COMPREENDENDO A DIVINDADE
O inteligir é o próprio Ser de Deus. E, por isto, o inteligir é maior do que o Ser. Deus é intelecto e inteligir, e o próprio inteligir é fundamento do próprio Ser. O inteligir é mais elevado do que o Ser, e é de outra condição. Por isto, Deus... é intelecto e inteligir... Ele [Deus] é a riqueza em profusão porque é Um. Ele é o primeiro e o supremo porque é Um. Por isto, o Um penetra todas e cada uma das coisas, e permanece Um, unificando o separado. Por isto é que seis não são duas vezes três, mas seis vezes Um.
Se te amas a ti
mesmo, ama os outros do mesmo modo. Enquanto amares uma única pessoa
menos do que a ti mesmo, não conseguirás amar a ti mesmo. Enquanto eu sou isto ou aquilo, eu não sou todas as coisas simultaneamente. O Silêncio é a entrada predileta no Reino de Deus e na Vida Eterna. Há
um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste
Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o
Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil
de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em
eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no
mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio. Nada
faz de alguém um verdadeiro ser humano, a não ser renúncia à sua
vontade. Em verdade, sem renúncia à vontade própria em todas as coisas
nada conseguiremos perante Deus. Tu deves te entregar a Deus com absolutamente tudo, e não te preocupares com o que Ele faz do que é teu. Só
será uma vontade perfeita e verdadeira aquela que entrar inteiramente
na Vontade de Deus, despojada de vontade própria. E quem mais longe
tiver ido neste ponto, tanto mais e mais verdadeiramente terá ascendido a
Deus. Em verdade, um homem que se tenha despojado
inteiramente do que é seu estará de tal modo envolvido por Deus, que
nenhuma criatura o conseguirá tocar, sem tocar primeiro em Deus. E
aquilo que chegar até ele, deverá primeiro passar por Deus; aí, receberá
primeiro o Seu sabor e se tornará divino.
Você deveria saber que o impulso para o pecado sempre traz grande benefício para uma pessoa íntegra. Imagine você dois indivíduos, sendo um deles o tipo de pessoa que experimenta pouca ou nenhuma tentação, enquanto o outro é muito perturbado por isso. Neste último, a simples presença de certas realidades atinge o seu eu exterior, de modo que ele é levado à cólera, à vaidade ou à sensualidade, de acordo com o estímulo que recebe. Mas, com seu discernimento mais alto, ele permanece firme e imóvel, decidido a não ceder à sua fraqueza, seja ela qual for. Talvez se trate de uma fraqueza enraizada no seu próprio temperamento, assim como algumas pessoas são irascíveis, ou vaidosas, ou qualquer outra coisa, mas não desejam cometer estes pecados. Estas são pessoas muito mais dignas de louvor, e merecem maior recompensa, do que as do primeiro tipo, pois a perfeição da virtude nasce na luta, e São Paulo já dizia que 'a virtude se aperfeiçoa na fraqueza' (II Coríntios XII: 19). Ser tentado não é defeito; defeito é consentir no pecado. De fato, se alguém que está na plena posse de suas faculdades tivesse a capacidade de fazer com que a tentação não existisse, esta pessoa deixaria de exercitar o poder de combater a tentação, pois, sem a tentação nós não seríamos testados em todas as coisas e em tudo o que nós fazemos, já que estaríamos inconscientes do perigo de certas coisas, e sem a honra da batalha e da vitória. A tentação nos faz trabalhar mais duramente na prática da virtude. A tentação é como um açoite que nos ensina a vigilância e a prudência, pois, quanto mais fraca for uma pessoa, tanto mais ela deverá se armar com a força que conduz à vitória. A virtude (como o vício) é uma questão de vontade.
Você deveria saber que o impulso para o pecado sempre traz grande benefício para uma pessoa íntegra. Imagine você dois indivíduos, sendo um deles o tipo de pessoa que experimenta pouca ou nenhuma tentação, enquanto o outro é muito perturbado por isso. Neste último, a simples presença de certas realidades atinge o seu eu exterior, de modo que ele é levado à cólera, à vaidade ou à sensualidade, de acordo com o estímulo que recebe. Mas, com seu discernimento mais alto, ele permanece firme e imóvel, decidido a não ceder à sua fraqueza, seja ela qual for. Talvez se trate de uma fraqueza enraizada no seu próprio temperamento, assim como algumas pessoas são irascíveis, ou vaidosas, ou qualquer outra coisa, mas não desejam cometer estes pecados. Estas são pessoas muito mais dignas de louvor, e merecem maior recompensa, do que as do primeiro tipo, pois a perfeição da virtude nasce na luta, e São Paulo já dizia que 'a virtude se aperfeiçoa na fraqueza' (II Coríntios XII: 19). Ser tentado não é defeito; defeito é consentir no pecado. De fato, se alguém que está na plena posse de suas faculdades tivesse a capacidade de fazer com que a tentação não existisse, esta pessoa deixaria de exercitar o poder de combater a tentação, pois, sem a tentação nós não seríamos testados em todas as coisas e em tudo o que nós fazemos, já que estaríamos inconscientes do perigo de certas coisas, e sem a honra da batalha e da vitória. A tentação nos faz trabalhar mais duramente na prática da virtude. A tentação é como um açoite que nos ensina a vigilância e a prudência, pois, quanto mais fraca for uma pessoa, tanto mais ela deverá se armar com a força que conduz à vitória. A virtude (como o vício) é uma questão de vontade.
Mais
do que muitas outras virtudes, os mestres elogiam também a humildade.
No entanto, eu tenho mais elogios para o desprendimento do que para a
humildade, e este é o motivo: a humildade pode existir sem
desprendimento, mas não pode haver desprendimento perfeito sem humildade
perfeita, uma vez que a humildade perfeita visa o aniquilamento do
próprio ego. Ora, o desprendimento está tão próximo do nada que entre o
desprendimento perfeito e o nada não pode haver nada. É por isto que o
desprendimento perfeito não pode existir sem humildade. Mas, duas
virtudes são sempre melhores do que uma. A segunda razão pela qual
elogio mais o desprendimento do que a humildade é o fato de que a
humildade perfeita curva-se diante de todas as criaturas e, ao se
curvar, o homem, saindo de si mesmo, dirige-se às criaturas, enquanto o
desprendimento permanece dentro de si mesmo. Ora, nenhuma saída pode ser
tão nobre quanto a permanência em si mesmo. Por isto, o profeta Davi
afirmou: 'Omnis gloria ejus filiæ regis ab intus', o que quer dizer:
'Toda a honra da filha do rei vem de seu interior.' O desprendimento
perfeito não visa a se sujeitar a nenhuma criatura nem a se elevar sobre
criatura alguma – não quer estar abaixo nem acima de ninguém, antes,
quer estar em-si-mesmo, não fazendo bem nem mal a ninguém, não querendo
ser igual nem desigual em relação a nenhuma criatura, nem isto nem
aquilo: quer apenas ser. O desprendimento não quer ser isto nem aquilo
porque quem quer ser isto ou aquilo quer ser algo; ele, porém, não quer
ser nada. Por isto, dispensa todas as coisas.
Uma pessoa que dominou sua vida vale mais do que mil pessoas que dominaram somente o conteúdo de livros. Ninguém pode conseguir nada na vida sem Deus. Se eu estivesse à procura de um mestre para aprender, eu deveria ir a Paris ou frequentar as faculdades onde se fazem os mais altos estudos. Mas, se eu estiver interessado na perfeição da vida, o que lá me poderão informar? Aonde, pois, deveria eu ir? A alguém que tem uma natureza pura e livre, e a nenhum outro lugar. Nele, eu encontraria a resposta para aquilo que tão ansiosamente estou buscando. Homens, por que buscais ossos entre os mortos? Por que não buscais a vida eterna nos lugares santos da vida? Os mortos nada podem dar ou tomar. Se um anjo tivesse que buscar Deus fora de Deus, ele O buscaria em uma criatura pura, livre e plenamente disponível, e não em outro lugar. A perfeição depende somente do acolher a pobreza, a miséria, as durezas, os desapontamentos e tudo o que vier no decurso da vida, livremente, avidamente até a morte, como se a pessoa estivesse preparada para tal. Portanto, sem se emocionar nem sequer perguntar: por quê?
Toda
criatura é uma Palavra de Deus. Apenas a mão que apaga pode escrever a
coisa verdadeira. Quanto mais tivermos, menos donos seremos. O trabalho
exterior nunca será insignificante se o Trabalho Interior for grande.
Existe apenas o instante presente. Não há ontem nem amanhã, só o agora,
como foi há mil anos e como será daqui a mil anos. Enquanto houver
frustração não poderá haver ordem. Todas as palavras derivam seu poder
da Palavra Original. O melhor nome para Deus é Compaixão. Faça
exatamente o que você faria se você se sentisse mais seguro. Deus está
em casa. Nós é que saímos para dar uma voltinha. O que plantarmos no
solo de contemplação iremos colher na safra de ação. Verdadeiramente, é
na escuridão que se encontra a Luz. Então, quando estamos em sofrimento,
esta Luz está mais próxima de nós. O conhecedor e o conhecido são um.
Em matéria de conhecimento, o homem e Deus são um. Deus espera de todos
nós a mesma coisa: que Ele possa ser Deus em nós. O preço da inércia
[inação] é muito maior do que o custo de cometer um erro. Se Deus deu
uma alma à Sua criação, ela só poderia ser preenchida com Ele mesmo. O
homem exterior é a porta de vai-e-vem; o Homem Interior é a dobradiça.
Ser tentado não é defeito; defeito é ceder à tentação.
Em nada há desproveito; em tudo lateja uma lição.
Ser tentado é um Proveito que leva à desimperfeição.
Ora, só se tornará escorreito quem vencer o seu dragão.
Ser tentado dói no peito, mas, favorece a libertação.
Só adquirirá auto-respeito quem comutar sim em não.
Ser tentado é o Caminho de ouvir a Voz do Coração.
Então, para o Pequenininho, terminará a tirânica delusão.
Eckhart de Hochheim - Pensamentos
http://paxprofundis.org
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