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quinta-feira, 15 de março de 2018

DISSOLVENDO-SE 
NA TOTALIDADE DA VIDA


"Não se preocupe com a perfeição. 
Substitua a palavra 'perfeição'
 por "totalidade". 
Não pense que você tem de ser perfeito,
 pense que tem de ser total. 
A totalidade dá a você 
uma dimensão diferente".
 (Osho) 


Pergunta: Falais de destruir o muro de separação que existe entre a consciência individual e o puro ser que o indivíduo se acha em vias de realizar. Significará isto que, quando a totalidade é realizada, o indivíduo, como unidade de consciência na totalidade, cessa de recordar seus esforços para alcançar esta meta, assim como os seres amados de sua existência separada?

Krishnamurti: Certamente esta pergunta acha-se formulada, se me é dado declará-lo, de maneira errada. Mais uma vez contemplais aqui que é a totalidade, sob um ponto de vista individual. Quando vos tornardes a totalidade, todas as coisas passam a existir em vós — os vivos como os mortos. Não se trata mais de separação. A questão da separação surge somente quando vós, como indivíduo, vos encontrais autoconscientes, vos achais em limitação. Quando estiverdes em união com a Vida, não mais se tratará de nascimento e morte, de separação, de dor, de esforço — sereis todas as coisas, ter-vos-eis tornado essa totalidade. Estas perguntas surgem pelo fato de contemplardes a vida por meio de uma mente que é finita, sempre do ponto de vista pessoal, com o desejo de vos apegardes à separatividade, temerosos de perderdes aqueles a quem amais; ao passo que, se contemplardes o amor como sendo a própria eternidade, sem olhar às pessoas, então, neste, todas as pessoas estarão integradas. O Amor a tudo integra, não conhece separação. 
 
 
Pergunta: Em virtude de vossos ensinos, muitas pessoas tem saído de instituições nas quais, durante muitos anos, seguiram uma disciplina estabelecida para a vida — tal como a de não comerem carne, não beberem vinho, não fumarem etc. Agora, que abandonaram essas instituições, voltaram novamente a comer carne, a beber, a fumar, etc. É isto coisa de deplorar-se ou demonstra que o seguir-se uma disciplina de vida que não seja baseada em nossos próprios desejos não tem valor?

Krishnamurti: Nenhuma instituição, ordem ou corporação de pessoas pode impor uma disciplina a outrem. Tal disciplina é produzida pelo temor e não tem valor. Não podereis, por meio de uma ilusão, produzir nobreza. A disciplina tem que ser auto-imposta e, então, não mais se cuidará de ceder a coisas que sejam fúteis. Se não comerdes carne somente por causa de uma disciplina imposta por outrem, tal abstinência não tem valor. Isso só demonstra que não existe dentro de vós o desejo de chegar a essa quietude da suprema realidade que somente pode ser atingida por amor à vida; e o caráter deste amor é a segurança da incorruptibilidade da disciplina. A maioria dentre vós filiam-se a Ordens, ou Sociedades e seguem as disciplinas que elas lhes impõem. Tais disciplinas são para os preguiçosos. Porém, um homem ativo, que não seja indolente e sim concentrado e cuidadoso, a todo o instante se impõe a disciplina que é nascida do entendimento. Ele, portanto, está liberto de toda a disciplina. A autodisciplina “é ser”; e a disciplina imposta pelas sociedades, instituições, seitas, é apenas "tornar-se algo".
 
 
Pergunta: Os cristãos sempre colocaram o Cristo aparte, separando-o de si próprios, como divino em um sentido único. Muitas pessoas pensam que vós, pelo mesmo modo, haveis tido uma preparação única que vos colocou onde estais, e que jamais podem atingir a libertação pela mesma maneira que vós a atingistes, pelo fato de sua preparação não haver sido a mesma. Posto que a preparação de cada homem possa diferir, não será a libertação a mesma para todos?

Krishnamurti: Quando objetivamente vos apercebeis da verdade, laborais em engano. Se, porém, verificais que a verdade está em vós próprios, então estareis vivendo a realidade continua da escolha, pois que a seleção é a descoberta perpétua da verdade, esta verdade que, potencialmente, se acha em cada coisa. Compete ao indivíduo verificar isto potencialmente em sua plenitude. Não se trata, portanto, de uma questão de preparação. Eu posso caminhar por uma estrada, vós por outra, porém, a totalidade da verdade está em cada coisa, em tudo. Assim, as estradas não tem importância, as preparações não são a coisa importante; tal ideia não é mais que uma invenção da mente. Por favor, compreendei que a verdade mora em todos; a verdade tanto se acha neste esteio de madeira como no homem mais culto. Louco é aquele que vê a verdade, a totalidade, como sendo objetiva, e por esse motivo busca muitas maneiras para encontrar essa realidade; as limitações auto-impostas surgem e daí provem a ilusão de se suporem seres separados, existências separadas, consciências separadas. Portanto, não vos preocupeis acerca da preparação para a libertação. Assim como todo o rio tem que abrir caminho para o oceano, assim todo o indivíduo, onde quer que se encontre, tem, afinal, que chegar a esta realidade, pois que ela é para todos.
 
 
 
Pergunta: Sendo a vida individual uma coisa tão triste, não seria um ato de bondade propagar tão intensamente quanto possível o conhecimento de restrição dos nascimentos impedindo assim o nascimento de maior número de indivíduos?

Krishnamurti: Duvido que esta pergunta seja feita com total honestidade. Não se trata de outros indivíduos — vós é que estais aqui. Sempre vos estais referindo a outrem, com o desejo de salvar a outrem. Esta pergunta é ridícula, pois que sempre há de haver indivíduos. Pode haver mais ou menos, pelo uso do controle de nascimentos, porém sempre os haverá. Não é uma questão de quantidade, de muitos ou de poucos, porém sim, do uso em que está todo o universo.
 
Se empreenderdes a existência individual, não se tratará mais de uma questão de tristeza ou de prazer. Tanto a tristeza como o prazer constituem igualmente o solo onde o indivíduo tem de crescer. Quando compreenderdes isto, não mais aborrecereis a tristeza, abrindo as portas ao prazer, não fugireis da tristeza buscando o gozo, porém tereis a ambos na mesma conta impessoal. Encarais todas as coisas de um ponto de vista pessoal, do ponto de vista do indivíduo, do ponto de vista separatista; e enquanto existir este ponto de vista, sempre existirá a tristeza, pois que estareis conscientes da separatividade, da limitação. 
 
 
Fonte: pensar compulsivo 
 

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