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terça-feira, 12 de junho de 2018

PELO FATO DE SERDES LIVRES 
SOIS LIMITADOS



O homem, sendo livre é limitado. Isto é: o homem não tendo autoridade externa a guiá-lo, nem controle algum divino, é livre de fazer exatamente o que deseja. E, em sua falta de sabedoria, em sua limitação, em sua liberdade que, para ele, é limitação, luta, por meio dessa limitação, para libertar-se, posto que sendo intrinsecamente livre. Por um processo de aquisição, de rejeição e por ser livre, cresce, por meio da limitação para a liberdade. Não sois livres todos vós? Fazeis exatamente aquilo que vos apraz, ninguém vos guia, ninguém vos diz o que é reto e o que é errado, sois absolutamente livres na escolha de ações, de sentimentos e pensamentos. Pelo fato de serdes livres sois limitados. Se existisse um ser super-humano a guiar-vos, a controlar-vos, a dominar-vos — ainda que esse ser fosse livre vós serieis limitados, jamais livres. Dado serdes livres de fazer vossa escolha e como a vossa escolha é limitada, logo vossos desejos, vossos pensamentos são limitados também; por serdes livres sois limitados; e por meio dessa limitação, pela aquisição, pela renúncia, pela colheita e pela rejeição, cresceis na direção dessa liberdade que é a própria Vida da qual inconscientemente sois parte. Sendo livres, colheis experiência por intermédio do desejo. O desejo exige experiência sendo esta a sua externação. E por meio da experiência cresceis para chegar a essa condição, a esse estado em que estareis para além de todo o desejo, e, portanto, tereis ultrapassado toda a experiência pelo fato de haverdes passado através de toda a experiência e por intermédio do desejo.

A não ser que conheçais a substância do "Eu", a pureza, a força do "Eu", estareis mortos para o "Eu". Para descobrirdes este "Eu" resplandecente, para adquirirdes a calma, essa condição de imperturbabilidade, essa força, essa certeza, tendes que passar pelo processo de eliminação. Para que o "Eu" consiga essa incorruptibilidade, que é perfeição, não pode, em um mínimo detalhe que seja, ser imperfeito, pois que a perfeição repele toda imperfeição. Por um processo de eliminação, de rejeição, de renúncia — ou sejam quais forem as palavras que empregueis —, necessitais chegar a esse estado da mente e do coração em que o "Eu" é calmo, claro, puro, determinado, enérgico e entusiasta. Para adestrardes a mente e o coração na luz do eterno, tendes que vos libertar das coisas não essenciais. Como já vos disse: as coisas não essenciais são determinadas pelo medo e ao vos libertardes delas chegais ao que é essencial, duradouro, ao que é o "Eu". Isto não quer dizer que tendes que abandonar o mundo e criar um mosteiro, que temos que repelir o mundo, porém vivendo no mundo, que é a expressão do "Eu", precisais entender a verdadeira substância do "Eu". E para descobrirdes este "Eu", tendes que desembaraçá-lo de todas as coisas externas. Este é o único caminho direto.

Se entenderdes aquilo que vos digo, então as vossas ações, os vossos feitos, pelo fato de haverdes encontrado o verdadeiro "Eu" — não serão portadoras do fruto da tristeza nem criarão a limitação que é tristeza.

Da cessação de toda a perturbação, resulta o libertar-se da ilusão.

Se em qualquer tempo vossa mente e coração forem passiveis de perturbação, então a compreensão verdadeira, o verdadeiro entendimento do eterno, cessará. Para que não mais haja perturbação do "Eu", para possuirdes uma mente e um coração puros, plácidos, calmos, fortes, resolutos, determinados, equilibrados, tendes que eliminar todas as coisas não essenciais que em qualquer tempo possam vir a perturbar o seu equilíbrio. O verdadeiro entendimento do "Eu", que é o "Eu" de todos, provem do desapego de todas as coisas que não forem essenciais. E as coisas não essenciais são o produto do medo, da limitação, do desejo que amarra. Somente vos podereis libertar da ilusão e atingir o estado de certeza de que vos falo, por meio desse processo de eliminação.

Enquanto existir separação do "Eu" em relação ao todo, há limitação, há dor, tristeza, vida e morte, tempo, espaço e ilusão. Pelo fato de a perfeição repelir toda a imperfeição, o "Eu" necessita revestir-se de incorruptibilidade para tornar-se parte dessa formosura, parte desse todo que é perfeição. E, assim como as abelhas esperam pela primavera, pelas flores deliciosas, assim também este é o tempo do homem para a descoberta do "Eu"! pelo menos enquanto aqui vos encontrais, deveríeis concentra-vos sobre esta coisa única, de modo a, por vós próprios, estabelecerdes essa certeza do que é essencial e rejeitar tudo que o não é, pois isto é que é pura inteligência, a qualidade do verdadeiro "Eu".

De nada serve vos descartardes se não souberdes de que. Se vos descartardes das coisas somente porque eu vos digo ou por causa do medo, então, absolutamente não vos estareis descartando de coisa alguma, somente estareis criando um novo temor no lugar do antigo.

A Verdade, eu vos expliquei cuidadosamente o que eu entendo por Verdade, constitui um perigo para todas as sociedades, para todas as crenças organizadas, para todos os sistemas de pensamento. Se um indivíduo, vós ou qualquer outro possuir esta Verdade, então, será ele automaticamente uma casa de força que há de varrer todas as coisas não essenciais que o rodeiam. Ele, porém, não pode organizar a Verdade. Se perceberdes essa Verdade e viverdes essa Verdade e vos tornardes parte dessa Verdade, então vos tornareis como a luz solar que dissipa todo o nevoeiro. A Verdade de que falo constitui um perigo para o que quer que não seja essencial. Tendes, porém, que verificar por vós próprios o que é essencial e o que não é. Eu não vos posso dizer.

Não podeis organizar a Vida ou a Verdade. Se eu quiser ir a Londres, utilizo-me de uma corporação que me forneça bilhetes. Se porém, uma instituição qualquer entendesse de querer levar-me para o céu, eu dela prescindiria, pois que sei que o céu não é um lugar que exista fora de mim mesmo. Sabeis o que eu quero dizer? Todas as crenças, todas as ideias de salvação, de sermos conduzido para um céu especial são tentativas para organizar o pensamento humano. Não se pode, porém, sistematizar o pensamento e por meio dessa sistematização escravizar a mente. Importa aquilo que sois, e não o que fazeis ou de como haveis de converter o mundo. Falo-eis, se fordes belos e bondosos, se vosso semblante evidenciar vosso pensamento, se realmente fordes alegres, pois que, então, todos virão a vós para ver como vos arranjais para conseguir isso neste mundo tão caótico.

Assim, voltando ao ponto principal: É como indivíduos que vos deveis tornar centros dessa energia dinâmica que varre para o lado tudo que não é essencial — como indivíduos, não como corporação organizada. Se, como indivíduos, fordes inquebrantáveis acerca de certa coisa por saberdes ser ela real, então vireis a modificar o mundo. Não podereis, porém, modificá-lo se vós próprios vos encontrardes inseguros. Para vos certificardes da verdade do que vos estou dizendo, que é que deveríeis de fazer? Em primeiro lugar ponderar se vossa edificação da vida é baseada na autoridade, se os vossos deuses, se os vossos temores têm existência real, e, depois, pelo processo da eliminação interna começar a ter em consideração os verdadeiros valores da vida A fixação interna do que é essencial, eis o vosso trabalho preliminar, vital.

Quando ontem vos falei acerca do temor da salvação, tive em vista, significar o apego ao culto, à prece, aos deuses externos, às autoridades, às superstições, aos ritos, às igrejas, aos santuários, e aos templos. O fato de vos atemorizardes com tudo isso significa que ainda vos apegais ao que não é essencial. Sede realmente honestos, não hipócritas, e então havereis de verificar como essas coisas afetam a vossa vida.

Vós ireis para o mundo a informá-lo daquilo que Krishnaji disse. Se Krishnamurti diz que certas coisas não são essenciais e vós pondes em prática essas coisas não essenciais, condescendendo com elas, a gente de fora naturalmente há de perguntar: "Se Krishnamurti ainda não alterou a vossa vida; se vós, em pessoa, não haveis modificado a vossa mente e coração, de que vos serve falar-me a mim?" Isto não quer dizer que eu vos queira convencer a vós, a outros ou a quem quer que seja. Quero porém, que verifiqueis que, a partir do momento em que vos tenhais certificado das coisas essenciais das quais vos falo, naturalmente vos vireis a modificar a vós próprios. Isto é o que importa.

Deveis assegura-vos de tal modo, do que é essencial que possais proporcionar ao "Eu" a veste da incorruptibilidade e, pelo fato de envergardes essa veste — vos torneis um perigo para tudo quanto for corruptível.

É como indivíduos que criais coisas que não são essenciais. Elas não vem à existência por si próprias, vós as criais, por não saberdes como distinguir entre o que é essencial e o que não o é. Quem criou todas as mesquitas, templos e igrejas do mundo? Os supersticiosos, os sacerdotes, vós e eu. Por causa da nossa falta de discernimento daquilo que é duradouro e daquilo que é passageiro.

Quando cessardes de dar expressão às coisas externas, não essenciais, naturalmente vireis a criar o que é essencial. E esta criação é da máxima importância: Não simplesmente o afastamento daquilo que é antigo, porém a criação do que é novo.


 
Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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