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quinta-feira, 26 de maio de 2016

O QUE É DEUS
 
Respondendo a uma pergunta feita por um discípulo, a Mãe diz: 

Tudo depende do significado que você coloca na palavra “Deus”. É uma palavra que expressa “algo” que você não conhece, mas está tentando alcançar.

Se você recebeu uma educação religiosa, está acostumado a chamar isso de “Deus”. Se recebeu uma educação mais positivista e filosófica, está acostumado a chamar isto por todo tipo de nomes, e pode ter ao mesmo tempo a ideia de que é a suprema verdade.

A realidade é distante demais da nossa compreensão, e chamamos de Deus. Algumas religiões dão uma forma precisa à divindade; e às vezes dão várias formas e têm vários deuses; às vezes dão apenas uma forma e têm apenas um Deus; mas tudo isso é fabricação humana.

Existe “algo”, existe uma realidade que está além de todas as nossas expressões, mas que podemos contatar praticando uma disciplina. Podemos nos identificar com ela. Quando a pessoa se identifica com essa realidade, ela sabe o que é, mas não pode expressá-la, pois as palavras não podem dizê-la.

Portanto, se você usar um tipo de vocabulário, se tiver uma convicção mental particular, você usará o vocabulário correspondente àquela convicção. Se pertencer a outro grupo que tem outra maneira de falar, você falará e pensará sobre essa realidade daquele modo.

Existe algo que não pode ser apreendido pelo pensamento, mas que existe. Mas o nome que você dá a isso pouco importa, nada importa, esse “algo” existe. Assim, a única coisa a fazer é entrar em contato com isso – não dar um nome ou descrever. Na verdade não serve para nada dar um nome ou descrever. A pessoa deve entrar em contato, concentrar-se sobre esse “algo”, vivê-lo, e se tiver a experiência não importa o nome que se dá. Apenas a experiência importa.

E quando as pessoas associam a experiência com uma expressão particular – de um modo tão estreito, tão fechado em si mesmo – isso é uma inferioridade. A pessoa deve ser capaz de viver essa realidade através de todos os caminhos possíveis, todas as ocasiões; deve-se vivê-la, pois ela é o supremo bem, é todo-poderosa, é onisciente... Sim, você pode vivê-la, mas não pode falar sobre ela. E se falar, o que é dito não tem grande importância. É apenas uma maneira de expressão, eis tudo.

Existe uma linha de filósofos que substituíram a noção de Deus pela noção de um Absoluto impessoal ou pela noção da Verdade ou a noção de Justiça, ou até mesmo a noção de progresso – de algo eternamente progressivo; mas para quem tem a capacidade interior de identificar-se com aquilo, o que é dito não tem muita importância.

Às vezes a pessoa pode ler todo um livro de filosofia e não progredir nenhum passo. Às vezes a pessoa pode ser um fervoroso devoto de uma religião e não progredir. Há pessoas que passam muitas vidas sentados em contemplação e nada alcançam.

Há pessoas (e temos exemplos bem conhecidos) que costumavam fazer os mais modestos trabalhos manuais, como um sapateiro remendando sapatos velhos, e que tiveram a experiência.

Isso está totalmente além do que se pensa ou diz. É uma dádiva, eis tudo. E tudo que é necessário fazer é conseguir identificar-se com essa realidade e vivê-la. Às vezes você lê uma sentença num livro e ela te leva lá. Às vezes você lê livros inteiros de filosofia ou religião e esses livros não te levam a lugar algum.

Entretanto há pessoas para quem a leitura de livros de filosofia ajuda a seguir em frente. Mas todas essas coisas são secundárias. Existe apenas uma coisa que é importante: uma vontade sincera e persistente, pois essas coisas não acontecem num piscar de olhos. É preciso perseverar.

Quando alguém sente que não está avançando, não deve se desencorajar; deve tentar encontrar o que está se opondo na natureza, e então fazer o progresso necessário. E de repente se faz um progresso. E quando se chega ao final, você tem uma experiência.

E o que é impressionante é que pessoas que seguem diferentes caminhos, com construções mentais totalmente diferentes, do maior crente ao maior ateu, até mesmo materialistas, têm chegado a essa mesma experiência, ela é a mesma para cada um. Porque é o verdadeiro, porque é real, porque é a única realidade.

E é total e simplesmente “aquilo”. Nada mais posso dizer. Porque palavras não têm importância. O importante é seguir o caminho, seu caminho, não importa qual seja, para chegar lá.
 
 
A Mãe (Mira Alfassa)
 
 
 

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