A INTIMIDADE É UMA
EXPERIÊNCIA IMPORTANTE
Ninguém sabe nada sobre o futuro. O seu céu, o seu inferno e o seu Deus
muito provavelmente não passam de hipóteses, não comprovadas. A única
coisa que está nas suas mãos é a sua vida - faça dela a mais
interessante possível.
Pela intimidade, pelo amor, por se abrir a muitas pessoas, você se torna
mais interessante. E se puder viver um amor profundo, uma amizade
verdadeira, uma intimidade generosa, com muitas pessoas, você terá
vivido da melhor maneira possível, e onde quer que esteja, se tiver
aprendido essa arte, viverá assim ali também, com felicidade.
Se for simples, carinhoso, receptivo, compreensivo, íntimo, você terá
criado um paraíso ao seu redor. Se for fechado, constantemente na
defensiva, sempre preocupado que alguém possa perceber os seus
pensamentos, os seus sonhos, as suas perversões - você estará vivendo no
inferno. O inferno está dentro de você, assim como o paraíso. Eles não
são lugares geográficos, são espaços espirituais.
Purifique-se. E a meditação não é nada além de uma limpeza de todo o
lixo que se acumulou na sua mente. Quando a mente estiver em silêncio e o
coração batendo, você estará pronto - sem nenhum medo, mas com uma
grande alegria - para ser íntimo. E sem intimidade você está sozinho
aqui, entre estranhos. Com intimidade você está cercado de amigos, de
pessoas que o amam. A intimidade é uma experiência importante. Não se
deve esquecer disso.
SOBRE A FUGA DA INTIMIDADE
Já reparou?
É mais fácil ser-se verdadeiro com os estranhos. As pessoas que viajam
de comboio começam a falar com estranhos e contam coisas que nunca
contaram aos amigos, porque, com um estranho, não se sentem envolvidas.
Meia hora mais tarde, chegam ao seu destino e saem; esquecem e o
estranho esquecerá tudo aquilo que lhe contaram. Por isso nada do que
lhe disseram tem qualquer importância. Não se correm riscos com um
estranho.
Ao falar com estranhos, as pessoas são mais verdadeiras e revelam o seu
coração. Mas ao falar com os amigos, com os familiares — pai, mãe,
mulher, marido, irmão, irmã — há uma profunda inibição inconsciente.
«Não digas isso, ele pode ficar magoado. Não faças isso, ela pode não
gostar. Não te comportes dessa maneira, o pai é velho, pode ficar
chocado.» Então a pessoa continua a controlar-se. A pouco e pouco, a
verdade cai na cave do seu ser e ela torna-se muito esperta e astuciosa
com o não verdadeiro.
Continua a fazer falsos sorrisos, que não passam de pinturas nos lábios.
Continua a dizer coisas simpáticas, sem qualquer significado. Começa a
sentir-se aborrecida com o namorado ou com os pais, mas continua a
dizer: «Estou muito contente por te ver!» Enquanto isso, todo o seu ser
diz: «Agora deixa-me em paz!» Mas verbalmente continua a fingir. E os
outros também estão a fazer a mesma coisa; ninguém se apercebe de que
estamos todos no mesmo barco.
SOBE O MEDO DA INTIMIDADE
Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse
medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um
estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos
mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos.
Toda a gente tem medo da intimidade. O problema torna-se mais complicado
porque toda a gente quer intimidade. Toda a gente quer intimidade
porque, de outro modo, está sozinho neste Universo — sem um amigo, sem
um amante, sem ninguém em quem confiar, sem ninguém a quem abrir todas
as suas feridas. E as feridas não saram se não forem abertas.
A intimidade aproxima-o de um estranho. Tem de deixar cair todas as suas
defesas; só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que se deixar
cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o
estranho lhe poderá fazer. Todos nós andamos a esconder mil e uma
coisas, não só dos outros mas de nós próprios, porque fomos criados por
uma humanidade doente com toda a espécie de repressões, inibições e
tabus. E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa
se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza
nunca desaparece —, parece mais seguro manter uma ligeira defesa, uma
pequena distância, porque alguém se poderá aproveitar das suas
fraquezas, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade.
SOBRE O MEDO DA OPINIÃO DOS OUTROS
As pessoas vivem toda a sua vida a acreditar no que os outros dizem,
dependentes dos outros. É por isso que têm tanto medo da opinião dos
outros. Se eles pensam que você é mau, torna-se mau. Se o condenam,
começa a condenar-se. Se dizem que é pecador, começa a sentir-se
culpado. E, como depende da opinião deles, é obrigado a conformar-se
constantemente com as suas opiniões; senão eles mudarão de opinião. Ora
isso cria uma escravidão, uma escravidão muito sutil. Se quiser ser
considerado bom, digno, belo, inteligente, tem de fazer concessões, tem
de se comprometer continuamente com as pessoas de quem depende.
E levanta-se um outro problema. Como há muitas pessoas, elas estão
sempre a alimentar a sua mente com diferentes tipos de opiniões —
opiniões conflituosas, ainda por cima. Uma opinião a contradizer outra
opinião — daí que exista uma grande confusão dentro de si. Uma pessoa
diz que você é muito inteligente, outra pessoa diz-lhe que é estúpido.
Como decidir? Então fica dividido. Fica com dúvidas sobre si próprio,
sobre quem é... uma ondulação. E a complexidade é muito grande, porque
há milhares de pessoas à sua volta.
Você está em contato com muitas pessoas e cada uma delas mete a sua
ideia na sua mente. E ninguém o conhece — nem você mesmo se conhece —,
pelo que toda essa coleção se amontoa dentro de si. É uma situação de
enlouquecer. Tem muitas vozes dentro de si. Sempre que se pergunta quem é, surgem muitas respostas.
Algumas dessas respostas serão da sua mãe, outras serão do seu pai,
outras ainda do professor, e assim por diante e assim sucessivamente, e é
impossível decidir qual delas é a resposta certa. Como decidir? Qual o
critério? É aqui que o homem se perde. Chama-se a isto ignorância de si
próprio.
Mas como depende dos outros, tem medo de entrar na solidão — porque no
momento em que começar a entrar na solidão começará a ter muito medo de
se perder. Em primeiro lugar, você não se tem a si próprio, mas,
qualquer que seja o eu que criou a partir da opinião dos outros, tem de o
deixar para trás. Daí que seja muito assustador interiorizar-se. Quanto
mais fundo for, menos saberá quem é. É por isso que quando procura
conhecer-se realmente a si próprio, antes de o conseguir terá de
abandonar todas as ideias que tem sobre o seu eu. Haverá um hiato,
haverá uma espécie de coisa nenhuma. Tornar-se-á uma não entidade. Sentir-se-á completamente perdido, porque tudo o que conhece deixará de ser relevante e aquilo que é relevante ainda não conhece.
Osho
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