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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO


Última Parte

Se alguém ofende o paletó ou a blusa que visto, não ofende a mim, porque eu não sou o paletó nem a blusa; isto é meu, mas não sou eu; é algo que eu tenho, mas não o que eu sou.

Da mesma forma, quem ofende o ego da minha persona — que quer dizer “mascara” não ofende a mim, porque eu não sou essa máscara da personalidade. Eu sou a minha divina individualidade, que é absolutamente invulnerável pelo lado de fora, pelas adversidades da natureza ou pelas perversidades dos homens! Quem me pode ofender é só aquele que está do lado de dentro, isto é, o meu ego humano. Quem vulnera o Eu é o ego; quem peca Contra a divina individualidade do Eu é a humana personalidade do ego — Lúcifer versus Lógos!

Esta luz divina que em mim está deve ser colocada no candelabro Como uma lâmpada, no alto do monte como um farol. Quem é remido do seu falso eu pode ajudar outros para se redimirem também. Por isso, deve ele fazer brilhar a sua luz, porque essa luz é a luz de Deus que brilha através do homem, como através de um límpido cristal, no caso que o homem renuncie à opacidade do seu egoísmo e aceite a transparência do amor.

O homem profano é impuro no meio dos impuros. O homem místico é puro longe dos impuros.

O homem crístico é puro no meio dos impuros, assim como a luz é pura no meio das impurezas.

O impuro no meio dos impuros é, geralmente, ruidosamente social.

O puro longe dos impuros é silenciosamente Solitário.

O puro no meio dos impuros é serenamente solidário.


Por via de regra, para que o homem possa ser serenamente solidário com toda a humanidade, solidamente crístico, é necessário que tenha passado pelo estágio da solidão silenciosa, profundamente mística, longe da sociedade dos impuros, ruidosamente profanos. E nesse período da mística solitária que o homem lança os alicerces inabaláveis para o seu edifício crístico de solidariedade universal. Uma vez que o homem ultrapassou certa fronteira interna de experiência de Deus em si mesmo, está definitivamente imunizado contra as velhas enfermidades do homem profano — cobiça, luxúria, vanglória, egoísmo, desejo de aplausos e admiração, expectativa de resultados palpáveis, medo de castigo ou esperança de prêmio — de todas essas doenças convalesceu para sempre o homem que chegou ao conhecimento da verdade sobre si mesmo, seu verdadeiro Eu divino, e não mais corre perigo de recair nessas misérias, porque a verdade o libertou de toda a ilusão e escravidão. Ele é livre e puro como a luz.

Mas, também, é suave e benévolo como a luz solar, em pleno dia, e não violento e destruidor como a veemência de um raio em plena noite. Só depois que o homem aprendeu por experiência íntima, no silencioso abismo da mística, o que é Deus e o que é ele mesmo, é que ele pode atrever-se a ser de todas as criaturas de Deus sem deixar de ser de Deus, pode andar por todos os mundos de Deus sem deixar de ser do Deus do mundo.

Ai do homem que quiser ser solidário com os homens antes de ser solitário com Deus! Ai do homem que se derramar pelas ruidosas periferias das criaturas antes de estar firmemente alicerçado no silencioso centro do Criador!

Nenhum homem pode ser, por fora, de todas as criaturas de Deus sem que seja, por dentro, só de Deus.  Nenhum homem pode ser plenamente crístico sem que seja profundamente místico. Só o contato direto com o Infinito é que torna o homem invulnerável no meio dos finitos.

E essa invulnerabilidade crística nada tem de lúgubre, de pessimista, de negativo, de triste — ela é toda leve e luminosa, amável e sorridente como sua irmã gêmea, no mundo físico, a luz, que é suavemente poderosa e poderosamente suave.

Pela mística solidão com Deus adquire a alma uma espécie de castidade, de intensa virgindade espiritual, que, depois, na Crística solidariedade com os homens, se revela em fecunda maternidade, mãe de numerosos filhos de Deus. Essas núpcias espirituais da alma crística supõem a pura virgindade da alma mística.

No início de toda a vida nova está o sentimento natural do pudor. A vida é um mistério tão sagrado que a sua transmissão deve ser velada em profunda escuridão, oculta pelo véu invisível do pudor, tanto no plano biológico como no plano espiritual da humanidade. A experiência mística é uma concepção espiritual, que deve ser velada em mistério. É que se passa, na solidão anônima, entre uma alma e Deus nunca ninguém o saberá, nem deve saber; está envolto em impenetrável pudor; só as consequências desse encontro místico da alma com Deus é que podem ser reveladas, na vida diária do homem cristificado.

A vida do homem cósmico é pura como a luz, na sua solidão mística — e é fecunda como a luz, na sua solidariedade crística...

“Vós sois a luz do mundo”...

“Brilhe diante dos homens a vossa luz!”...



Do livro "O Sermão da Montanha", 
de Huberto Rohden

http://antonioramosalves.blogspot.com.br

 

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