AS LIGAÇÕES FAMILIARES
NO JOGO CÁRMICO
O ser encarnante sempre é inserido no melhor ambiente que a lei do
carma lhe possa dispor para a evolução. Se toma consciência disso, passa
a aceitar e a compreender situações familiares conflituosas e fica apto
a resolvê-las ou a fazer delas estímulo ao próprio aperfeiçoamento e ao
dos demais. Mas, sem o exercício do amor-sabedoria e da compaixão, os
laços tornam-se cada vez mais fortes e tensos, retendo o ser em estados
de desarmonia que determinam etapas seguintes ainda mais obscuras e
frustrantes.
O vínculo cármico entre pais e filhos reflete-se diretamente no seu
processo evolutivo. Se o ser humano fosse mais receptivo às leis
espirituais, seguiria a sábia orientação que vem delas e reconheceria
que apenas uma mínima parcela da humanidade deve procriar. No entanto,
não é isso o que acontece, e considerável número de seres vêm ao mundo
despreparados, atraídos pelo denso magnetismo dos contatos sexuais entre
pessoas que não estão prontas para educar outras e apoiar seu
crescimento.
Nos tempos presentes, o processo de encarnação de uma alma apresenta
algumas peculiaridades. Cada vez mais esse processo se desorganiza
devido à promiscuidade sexual generalizada, ao número crescente de
abortos provocados e à grande quantidade de pessoas que procriam sem
querer. Nos planos internos da vida, deixou de haver o ritual dos
nascimentos.
Muitas das atuais dificuldades de relacionamento familiar são fruto
do mau uso do potencial criativo do ser humano. Hoje, a maior parte do
seu manancial de energia é canalizada para a prática do sexo – a
expressão mais densa da criatividade.
Contudo, se a pessoa desperta para atividades criativas superiores,
vai entrando em equilíbrio e sua vida afetiva por fim se asserena; com
maior facilidade, então, ela se integra em obras mais sutis, obras
universais em benefício dos semelhantes. É que a elevação da energia
criativa a torna forte para não se envolver demais no costumeiro jogo de
interesses emocionais e mentais do cotidiano.
É bom ressaltar que a busca de um uso correto da energia criativa não
precisa ter conotação repressiva. Em determinada altura de sua
evolução, a alma deixa de vitalizar as ações da personalidade no campo
dos relacionamentos, e aí essa conscientização é espontânea, natural,
pois reflete um amadurecimento interior. O impulso sexual é pacificado e
os impulsos espirituais são acolhidos de forma mais imediata.
Essa transformação, na verdade, nunca se limita ao âmbito individual;
toca outros seres que, do mesmo modo, podem começar a aprimorar sua
manifestação criativa. A propósito de relacionamento no grupo familiar,
tenhamos em conta algumas condutas que facilitam o convívio sem reforçar
os laços cármicos: (a) considerar que um ambiente familiar adverso pode
ser propício para saldar débitos cármicos recentes ou até bem antigos;
(b) ser responsável e cuidadoso com os familiares tanto quanto com as
demais criaturas, evitando afetos especiais e apegos aprisionadores que
os hábitos e a cultura tradicional estimulam; (c) não acirrar conflitos
que advenham do fato de os membros da família terem diferentes
interesses ou caminhos, o que é comum na desordem dos tempos atuais.
Como grande parte das famílias se compõe como escola de
aperfeiçoamento e oportunidade de purgação, é provável que, se um de
seus integrantes agir de forma inusitada e fora dos padrões da maioria,
irrite os demais e provoque seu antagonismo. Nesses casos,
imparcialidade e neutralidade devem ser evocadas e desenvolvidas. Assim
terá mais facilidade de evitar conflitos e o legítimo espírito fraterno
(e não o envolvimento emocional e mental) poderá prevalecer e
exprimir-se de modo cada vez mais universal.
A família tem estimulado as facetas egoístas dos seus membros: apóia o
caminho de realização pessoal e enaltece o amor-próprio; alimenta certa
obrigatoriedade de convívio, muitas vezes não confessada, em especial
entre pais e filhos. Tolhe, assim, em muitos casos, a liberdade tão
necessária de as pessoas tomarem os rumos a que estavam destinadas.
Em termos ideais, a instituição familiar deveria desempenhar o papel
de primeiro instrutor do ser que nela encarnasse, preparando-o para
encontrar a própria regência interna e para reconhecer a parte que lhe
cabe no progresso do mundo. Todavia, de maneira geral, ela é inapta para
cumprir tal papel, e o ser encarnante encontra mais obstáculos que
facilidades para perceber realidades universais no campo afetivo e no
espiritual. Atualmente, quando as instituições criadas para ajudar os
seres inexperientes desmoronam (como a família, as religiões, o Estado e
outras), é preciso chegar à vida espiritual para empreender tal busca
por si mesmo e com o mínimo de apoios.
A família, como instituição, está carregando pesado carma, difícil de
resolver se os que a integram permanecem no nível dos laços de
afinidade ou de rejeição. Uma parte dos atuais problemas de
relacionamento em família deve-se a isso; deve-se, também, ao fato de
como grupo social ter perdido o sentido para muitos.
No entanto, grandes e radicais transformações são esperadas. A
situação que no presente se vê, ao que parece sem esperança, será
modificada com o surgimento de uma nova forma de convívio, que refletirá
a interação entre almas e não se baseará em afinidades ou rejeições
puramente humanas. Também outras significativas mudanças se efetivarão
na constituição mesma do ser humano num próximo ciclo do mundo.
Este artigo foi escrito por Trigueirinho www.trigueirinho.org.br, www.irdin.org.br em 6 de novembro de 2012 às 15:33, e está arquivado em Espiritualidade
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