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segunda-feira, 25 de junho de 2018

DEUS O MENOR DOS MENORES



“Deves meditar na Pessoa Suprema como aquele que sabe tudo, como Ele que é o mais velho, aquele que é o controlador, que é o menor dos menores, o mantenedor de tudo, que está além de toda concepção material, que é inconcebível, e que é sempre uma pessoa. Ele é luminoso como o sol e, sendo transcendental, está além desta natureza material.” (Senhor Krishna, Bhagavad-Gita, 8.9)



É natural ficar encantado pelas coisas que são grandiosas. Especialmente nos casos em que o objeto ou a habilidade em questão for algo que não conseguimos conceituar, o objeto chamará nossa atenção. Por exemplo, se jogamos um esporte em particular, e vemos alguém se sobressair além do imaginável nele, ficaremos intrigados com sua habilidade. Durante o curso de nossos afazeres diários, desenvolvemos quadros de referência a respeito da vida ao nosso redor. Ver coisas que ultrapassam em magnitude estes pontos de referência será certamente considerado único e digno de atenção.

Quando o foco muda para a vida espiritual, a mesma atração pela a grandeza continua. “Se há um Deus, Ele deve ser tremendo. Ele deve ser mais fascinante do que qualquer outra coisa que eu tenha visto. Ver essa grandeza dará evidência da Sua existência. Sem prova visual, não posso acreditar que Ele realmente exista.” Este é um entendimento imaturo, no entanto. Simplesmente porque a natureza do mundo em que vivemos é tal que aquilo que aqui consideramos incrível na verdade não o é. Tudo é um aglomerado grosseiro de matéria, e para que essa matéria se mova e se transforme tem de haver uma força-guia superior. O tamanho desta força é infinitamente pequeno: o realmente incrível é Aquele que pode também ser, além de grandioso, menor do que o menor.


“Ó melhor dos Bharatas [Arjuna], quatro tipos de homens devotos rendem seus serviços devocionais a Mim – o perturbado, o desejoso de riqueza, o inquisitivo, e aquele que está buscando conhecimento do Absoluto.” (Senhor Krishna, Bhagavad-Gita, 7.16).
 
 
O retorno à senda espiritual costuma ocorrer quando há uma perturbação, um desejo de benesse, uma inquisição sobre verdades maiores ou uma sede de informação a respeito do que já se sabe ser a Verdade Absoluta.

O cenário da perturbação se dá quando, por exemplo, há uma morte repentina de um ente querido. Esta experiência automaticamente diminui a significância da grandeza das coisas ao nosso redor, pois qual é a graça em que alguém tenha grandes alegrias materiais, se eventualmente terá de sair do corpo? Desta forma, a perturbação pode desencadear perguntas sobre como tudo funciona.

O desejo de receber bênçãos, como por exemplo o acúmulo de riqueza, é ainda enraizado na ignorância, mas ao menos você reconhece que há uma autoridade superior. Um benefício pessoal durará apenas o tempo que seu corpo estiver intacto, e mesmo esta duração acontece apenas em casos raros. Por exemplo, quantos dos bens que buscamos permaneceram relevantes para nós durante todo o curso da nossa vida, até o fim? Na maior parte do tempo o prazer tem vida curta, pois encontramos hoje um brinquedo que apreciamos, para movermo-nos em direção a outro amanhã.

Quando uma pessoa realmente sabe que há uma Verdade Absoluta, saber mais sobre Ela tira o foco da grandiosidade material e leva a atenção para a verdadeira posição do Mestre Supremo e para como Ele consegue ser tanto o maior dos maiores quanto o menor dos menores. A inclinação inicial para a grandeza é baseada na ignorância das leis espirituais. A habilidade que existe em todas as criaturas é a Alma Suprema, que vive lado a lado com a alma individual. É a presença da alma que indica vida, que dá sentido a um aglomerado de matéria. Quando a alma parte, consideramos o corpo como morto, mas enquanto a alma está nele, o corpo fica vivo e é capaz de agir.

Quando ignoramos estes fatos, que são tão belamente apresentados nos textos Védicos como o Bhagavad-Gita, o foco permanece na grandeza. Assim, alguém com muito dinheiro, por exemplo, é considerado superior porque não precisa se preocupar com o que comer ou onde morar. Este alguém supostamente demonstraria uma sabedoria maior em como receber o melhor retorno pelo seu trabalho, em comparação a outra pessoa que, empregando a mesma energia, recebesse um menor salário.

Mas perde-se nesta análise o fato de que os animais, que são considerados menos inteligentes, empregam muito menos esforço para gozar da mesma felicidade. Sem trabalhar o dia todo, eles encontram comida, vestimenta e abrigo. Eles podem comer, dormir, copular e se defender sem muitos problemas. Eles são tão despreocupados que não tem nenhum fardo mental ou emocional. Claro, eles não conseguem apreciar a alta cultura, como as artes e a filosofia. Mas se o ser humano quiser apenas o deleite grosseiro dos sentidos, então o animal tem uma existência superior.

Sem o conhecimento do espírito, quando se ouve falar em Deus a demanda inicial é por ver grandeza. No entanto tamanha é a benevolência do Mestre Supremo que Ele conhece essa tendência no homem. Se você insistir em ver o quão grande é Deus usando a sua própria ignorância da futilidade material – um barômetro furado – o Senhor Supremo pode mostrar a você o Seu virat-rupa, ou forma universal. 
 
Pense então na coleção completa de tudo, o maior recipiente que contém a maior quantidade de coisas. É a isto que o virat-rupa pode ser comparado: o container da coleção completa de entidades vivas e suas capas materiais. Quando você vê esta forma, você essencialmente viu tudo.

Mas os estudantes espirituais avançados não focam no virat-rupa. Isto porque para eles há aspectos do Senhor Supremo que são mais dignos de atenção. Que significância tem um amontoado de matéria, especialmente se vamos sair do nosso corpo ao fim da vida? A alma é a mesma quando está no corpo de uma formiga ou no corpo de um humano, então as grandes habilidades e posses são relativamente imateriais.

Mais incrível que a manifestação universal de Deus é a Sua habilidade de tomar a menor das formas: aquela do Krishna menino que corre pelo quintal na casa da mãe Yashoda e do pai Maharaja Nanda. As almas devotas focam neste aspecto do Senhor Supremo porque é o mais delicioso, e propicia um insight mais profundo sobre Sua verdadeira natureza, sobre como Ele é uma personalidade com qualidades destinadas a dar prazer.

Um iogue hábil não estará interessado em maya, naquilo que não é Brahman [Deus]. Brahman é Verdade; é Espírito. Maya é a matéria ao nosso redor, que confundimos com nossa identidade e com nossa fonte de felicidade. Brahman associa-se com sua maya quando aparece na terra, através de Sua própria vontade. No entanto, esta maya não afeta ele da forma como nos afeta. As formas pessoais de Brahman não são consideradas parte da energia material. Esta habilidade de transcender a dualidade é muito mais incrível do que Sua habilidade de mostrar a forma universal, a altura e a grandeza.

O estudante que enxerga com amor devocional se emociona com a vontade de Deus em ter aparecido em Vrindavan [cidade onde Krishna passou a infância] e ter zanzado por aí como uma criança pequena, pregando peças juvenis e agindo como se fosse dependente dos mais velhos, que O amam incondicionalmente. O menino Krishna, esse pequeno pacote de alegria, é o criador deste e de todos os outros universos, e é a Super Alma que dorme em todas as criaturas. E, no entanto, Ele aparece para deliciar aqueles que gozarão de Sua companhia, aquecendo-se na doçura de Sua visão e Sua brincadeira.

Este é um estágio mais avançado, reservado aos mais inteligentes, pois apenas quando se ignora as energias material e espiritual se pode considerar que a supremacia esteja no ter, na acumulação de matéria. Apenas por ignorância insistiríamos em ver a forma universal de Deus, quando tal manifestação já existe tanto na teoria quanto na prática. Os não devotos sempre pedirão a Deus que os mostre o quão grande Ele é, mas os devotos se impressionam mais com o quão pequeno o Senhor pode se tornar, com como Suas habilidades viajam em ambas as direções.

A grandeza de Deus é tamanha que mesmo dentro da sua mente Ele pode se deliciar, enquanto que a energia material, mesmo quando dentro de nosso campo imediato de visão, causa tanta dor. Mude sua mente para Vrindavan, cantando sempre os nomes sagrados “Hare Krishna Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare”, e deixe o filho sapeca de Yashoda brincar no seu quintal.

 
Tudo que é, foi e será,
De Deus você demandará ver.

Grandeza de matéria é tudo que você conhece;
O alvo é que as posses e habilidades cresçam.

Mas saiba que a matéria não representa sua identidade;
Por um propósito maior para a forma humana você foi mandado.

Com entendimento apropriado, incrível é o alto,
E incrível é também o inacreditavelmente pequeno.

No quintal de Yashoda você irá querer ver Deus brincando,
Sempre apresentando aos seus devotos passatempos deliciosos.
 
 
Texto extraído, traduzido e adaptado do blog Krishna’s Mercy
http://www.melhorconsciencia.com.br 
 

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