tem uma dor de cabeça? É simplesmente claro. À medida que você vai crescendo em distanciamento irá ficando mais saudável, mais feliz; a sua vida tornar-se-á uma vida de alegria. Esse é o critério de tudo o que é bom. A alegria é o critério. Você está a crescer em alegria, está a crescer e está a dirigir-se para casa. Com indiferença, não há qualquer possibilidade de a alegria poder crescer. De fato, se você tiver alegria, isso desaparecerá.
 
A felicidade é saúde e, para mim, a religiosidade é basicamente hedonista. O hedonismo é a própria essência da religião. Ser feliz é tudo. Lembre-se: se as coisas estiverem correndo bem e se você estiver indo na direção certa, cada momento irá trazer mais alegria - como se estivesse caminhando em direção a um belo jardim. Quanto mais próximo está, mais limpo, fresco, mais fragrante o ar se torna. Este será o indício de que está a mover-se na direção certa. Se o ar se torna menos limpo, menos fragrante, então está cminhando na direção errada.
 
A existência é feita a partir da alegria. É a sua própria matéria. A alegria é o material de que a existência é constituída. Assim, se você estiver a mover-se para tornar-se mais existencial, encher-se-á mais e mais de alegria, de prazer, sem motivo aparente. Se estiver a mover-se no sentido do distanciamento, o amor irá crescer, a alegria irá crescer, só os apegos desaparecerão - porque os apegos trazem infelicidade, porque os apegos trazem grilhetas, porque os apegos destroem a sua liberdade.
 
Mas se estiver a sentir-se indiferente... A indiferença é uma moeda falsa; lembra distanciamento. Nada irá crescer nela. Você simplesmente irá encolher-se e morrerá. Vá e veja: há tantos monges no mundo - católicos, hindus, jainistas, budistas - observe-os. Eles não dão uma ideia de brilho, não têm uma aura de fragrância, não parecem mais vivos do que você está; de fato, eles parecem menos vivos, aleijados, paralisados. Controlados, é certo, mas não por uma profunda disciplina interior; controlados, mas não conscientes. Seguindo uma certa consciência que a sociedade lhes deu, mas ainda não conscientes, ainda não livres, ainda não individuais. Eles ainda vivem como se estivessem nas suas sepulturas, esperando somente a morte. A sua vida torna-se morosa, monótona, triste - é uma forma de desespero.
 
Acautele-se. Sempre que alguma coisa de mal está ocorrendo, há indícios no seu ser. A tristeza é um indício, a depressão é um indício. A alegria e a celebração são também indicadores. Mais cantigas acontecerão consigo se caminhar para o distanciamento. Dançará mais e tornar-se-á mais afetivo.
 
Lembre-se: o amor não é apego. O amor não conhece apegos e aquilo que conhece apegos não é amor. É possessão, domínio, fixação, medo, ganância - poderá ser mil e uma coisas, mas não é amor. Em nome do amor, outras coisas são exibidas, em nome do amor, outras coisas se escondem, mas a marca 'Amor' está presa ao recipiente. No seu interior estarão muitos tipos de coisas, mas amor não. 
 
Observe. Se está ligado a alguém, quer dizer que ama essa pessoa? Ou tem medo da sua solidão? Porque você não pode estar só, e por isso usa esta pessoa para não estar só. Então você tem medo. Se essa pessoa vai para outro lado ou se apaixona por outra pessoa, então você mata essa pessoa e diz: “Eu estava tão preso a ela que não podia viver sem ela, ou ele.”
 
É pura loucura. Não é amor, é outra coisa. Você tem medo da sua solidão, não é capaz de estar consigo, precisa de alguém que o distraia. E quer possuir a outra pessoa, quer usar a outra pessoa como um meio para atingir os seus próprios fins. Usar uma pessoa como um meio é uma violência.
 
Immanuel Kant fez disso um dos fundamentos da sua vida moral. Ele costumava dizer que tratar alguém como um meio é o ato mais imoral que existe. Porque quando você trata outra pessoa como um meio - para sua gratificação, para satisfazer o seu desejo sexual, porque tem medo, ou por qualquer outro motivo -, quando você usa outra pessoa como um meio, está a reduzi-la a uma coisa. Está a destruir a liberdade dela ou dele, está a matar-lhe a alma.
 
A alma só pode crescer em liberdade - o amor dá liberdade. E quando você dá liberdade, você é livre; isso é o que significa distanciamento. Se você coloca grilhetas no outro estará igualmente a aprisionar-se. Se você se prende ao outro, o outro prende-se a si; se você define o outro, o outro irá defini-lo a si; se você estiver a tentar possuir o outro, o outro possui-lo-á a si.
 
É assim que os casais passam a vida a lutar para dominar o outro. Ambos lutam, cada um à sua maneira. É uma implicação constante, uma luta constante. E o homem pensa que controla a mulher e a mulher pensa que controla o homem. Mas o controlo não é amor.
 
Nunca trate uma pessoa como um meio. Trate toda a gente como um fim em si - você não se fixa, deste modo não está apegado. Você ama, mas o seu amor dá liberdade - e quando dá liberdade ao outro, você é livre. Só em liberdade a sua alma pode crescer e assim sentir-se-á muito, muito feliz.
 
O mundo tornou-se um lugar de grande infelicidade - não porque o mundo seja um lugar infeliz, mas porque fizemos algo de errado com ele. O mesmo mundo pode tornar-se uma celebração.
 
Você pergunta: Como posso perceber se estou a cultivar o distanciamento ou a indiferença? Se você está sentindo-se feliz, se você se sente feliz com o que quer que esteja a crescer, mais centrado, mais ligado à terra, mais vivo do que antes, então vá, precipite-se, pois não existe medo. Deixe a felicidade ser a pedra de toque, o critério - nada mais pode ser o critério.
 
O que quer que as Escrituras digam não é um critério, a menos que o seu coração esteja palpitante de felicidade. O que quer que eu diga não pode ser um critério para você, a menos que o seu coração esteja palpitante de felicidade. No momento em que você nasceu lhe foi dado um indicador sutil. Faz parte da vida que você possa sempre conhecer o que está acontecendo, que você possa sentir sempre que está feliz ou infeliz. Ninguém pergunta se você se sente feliz ou infeliz. Nunca ninguém perguntou. Quando você está infeliz, você sabe; quando você está feliz, você sabe. É um valor intrínseco. Você o conhece, nasceu com ele, deixe essa indicação intrínseca ser usada e nunca falsifique a sua vida.
 
 
Osho em, Amor, Liberdade e Solidão - Uma Nova Visão dos Relacionamentos 

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