RESISTÊNCIA À MUDANÇAS,
EM TEOSOFIA
O Preço Que Se Deve Pagar
Pela Busca da Verdade
O
conceito de “resistência à mudança” é de origem psicanalítica, mas
aponta para a lei do carma e constitui um dos aspectos da psicanálise
freudiana que têm grande importância em filosofia esotérica.[1]
Resistência psicológica
é o processo pelo qual um indivíduo se opõe de modo direto ou indireto à
mudança do seu próprio comportamento para melhor, ou se recusa a
recordar, conversar e pensar sobre experiências relevantes para o seu
próprio autoconhecimento.
Quando vista em profundidade, a ideia dos obstáculos internos é cem por cento teosófica. A resistência
é uma expressão da lei do carma em suas operações psicológicas. Ela
ocupa lugar de destaque nos textos da escola esotérica criada por H. P.
Blavatsky em 1888, e está presente sob outras formas em diversas partes
da literatura teosófica.
A resistência subconsciente à mudança é tanto individual como coletiva. A associação teosófica, a família e todo e qualquer grupo humano devem lutar entre a tendência de renovar-se e a tendência oposta, de negar a necessidade de renovação. Como ocorre em todos os aspectos da vida, um equilíbrio dinâmico entre as duas tendências apontará o melhor caminho a seguir.
A “Advertência aos Esoteristas”, feita por HPB
Todo contato direto com a sabedoria provoca intensa resistência, interna e externa. Isso é inevitável em teosofia.
As distâncias geográficas entre os Mestres de Sabedoria e os membros da nossa humanidade não contam. A única distância real existe nos estados de consciência ou estados mentais, e um Mahatma escreveu:
“A
Natureza uniu todas as partes do seu Império por meio de fios sutis de
simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e
o homem; o pensamento corre mais rápido do que o fluido elétrico, e o
seu pensamento irá encontrar-me caso seja projetado com um
impulso puro. Nossa lei manda aproximar-nos de todo aquele que
tenha dentro de si ainda que só o mais leve lampejo da verdadeira luz do Tathagata ". [2]
As afinidades vibratórias definem a vida. Antes de desejar a sabedoria, devemos fazer por merecê-la.
O caminho teosófico provoca situações perigosas. Todo e qualquer esforço feito em uma direção nobre está sujeito à lei da simetria
e cada passo adiante deve ser testado de várias maneiras. É difícil
para os seres humanos desenvolver um amor incondicional à verdade. Os
piores cegos são os que não querem ver, segundo o ditado popular, e eles
são numerosos.
Em sua obra monumental “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky cita as seguintes palavras de Sergeant Cox:
“Não
há falácia mais fatal do que a ideia de que a verdade prevalece por sua
própria força, e de que basta ela ser vista para ser aceita. Na
realidade, o desejo de encontrar a verdade dos fatos só existe em pouquíssimas mentes, e a capacidade de discernir a verdade em um número ainda
mais reduzido. Quando os seres humanos dizem que estão procurando pela
verdade, o que querem dizer é que estão procurando por evidências para
apoiar os seus próprios preconceitos e suas opiniões preconcebidas. Eles
veem tudo, e mais do que tudo, o que parece confirmar o que desejam; e
são cegos como morcegos para tudo o que contraria suas opiniões.” [3]
Em
linguagem teosófica, alguém que está “em provação” é um estudante que
assumiu o compromisso solene perante si de dedicar sua vida à busca da
verdade, e Helena Blavatsky escreveu o seguinte, em um texto de cerca de
1890, dirigido a seus estudantes esotéricos:
“Há
uma estranha lei em Ocultismo que tem sido verificada e comprovada
durante milhares de anos de experiência prática; e ela não deixou de
operar, quase em todos os casos, durante os quinze anos transcorridos
desde que a S. T. [isto é, o movimento teosófico] existe. Tão
logo alguém assume o compromisso como ‘estudante em provação’, certos
efeitos ocultos ocorrem. O primeiro deles é a manifestação de tudo o que
está latente na natureza do indivíduo: seus erros, seus hábitos, e suas
qualidades ou desejos suprimidos, sejam eles bons, maus ou
indiferentes.” [4]
Deste modo emerge a luta probatória entre o amor à verdade e os impulsos inferiores da alma do estudante.
H. P. B. acrescenta:
“Por
exemplo, se alguém é um sensualista ou ambicioso, seja por atavismo ou
herança cármica, os seus vícios seguramente virão para fora, ainda que
até o momento ele tenha tido êxito em reprimi-los. Eles se tornarão
inevitavelmente visíveis, e ele terá que lutar cem vezes mais do que
antes, até matar todos eles em si mesmo.”
“Matar” tendências destrutivas significa compreendê-las e transcendê-las. H. P. B. prossegue:
“Por
outro lado, se o indivíduo é bom, generoso, casto e abstêmio, ou tem
qualquer virtude até aqui latente ou oculta em si, isso irá
manifestar-se no exterior de modo tão irreprimível como o resto. Um
homem da sociedade que odeia ser considerado um santo e portanto assume
uma máscara, não será capaz de ocultar sua verdadeira natureza, seja ela
nobre ou não. ESTA É UMA LEI IMUTÁVEL NO DOMÍNIO DO OCULTO. Seus
efeitos serão tanto mais fortes quanto mais for intenso e sincero o
desejo do candidato à sabedoria, e quanto mais profundamente ele tiver
sentido o significado e a importância do seu compromisso.”
O autoconhecimento é a meta, segundo H. P. B. explica:
“O
antigo axioma oculto, ‘Conhece a ti mesmo’, deve ser algo familiar para
cada membro desta Escola; mas poucos compreenderam o significado real
desta sábia exortação do oráculo de Delfos. Todos vocês sabem dos seus
ancestrais terrestres, mas quem entre vocês já localizou todas as
ligações hereditárias, astrais, psíquicas e espirituais que fazem o que
vocês sejam o que são? Muitos escreveram sobre seus desejos de unirem-se
a seus Eus Superiores, mas ninguém parece saber do vínculo indissolúvel
entre os seus ‘Eus Superiores’ e o SER Único Universal.”
Cada
estudante deve estar preparado. Durante algum tempo, é inevitável haver
uma intensa luta entre aquela parte do nosso eu inferior que é leal à
alma imortal, e aquela parte que não tem o mesmo compromisso.
Carlos Cardoso Aveline
NOTAS:
[1]
Como ciência do eu inferior e suas ilusões, a psicanálise de Sigmund
Freud tem muito em comum com a filosofia esotérica. Sua visão sobre um
eu superior, no entanto, parece limitada a vislumbres ocasionais. Embora
exista, sua percepção do mundo da alma imortal é principalmente
implícita e ocorre através da Ética e do amor à verdade. Em Erich Fromm,
os elementos teosóficos são muito mais numerosos. Fromm fez vários
estudos interdisciplinares, inter-religiosos e budistas, e escreveu
obras a respeito.
[2] “Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett”, Ed. Teosófica, vol. I, pp. 217-218.
[3]
Sergeant Cox, citado por Helena Blavatsky em “Isis Unveiled”,
Theosophy Co., Los Angeles, volume I, p. 615. Veja outra tradução
destas palavras na edição brasileira de “Ísis Sem Véu”, Ed. Pensamento,
volume II, p. 283.
[4] “The Collected Writings of H. P. Blavatsky”, T. P. H., volume XII, pp. 515-516.
Fonte: www.FilosofiaEsoterica.com
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