O QUE É DEUS
Respondendo
a uma pergunta feita por um discípulo, a Mãe diz:
Tudo
depende do significado que você coloca na palavra “Deus”. É uma palavra que
expressa “algo” que você não conhece, mas está tentando alcançar.
Se
você recebeu uma educação religiosa, está acostumado a chamar isso de “Deus”.
Se recebeu uma educação mais positivista e filosófica, está acostumado a chamar
isto por todo tipo de nomes, e pode ter ao mesmo tempo a ideia de que é a
suprema verdade.
A
realidade é distante demais da nossa compreensão, e chamamos de Deus. Algumas
religiões dão uma forma precisa à divindade; e às vezes dão várias formas e têm
vários deuses; às vezes dão apenas uma forma e têm apenas um Deus; mas tudo
isso é fabricação humana.
Existe
“algo”, existe uma realidade que está além de todas as nossas expressões, mas
que podemos contatar praticando uma disciplina. Podemos nos identificar com
ela. Quando a pessoa se identifica com essa realidade, ela sabe o que é, mas
não pode expressá-la, pois as palavras não podem dizê-la.
Portanto,
se você usar um tipo de vocabulário, se tiver uma convicção mental particular,
você usará o vocabulário correspondente àquela convicção. Se pertencer a outro
grupo que tem outra maneira de falar, você falará e pensará sobre essa
realidade daquele modo.
Existe
algo que não pode ser apreendido pelo pensamento, mas que existe. Mas o nome
que você dá a isso pouco importa, nada importa, esse “algo” existe. Assim, a
única coisa a fazer é entrar em contato com isso – não dar um nome ou
descrever. Na verdade não serve para nada dar um nome ou descrever. A pessoa
deve entrar em contato, concentrar-se sobre esse “algo”, vivê-lo, e se tiver a
experiência não importa o nome que se dá. Apenas a experiência importa.
E
quando as pessoas associam a experiência com uma expressão particular – de um
modo tão estreito, tão fechado em si mesmo – isso é uma inferioridade. A pessoa
deve ser capaz de viver essa realidade através de todos os caminhos possíveis,
todas as ocasiões; deve-se vivê-la, pois ela é o supremo bem, é todo-poderosa,
é onisciente... Sim, você pode vivê-la, mas não pode falar sobre ela. E se
falar, o que é dito não tem grande importância. É apenas uma maneira de
expressão, eis tudo.
Existe
uma linha de filósofos que substituíram a noção de Deus pela noção de um
Absoluto impessoal ou pela noção da Verdade ou a noção de Justiça, ou até mesmo
a noção de progresso – de algo eternamente progressivo; mas para quem tem a
capacidade interior de identificar-se com aquilo, o que é dito não tem muita
importância.
Às
vezes a pessoa pode ler todo um livro de filosofia e não progredir nenhum
passo. Às vezes a pessoa pode ser um fervoroso devoto de uma religião e não
progredir. Há pessoas que passam muitas vidas sentados em contemplação e nada
alcançam.
Há
pessoas (e temos exemplos bem conhecidos) que costumavam fazer os mais modestos
trabalhos manuais, como um sapateiro remendando sapatos velhos, e que tiveram a
experiência.
Isso
está totalmente além do que se pensa ou diz. É uma dádiva, eis tudo. E tudo que é
necessário fazer é conseguir identificar-se com essa realidade e vivê-la. Às
vezes você lê uma sentença num livro e ela te leva lá. Às vezes você lê livros
inteiros de filosofia ou religião e esses livros não te levam a lugar algum.
Entretanto
há pessoas para quem a leitura de livros de filosofia ajuda a seguir em frente.
Mas todas essas coisas são secundárias. Existe apenas uma coisa que é
importante: uma vontade sincera e persistente, pois essas coisas não acontecem
num piscar de olhos. É
preciso perseverar.
Quando
alguém sente que não está avançando, não deve se desencorajar; deve tentar
encontrar o que está se opondo na natureza, e então fazer o progresso
necessário. E de repente se faz um
progresso. E quando se chega ao final, você tem uma experiência.
E o
que é impressionante é que pessoas que seguem diferentes caminhos, com construções
mentais totalmente diferentes, do maior crente ao maior ateu, até mesmo
materialistas, têm chegado a essa mesma experiência, ela é a mesma para cada
um. Porque é o verdadeiro, porque é real, porque é a única realidade.
E é
total e simplesmente “aquilo”. Nada mais posso dizer. Porque palavras não têm importância. O
importante é seguir o caminho, seu caminho, não importa qual seja, para chegar
lá.
A Mãe (Mira Alfassa)
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