A PLENITUDE DA SIMPLICIDADE
Disseram-me um dia, Senhor, que tu existias antes que ser algum existisse.
E eu pensei com terror nessa tua eterna solidão – e quase tive pena de ti.
Não sabia eu, nesse tempo, que o teu eterno existir não era uma eterna solidão, um vácuo imenso, um deserto metafísico – mas sim, uma eterna epopeia de luzes e cores, um drama de intensa atividade, um universo de exuberante beleza.
Dentro do teu divino poder fulgia um sol imenso de saber e cantava um paraíso de querer – e onde há poder, saber e querer, existe a plenitude da felicidade.
Todas as energias do poder que, em pequeninas parcelas, andam esparsas pelo vasto panorama do cosmos – residem, centralizadas, em ti, ó Pai eterno. Todas as luzes do saber que, com flamas celestes, iluminam inteligências angélicas e humanas – estuam no teu seio, ó Filho eterno.
Todos os incêndios do querer que, em vivas labaredas, ardem em milhares de corações amantes – lavram com ilimitada potência, em tuas profundezas, ó eterno Espírito Santo.
A eterna Divindade era um eterno intercâmbio de potência e amor. Para a nossa acanhada concepção humana, parece a multiplicidade excluir a unidade – mas, no seio da Divindade, atinge a pluralidade o mais alto zênite da unicidade.
Tão absoluta e inexorável é a unicidade do seu Ser que nenhuma pluralidade do Agir vale destruir-lhe a unidade Ainda que pluri-color seja a luminosa faixa creada pelo prisma triangular, não deixa a luz solar de ser essencialmente uni-color – porque oni-color.
Nós, as creaturas, somos simples por deficiência – o Creador, porém, é simples por abundância.
Nós, para não pôr em perigo a nossa relativa simplicidade, temos de evitar solicitamente a multiplicidade – para que a força centrífuga da dispersão não nos destrua a força centrípeta da coesão.
Tu, porém, meu Deus, podes aventurar-te aos mais longínquos horizontes da aparente dispersão sem perder a mais perfeita centralização – tão grande é o poder da tua unidade... Ó mistério da incompreensível Divindade!
Por que pretendes, ó homem, abranger com o finito o Infinito? Por que queres eclipsar com uma lanterna os fulgores do sol? Por que estranhas que o oceano não caiba numa concha?
Cala-te!... Crê!... Ama!... Adora!...
Huberto Rohden - De Alma Para Alma
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