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sexta-feira, 23 de março de 2018

A IMITAÇÃO DE CRISTO


Um Estudo Teosófico Sobre Obra Clássica

Segunda Parte

Quinze: Não Compare

“Nós todos somos fracos mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 4.)    
 
Comentário:

Cabe seguir o exemplo dos sábios, e manter à nossa frente o ideal de progresso e perfeição humanos.

Se parecemos mais fortes do que alguém, isso não tem importância. E se pensarmos que o fato é importante, este pensamento vaidoso mostra fraqueza e ilusão.

 
Dezesseis: Ignorando Questões Obscuras

“Bem-aventurado aquele a quem a verdade por si mesma ensina, não por figuras e vozes que passam, mas como em si é. Nossa opinião e nossos juízos muitas vezes nos enganam e pouco alcançam. De que serve a sutil especulação sobre questões misteriosas e obscuras [7], por cuja ignorância não seremos julgados?” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 1.)  
 
Comentário:

Agir de acordo com a Lei do Equilíbrio é melhor que estar limitado a explicações teóricas. No entanto, combinar as duas coisas é necessário. O lema do movimento teosófico é “Não há religião mais elevada que a verdade”. A Verdade transcende todas as suas descrições verbais, mas os enfoques limitados dela são úteis, quando examinados de modo inteligente.

 
Dezessete: Olhar e Não Ver

“Grande loucura é descurarmos as coisas úteis e necessárias, entregando-nos, com avidez, às curiosas e nocivas. Temos olhos para não ver. (Salmo 113, 13)” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 1.)
 
Comentário:

A melhor defesa do peregrino é o cumprimento do seu dever maior.

A compreensão saudável da vida depende de olhar para ela desde um ponto de vista correto, e é a prática do altruísmo que garante isso. As mentes egoístas distorcem tudo o que olham: a verdadeira inteligência é universal.

 
Dezoito: o Coração Firme na Paz

“Aquele a quem fala o Verbo eterno se desembaraça de muitas questões. Desse Verbo único procedem todas as coisas e todas o proclamam e esse é o princípio que também nos fala (João 8, 25). Sem ele não há entendimento nem reto juízo. Quem acha tudo neste Único, e tudo a ele refere e tudo nele vê, poderá ter o coração firme e permanecer em paz com Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 2.)  
 
Comentário:

O trecho inteiro ressoa em harmonia com os escritos de H. P. Blavatsky.

O Verbo é o “Som” primordial, o Mantra da manifestação universal, a Música das Esferas.

 
Dezenove: Silêncio e Verdade

“Ó Deus de verdade, fazei-me um convosco na eterna caridade! Enfastia-me, muita vez, ler e ouvir tantas coisas; pois em vós acho tudo quanto quero e desejo. Calem-se todos os doutores, emudeçam todas as criaturas em vossa presença; falai-me vós só.” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 2.)    
 
Comentário:

A personalização simbólica do universo e de suas leis deve ser aceita como um processo cultural que ocorre em todas as nações ao redor do mundo, e como uma forma de codificar e registrar o Mistério inefável. A tradição esotérica ensina como interpretar as lendas relacionadas a Zeus e Saturno, ao deus cristão, ao Brahman e ao Parabrahman hindus, aos Imortais taoistas, e assim por diante.

Quando a crença cega predomina, algo é considerado verdade porque “deus”, ou o Cristo, ou algum profeta ou guru diz que é verdade. Em filosofia, ocorre o contrário. Algo não é verdade porque um sábio afirma que é, mas o sábio diz que algo é verdadeiro porque essa é a verdade.

O verdadeiro Mestre nunca se coloca acima da lei ou da verdade, mas trabalha humildemente a serviço delas.

 
Vinte: Recolhimento Traz Compreensão

“Quanto mais recolhido for cada um e mais simples de coração, tanto mais sublimes coisas entenderá sem esforço, porque do alto recebe a luz da inteligência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 3.)    
Comentário:

Este ensinamento é parte da teosofia original de Helena Blavatsky e dos Mestres de Sabedoria.

 
Vinte e Um: o Espírito Puro

“O espírito puro, singelo e constante não se distrai no meio de múltiplas ocupações porque faz tudo para honra de Deus, sem buscar em coisa alguma o seu próprio interesse. O que mais te impede e perturba do que os afetos imortificados do teu coração? O homem bom e piedoso ordena primeiro no seu interior as obras exteriores; nem estas o arrasam aos impulsos de alguma inclinação viciosa, senão que as submete ao arbítrio da reta razão.” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 3.)    
 
Comentário:

Nosso “Deus” ou “Senhor” é anônimo: é o nosso eu superior, e a ele devemos lealdade.

 
Vinte e Dois: Enxergando as Nossas Fraquezas

“Que mais rude combate haverá do que procurar vencer-se a si mesmo? E este deveria ser nosso empenho: vencermo-nos a nós mesmos, tornarmo-nos cada dia mais fortes e progredirmos no bem.”

“Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e todas as nossas luzes são misturadas de sombras. O humilde conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo para Deus que as profundas pesquisas da ciência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 3 e 4.)    
 
Comentário:

O cristianismo que gira em torno de rituais não oferece um caminho para o esclarecimento e a iluminação. O estudo da letra morta das escrituras é inútil, e a advertência inclui os escritos teosóficos. Para trilhar o caminho que leva à Verdade é necessário fazer pesquisas independentes, com um coração humilde e observando calmamente nossas próprias fraquezas.

 
Vinte e Três: a Vida Virtuosa

“Não é reprovável a ciência ou qualquer outro conhecimento das coisas, pois é boa em si e ordenada por Deus; sempre, porém, devemos preferir-lhe a boa consciência e a vida virtuosa. Muitos, porém, estudam mais para saber, que para bem viver; por isso erram a miúdo e pouco ou nenhum fruto colhem.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 4.)    
 
Comentário:

O propósito da vida é aprender. No entanto cada porção de conhecimento que obtemos vem até nós com uma inevitável quota de deveres éticos.

Cabe examinar cuidadosamente para que usamos o conhecimento. Porque só um coração honesto, ao buscar metas nobres, sabe usar o conhecimento de maneira correta e está à altura das informações mais amplas sobre a vida.

 
Vinte e Quatro: a Pergunta Que Será Feita

“Ah! se se empregasse tanta diligência em extirpar vícios e implantar virtudes como em ventilar questões, não haveria tantos males e escândalos no povo, nem tanta relaxação nos claustros. De certo, no dia do juízo não se nos perguntará o que lemos, mas o que fizemos; nem quão bem temos falado, mas quão honestamente temos vivido.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 5.)    
 
Comentário:

O cristianismo místico sempre teve uma relação difícil com as igrejas autoritárias.

Um exemplo disso, entre milhares, é o fato de que Geert de Groote – o fundador da Irmandade da Vida em Comum da qual fazia parte Tomás de Kempis -, denunciou e combateu os abusos sacerdotais. [8]

 
Vinte e Cinco: o Verdadeiro Sábio

“Dize-me: onde estão agora todos aqueles senhores e mestres que bem conheceste, quando viviam e floresciam nas escolas? Já outros possuem suas prebendas [posições de prestígio], e nem sei se porventura deles se lembram. Em vida pareciam valer alguma coisa, e hoje ninguém deles fala.”

“Oh! como passa depressa a glória do mundo! Oxalá a sua vida tenha correspondido à sua ciência; porque, destarte, terão lido e estudado com fruto. Quantos, neste mundo, descuidados do serviço de Deus, se perdem por uma ciência vã! E porque antes querem ser grandes que humildes, se esvaecem em seus pensamentos (Romanos 1, 21). 
 
Verdadeiramente grande é aquele que tem grande caridade. Verdadeiramente grande é aquele que a seus olhos é pequeno e avalia em nada as maiores honras. Verdadeiramente prudente é quem considera como lodo tudo o que é terreno, para ganhar a Cristo (Filipenses 3, 8). E verdadeiramente sábio é aquele que faz a vontade de Deus e renuncia à própria vontade.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 5 e 6.)
 
Comentário:

A “vontade de Deus” é o propósito da nossa alma espiritual; “Cristo” simboliza a consciência cósmica.

 
Vinte e Seis: Independência e Autoresponsabilidade

“Não se há de dar crédito a toda palavra nem a qualquer impressão, mas cautelosa e naturalmente se deve, diante de Deus, ponderar as coisas.” (Livro Primeiro, capítulo 4, parág. 1.)
 
 
Comentário:
Com a exceção da palavra “Deus”, esta ideia pertence literalmente às filosofias de todos os povos, incluindo o budismo, o pitagorismo e a teosofia.
 
 
NOTAS

[7] Uma das melhores edições em inglês desta obra, preparada por P.G. Zomber (ver nota 1, acima), usa a expressão “coisas esotéricas”, “esoteric things” (p. 6).

[8] Veja “A Concise Encyclopedia of Christianity”, Geoffrey Parrinder, item “Brethren of the Common Life”, p. 48.
 
 
 
Carlos Cardoso Aveline
http://www.filosofiaesoterica.com 
   

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