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segunda-feira, 4 de junho de 2018

TRABALHANDO COM 
A RAIVA E AVERSÃO



Apego e raiva são dois lados da mesma moeda.
 
Diz-se que não há mal que se compare a raiva: por sua própria natureza, a raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade nasce dela, a raiva é uma das mais potentes forças negativas. Raiva e aversão podem levar à agressão.
 
 
Trabalhando com a Ignorância
 
Ao rastrear as causas da nossa confusão e sofrimento, chegamos ao problema fundamental da nossa ignorância básica. A razão pela qual sofremos como sofremos, a razão pela qual encontramos os problemas que encontramos, a razão pela qual continuamos a vagar pelo Samsara – a existência cíclica -, é o fato de não estarmos cientes da nossa verdadeira natureza.
 
Nossa vida, do nascimento à morte, é semelhante a um longo sonho. E cada sonho que temos à noite constitui um sonho dentro do sonho.
 
No sonho da vida, pensamos que estamos acordados, mas, de fato, ainda estamos sonhando. Apenas ocorre que o despertador ainda não soou.
 
Somos sonhadores e vivemos os sonhos curtos da noite dentro deste sonho longo da vida, dentro do sonho ainda mais longo do vir-a-ser do Samsara.
 
Saber que a nossa realidade não representa toda a verdade da existência nos liberta do sofrimento. Deixamos de estar controlados, por nossos medos ou nossos apegos.
 
Conhecer a verdadeira natureza da nossa experiência e manter esses conhecimentos é o meio para alcançarmos a iluminação. A iluminação é algo novo. Não é algo que criamos ou fazemos com que passe a existir. Iluminação significa simplesmente descobrir nossa própria natureza intrínseca, chamada de Buda.
 
A sabedoria – o conhecimento da nossa verdadeira natureza – é o antídoto direto da ignorância, do desconhecimento. É a chama que debela a escuridão da nossa mente. O caminho budista nos leva a uma posição de conhecimento ligado à sabedoria, que toma o lugar do conhecimento ordinário que informa nossas atividades do dia a dia.
 
 
A Vida Diária como Prática Espiritual 
 
É muito importante compreender a sorte que é ter um corpo humano. A maioria de nós toma a existência humana de forma ligeira, sem valorizá-la o suficiente; nós nos tornamos insensíveis à alegria natural que é ter uma forma humana.
 
Este corpo humano é um veiculo raro e nós precisamos usá-lo bem, sem demora. A finalidade mais elevada de um nascimento humano precioso é progresso espiritual.
 
Chegar à compreensão de impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes, nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira pratica espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa transformação em nossa mente e em nosso ser. Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais.
 
A aplicação da pratica espiritual na vida diária começa quando você acorda pela manha. Alegre-se por não ter morrido à noite, por saber que terá mais um dia útil pela frente – você não pode garantir que terá dois. A seguir, recorde-se da motivação correta. Em vez de se propor a ficar rico e famoso ou seguir seus próprios interesses egoístas, vá ao encontro do dia com a intenção altruísta de ajudar os outros. E renove seu compromisso a cada manhã.
 
Antes de ir dormir à noite, não pule simplesmente na cama e caia no sono. Em vez disso, passe o dia em revista. Pergunte-se “Como foi que eu me saí? Minha intenção era não ferir ninguém – eu consegui isso? Eu pretendia cultivar alegria, compaixão, amor, equanimidade – eu fiz isso?”.
 
“Eu busquei desenvolver tendências positivas? Será que eu basicamente tenho sido uma pessoa virtuosa? Ou será que tenho passado a maior parte do meu tempo agindo negativamente, envolvido com atividades não virtuosas?”. Faça-se essas perguntas de forma critica e honesta. Qual é o resultado quando você de fato confere esses dados?
 
Se verificar que sua conduta deixou a desejar, não ajuda em nada sentir-se culpado ou se recriminar. O objetivo é observar o que você fez, porque suas ações nocivas podem ser purificadas. A negatividade não fica gravada no terreno da mente de forma indelével. Ela pode ser modificada. Portanto, olhe em retrospectiva. Se você enxergar defeitos e deslizes, chame por um ser de sabedoria. Você não precisa ir a um lugar especial, pois não há lugar onde a prece não seja ouvida. Não importa se você considera a perfeição como sendo Deus, Buda ou uma deidade. A perfeição absoluta propicia a você as bênçãos da purificação.
 
Confesse, tendo aquele ser de sabedoria como sua testemunha, e arrependa-se sinceramente do mal que você causou, comprometendo-se a não repeti-lo. Enquanto você medita, visualize luz irradiando-se do objeto de perfeição, limpando você e purificando todos os erros do seu dia, da sua vida, de todas as vidas que você já viveu.
 
Quando você olha para o seu dia, pode ser que veja ter conseguido trazer felicidades aos outros. Dedique a energia positiva criada por suas ações a todos os seres, sejam eles quem forem, seja qual for a condição em que se encontrarem, pensando: “Possa esta virtude aliviar o sofrimento de todos os seres; possa ela lhes trazer felicidade no presente e no futuro”.
 
Durante o dia, verifique como está sua mente. Como está sendo meu comportamento ? Qual é minha real intenção ? Você pode realmente conhecer a mente de uma outra pessoa? A única que você conhece, de verdade, é a sua própria. Sempre que puder, contemple esses pensamentos: a preciosidade do nascimento humano, a impermanência, o carma de sofrimento dos outros seres. 
 
Na prática da meditação no cotidiano, trabalhamos com dois aspectos da mente: sua capacidade de raciocinar e conceitualizar - o intelecto -, e a qualidade que está além do pensamento - a natureza não conceitual e ilimitada da mente. Utilizando a faculdade racional, você contempla. Depois, deixa a mente repousar. Pense e, então, relaxe; contemple e, então relaxe. Não use um ou outro exclusivamente, mas ambos em conjunto, como as duas asas de um pássaro.
 
Não é possível mudar a mente com uma hora de meditação diária. Você tem que prestar atenção a seu processo espiritual ao longo de todo dia, enquanto trabalha, joga, dorme; a mente precisa estar sempre se direcionando para a meta final da iluminação.
 
Quando você está imerso nas coisas do mundo, conserve sua mente naquilo que está fazendo. Não se deixe distrair. Não pense em cem coisas ao mesmo tempo. Não fique viajando no que aconteceu ontem ou no que pode acontecer no futuro.
 
Sempre se observe de forma minuciosa, reduza os pensamentos, palavras e comportamentos negativos, e aumente aqueles que são positivos. Pense com cuidado constantemente e refaça seu foco, pois você pode ficar com a mente nublada muito facilmente. O que a meditação produz é um constante recolocar do foco. Você tem que trazer de volta a intenção pura vez após vez. Então, relaxe a mente para permitir um reconhecimento direto e sutil daquilo que está além de todo pensamento.
 
Na tradição do budismo, há muitos ensinamentos profundos, mas o que apresentamos aqui é o néctar doce que constitue  a essência de todos eles. O cultivo da bondade do coração ao longo de todo cotidiano, a prática de virtude, compaixão, equanimidade, amor e alegria - esse é o caminho da iluminação.
 
 
Chagdud Tulku Rinpoche
http://tudosobreobudismo.blogspot.com  
 

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