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segunda-feira, 12 de abril de 2021

 MOMENTOS DE PROFUNDA REFLEXÃO


Uma Hora Dedicada à Beleza e ao Amor

Uma hora dedicada à busca da beleza e do amor vale um século inteiro de glória dado aos fortes pelos fracos amedrontados.  

Desta hora vem a verdade da Humanidade. E durante aquele século, a verdade dorme entre os braços inquietos de sonhos perturbadores.  

Nesta hora, a alma vê por si mesma a lei natural e, naquele século, aprisiona-se a si mesma atrás das leis da Humanidade e é acorrentada com os grilhões da opressão.  

Esta hora foi a inspiração das Canções de Salomão e aquele século foi o poder cego que destruiu o templo de Baalbek.  

Esta hora foi o nascimento do Sermão da Montanha e aquele século destruiu os castelos de Palmira e a Torre de Babel.  

Esta hora foi a Hégira de Maomé e aquele século esqueceu Alá, o Gólgota e o Sinai.  

Uma hora dedicada a lamentar e a chorar a igualdade roubada aos fracos é mais nobre do que um século cheio de ganância e usurpação.  

É nesta hora que o coração é purificado pela tristeza ardente e iluminado pela tocha do amor.  

E é naquele século que os desejos de verdade são enterrados fundo na 

Esta hora é a raiz que deve florescer.  

Esta hora é a hora da contemplação, a hora da oração e a hora de uma nova era do Bem.  

E aquele século é uma vida de Nero, gasta em auto-comprazimento com base apenas na substância terrena.  

Esta é a vida - retratada no palco durante muitas eras, registrada na Terra durante séculos, vivida em estranheza durante anos, cantada como um hino durante dias, exaltada apenas por uma hora - mas esta hora é valorizada por toda a eternidade como uma joia. 

 

O Eu é um Mar

Os vossos corações conhecem em silêncio os segredos dos dias e das noites.  

Mas os vossos ouvidos anseiam por ouvir o som do conhecimento dos vossos corações. Gostaríeis de conhecer em palavras o que sempre soubestes em pensamento.  

Gostaríeis de tocar com os dedos o corpo despido dos vossos sonhos. E está bem que o façais.  

A fonte oculta da vossa alma precisa de se erguer e de correr rumorejante para o mar. O tesouro das vossas profundezas infinitas seria revelado diante dos vossos olhos. Mas que não haja balanças para pesar o vosso tesouro desconhecido. E não procureis as profundezas do vosso conhecimento com um cajado ou uma sonda. Pois o Eu é um mar ilimitado e imensurável.  

Não digais: «Encontrei a verdade», mas sim: «Encontrei uma verdade.»
Não digais: «Encontrei o caminho da alma.» Dizei antes: «Encontrei a alma caminhando pelo meu caminho.»  

Pois a alma caminha por todos os caminhos.  

A alma não percorre uma linha nem cresce a direito como uma cana. A alma desdobra-se e revela-se como um lótus de múltiplas pétalas. 

 

Os Filhos do Espaço

É verdade que o desejo de conforto mata a paixão da alma que, a seguir, caminha com um sorriso no funeral.  

Mas vós, filhos do espaço, vós, que na quietude permaneceis inquietos, não sereis aprisionados nem domados.  

A vossa casa não será uma âncora, mas um mastro.  

Não será uma película reluzente que cobre uma ferida, mas uma pálpebra que protege o olho.  

Não recolhereis as vossas asas para conseguir passar pelas portas, nem baixareis as cabeças para que não batam contra o teto, nem tereis medo de respirar, por receio de que as paredes rachem e se desmoronem.
E não habitareis em túmulos feitos pelos mortos para os vivos.  

Embora feita de magnificência e esplendor, a vossa casa não conterá o vosso segredo nem dará abrigo ao vosso desejo.  

Pois aquilo que em vós é sem limites habita na mansão do céu, cuja porta é a bruma da manhã e as janelas são as canções e os silêncios da noite. 

 

Aprende a Ver a Grandeza do Teu Próximo

Procura achar o que há de melhor numa pessoa, e diz-lhe isso. Todos nós precisamos deste tipo de estímulo; cada vez que o meu trabalho é elogiado, torno-me mais humilde, porque não me sinto ignorado ou indesejado.  

Todo o mundo possui alguma coisa que merece ser elogiada. Elogios significam compreensão. Somos excelentes seres humanos no nosso íntimo, e ninguém é melhor do que os outros; aprende a ver a grandeza do teu próximo, e verás também a tua própria grandeza. 

 

O Outono do Corpo

A existência não tem apenas um aspecto físico. As pessoas mais velhas podem estar muito mais vivas do que as jovens, porque já experimentaram muito mais coisas.  

O problema da velhice é que, por medo da morte que se aproxima, as pessoas passam a ter medo de viver. Não entendem que o final de uma etapa é que torna possível o próximo passo; a Natureza nunca dá saltos. Da mesma maneira que não quebra os galhos jovens, tampouco impede que uma árvore, velha e cansada, deixe de existir.  

Isto é o que chamamos «ordem natural das coisas». Muitas vezes imagino-me depois da morte, voltando lentamente aos elementos do solo; é a grande entrega, que muda tudo em silêncio e calma, para que as coisas possam renascer. A idade prepara o meu corpo para fertilizar de novo a terra de onde vim.  

O Outono do corpo conduz ao Inverno, e o Inverno é necessário para que uma nova Primavera surja. Da mesma maneira, o meu espírito move-se de uma etapa para outra, sabendo que cada estação tem as suas qualidades e os seus defeitos. 

 

Manter as Pétalas Bem Abertas

Para viver, é preciso coragem. Tanto a semente intacta como aquela que rompe a sua casca têm as mesmas propriedades. No entanto, só a que rompe a casca é capaz de se lançar na aventura da vida.  

Essa aventura requer uma ousadia única: descobrir que não se pode viver através da experiência dos outros, e estar disposto a entregar-se. Não se pode ter os olhos de um, os ouvidos de outro, para saber de antemão o que vai acontecer; cada existência é diferente da outra.  

Seja o que for que me espera, eu desejo estar com o coração aberto para receber. Que eu não tenha medo de colocar o meu braço no ombro de alguém, até que ele seja cortado. Que eu não tema fazer algo que ninguém fez antes, até que seja ferido. Deixa-me ser tolo hoje, porque a tolice é tudo o que eu tenho para dar esta manhã; posso ser criticado por isso, mas não tem importância. Amanhã, quem sabe, serei menos tolo.  

Quando duas pessoas se encontram, devem ser como dois lírios aquáticos que se abrem lado a lado, cada uma mostrando o seu coração dourado, e refletindo o lago, as nuvens, e os céus. Não consigo entender porque é que um encontro gera sempre o oposto disto: corações fechados e medo de sofrimento.  

Cada vez que estou contigo, conversamos por quatro, seis horas seguidas. Se pretendemos passar juntos todo este tempo, é importante não tentar esconder nada, e manter as pétalas bem abertas. 

 

A Intensidade da Vida

A intensidade da vida depende de como a olhamos.  

Há pintores que achariam belo este prato de uvas que se encontra sobre a mesa; e tentariam pintá-las com todo o seu frescor, a sua cor, a sua luz e a sua forma.  

E nós, quando olhamos o quadro que resultou, devemos pensar nos vinhedos, como eles cresceram, como foi a colheita. Pensar na loja onde o vinho destas uvas será vendido, e nas bocas que o provarão; entender que cada uma delas veio de um lugar diferente, embora estejam todas no mesmo prato. Reparar que o prato é chinês, e recordar tudo o que aprendemos sobre a China.  

Então, os nossos olhos dirigem-se para a mesa onde o prato repousa, e pensamos de que madeira é feita, como era a árvore de onde foi tirada, quem a cortou, e onde vivia o lenhador com a sua família.  

Ver as coisas desta maneira enriquece a imaginação e abre-nos para um mundo muito mais rico.  

As crianças deviam aprender a fazê-lo. 

 

Apreciar a Nossa Própria Companhia

A única maneira de justificar os nossos dias é amando e trabalhando com o melhor que existe dentro de nós. Devemos usar o coração do coração, e ver o mundo com olhos por onde as lágrimas - sejam elas de alegria ou tristeza - estejam sempre a jorrar.  

Eu conheço poetas que nunca se mostram por completo, porque têm medo de que os reconheçam, e acabem isolados; eles não gostam disso, porque não conseguem apreciar a sua própria companhia.  

Paradoxalmente, essa solidão é algo que assusta e atrai os homens. Eu, por exemplo, adoro estar só. Quando estou cercado de gente, e mesmo assim consigo reconhecer a minha própria solidão, sou capaz de amar todos os que estão à minha volta com muito mais desprendimento.  

Mas, à medida que essas pessoas exigem que eu abandone a minha solidão interior - para que elas mesmas não se sintam sozinhas - então a magia desse amor desaparece. 

 

O Amor é Consciente de Si Mesmo

O amor é consciente de si mesmo. É um impulso criativo; não tem outro propósito além de se preencher a si mesmo. O ser humano é perfeito nas suas imperfeições. Tenho que aceitar que quando alguém se move muito devagar em determinada direção é porque essa é a única maneira de ele percorrer aquele caminho.  

A mesma coisa acontece com o amor. 

 
Textos de  Khalil Gibran
https://www.citador.pt  

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