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domingo, 14 de janeiro de 2018

VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO


Primeira Parte
 
É constante, em todos os livros sacros da humanidade, a afirmação de que Deus é luz.
 
Antigamente, essa comparação parecia ser apenas um arroubo poético, e não uma verdade filosófica; porquanto é sabido que a luz enche de vida, beleza e alegria o universo inteiro.
 
Hoje em dia, porém, na alvorada da Era Atômica, entrou essa verdade em uma nova fase de significação; ultrapassou as fronteiras da beleza poética e invadiu os domínios da ciência física e da verdade metafísica.
 
Sabemos, em nossos dias, que a luz cósmica, não focalizada — o “c” da conhecida fórmula einsteiniana, E = mc2 — é a base e, por assim dizer, a matéria-prima de todas as coisas do mundo material e astral. Os 92 elementos da química, desde o mais simples ou Hidrogênio), até ao mais complexo ou Urânio), são filhos da luz invisível, a qual quando condensada em diversos graus, produz os elementos, e destes são feitas todas as coisas do mundo.
 
Quer dizer que, no plano físico, a luz é a causa e origem de todas as matérias e forças do universo. Ora, o que a luz é no plano físico, isto é Deus na ordem metafísica ou espiritual do cosmos. A luz física é o grande símbolo desse simbolizado metafísico.
 
Deus, segundo Aristóteles, é actuspurus (pura atividade); nele não há passividade, ou, no dizer de João Evangelista, “Deus é luz, e nele não há trevas”.  Ora, afirma o divino Mestre que ele é a luz do mundo, e que também seus discípulos são a luz do mundo — quer dizer que a essência de Deus está nele e neles.
 
A luz é a única coisa incapaz de ser contaminada, porque a sua vibração é máxima, que não é afetada por nenhuma vibração inferior.
 
Todas as coisas do mundo são lucigênitas, e sua íntima essência é luz ou lucidez. E tanto mais incontaminável é uma coisa quanto mais lúcida.
 
A afirmação de que os discípulos do Cristo são luz, a mesma luz divina do Cristo, é um veemente convite, quase um desafio, para a completa lucificação da existência humana pela essência divina. A mente do homem é como que um invólucro semitranslúcido, e o corpo um invólucro totalmente opaco; no interior desses invólucros, porém, está a luz integral da divindade, que se individualizou no homem como seu Eu central.
 
Toda a tarefa da espiritualização do homem consiste em que ele faça a sua existência humana tão pura e luminosa como a sua essência divina. — que essencialize toda a sua existência.
 
A lucidez ou luminosidade consiste na intensidade da nossa consciência divina. No plano da ideologia dualista, em que se move quase toda a teologia e filosofia do ocidente cristão, é difícil o homem convencer-se definitivamente de que a íntima essência do seu próprio ser seja idêntica à essência divina.
 
A verdade, porém, é esta: o homem não está separado de Deus, como não é idêntico a Deus, mas é distinto de Deus. Esse “ser distinto”, é por assim dizer, equidistante do “ser separado” e do “ser idêntico”, equidistante do dualismo transcendentista e do panteísmo imanentista. Esse “ser distinto” de Deus, baseado no “ser idêntico” pela essência e no “ser diferente” pela existência faculta ao homem a divinização da sua vida, sem o levar ao absurdo da deificação, garantindo-lhe assim, a responsabilidade ética dos seus atos conscientes e livres. Se o homem é moralmente bom, virtuoso, não é Deus que é bom nele, mas ele mesmo; se o homem é moralmente mau, pecador, não é Deus que é mau nele, mas é o homem. Quem pratica virtude ou comete pecado é o homem existencial, e não o homem essencial, é o elemento humano nele e não o elemento divino.
 
Diz, pois, o divino Mestre: “Vós sois a luz do mundo... Não pode permanecer oculta uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada e se põe debaixo do alqueire, mas sim sobre o candelabro para que alumie a todos os que estão na casa. Assim brilhe a vossa luz perante os homens para que vejam as vossas boas obras — e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.
 
O homem realmente cristificado não deve ocultar-se debaixo do alqueire do anonimato, mas brilhar no candelabro da mais larga publicidade — deve ser até como uma cidade ou um farol no alto de um monte, para que o mundo inteiro veja os fulgores dessa luz e por ela oriente a sua vida.
 
A comparação, tanto com o candelabro como com o monte, diz visibilidade, publicidade, porque o arauto do reino de Deus não é um “ocultista”, mas sim um emissário da luz cósmica, ele mesmo é a “luz do mundo”, que é expansiva por sua própria natureza.
 
É opinião assaz comum entre os inexperientes que o homem espiritual deva evitar a publicidade e procurar o mais possível a obscuridade da solidão e do anonimato, a fim de não perder a sua sacralidade e cair vítima da profanidade. E, de fato, essa solidão e esse anonimato são necessários, embora num sentido diferente daquele que os profanos supõem.
 
O ego físico-mental do homem comum deve desaparecer no anonimato, e o seu Eu divino deve viver em profunda solidão. O homem espiritual deve ser profundamente solitário com Deus, para que possa ser vastamente solidário com todas as criaturas de Deus: assim não há perigo de profanação.
 
Ai daquele que perder a sua silenciosa sacralidade em Deus! De nada lhe servirá a sua ruidosa sociabilidade com os homens e o mundo. A profana sociedade tem de ser fecundada pela mística sacralidade para que resulte em fecunda solidariedade.
 

Huberto Rohden 

http://antonioramosalves.blogspot.com.br

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