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terça-feira, 27 de março de 2018

ESCARAVELHOS
 
 
No seu livro Alegorias, Rohden descreve uma manhã de primavera no campo. Em meio de uma sinfonia primaveril com muita luz, cores, vozes, verdes prados ouve um zumbido forte a ferir-lhe os ouvidos. Diante dele adeja um lindo besouro traçando graciosos desenhos. Seguindo as evoluções aéreas o vê pousar no meio de uma esterqueira.
E lá se deixa ficar, contente e satisfeito, enterrado na imundície – porque afinal de contas é um escaravelho.

 

Rohden escreve:
 
Fui seguindo o meu caminho através do esplêndido florir da natureza, enquanto aos ouvidos me chegavam as estrofes de um hino cantado ao longe:
 
Minha vida é o lodo,
Minha vida é na esterqueira,
Pelos montes da estrumeira
Eu me lambo todo, todo.
Através de mil monturos,
Pela força do focinho,
Vou rompendo o meu caminho,
Longos túneis bem escuros.
Ah! Que aromas, que primícias,
Imundície, tu me envias!
Todo, todo me inebrias,
De balsâmicas delícias!
Pobres plantas, pobres aves!
Que ignorais os nossos gozos,
Estes cheiros voluptuosos,
Tão jucundos, tão suaves!
Lá me importam primaveras,
Puras auras, lindas flores,
Alvoradas de mil cores,
Verdes vales, altas serras!
Quando em delicioso abraço
Com o meu quinhão de esterco,
Eu de vista o mundo perco
E dos céus o vácuo espaço!
Viva, pois, a nossa gente!
Viva, cresça! Sus! Floresça!
E entre aromas esmoreça
Nos monturos, finalmente!…
Entrementes, a natureza continuava a sorrir, formosa e pura, e o sol matutino alargava cada vez mais o seu majestoso círculo pela cerúlea vastidão do firmamento; as aves trinavam, e as flores impregnavam de incenso as imensas galerias do templo de Deus…
À revelia do escaravelho…
 
Huberto Rohden

 
OBSERVAÇÃO:
 
ENTRE OS HUMANOS É COMUM ENCONTRAR PESSOAS QUE GOSTAM DE REMOER LATAS DE LIXO.
 
 
https://ihgomes.wordpress.com

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