ENSINAMENTOS DE RAMANA MAHARSHI
Onde
o ego não surge, ali somos Aquilo. Mas, como pode esta perfeita
ausência do ego ser alcançada, se a mente não imergir em sua Fonte? E se
o ego não se extinguir, como poderemos alcançar o Estado Natural, no
qual somos Aquilo?
Auto-realização = Remoção da Ignorância.
Aquieta-te e sabe que tu és Deus. Eu-sou o Eu-sou. O mundo das
representações, das construções mentais, é o mundo daquilo que não é.
Somos a própria Vida, o Ser Infinito, a Fonte de todas as coisas. Nada
há para ser adquirido; há, apenas, ignorância a ser removida.
O
que adianta conhecermos o que se passa fora de nós, se ficamos na
ignorância do que se passa dentro de nós? Eu sou o Espírito que
transcende o corpo. O corpo morre, mas o Espírito que o transcende não
pode ser tocado pela morte. Isto significa que Eu sou o Espírito
Imortal.
O Ser é o manifestador imanifestado. Quem lhe disse que
ele está manifestado? Os seus olhos não se podem ver. Mas, coloque-se
diante de um espelho, e eles poderão se enxergar. Acontece o mesmo com a
criação. Veja a si mesmo primeiramente e, em seguida, você verá que não
existe nada além do Ser Supremo.
Que outro meio há senão puxar a mente de volta ao interior todas as vezes que ela vaguear ou voltar-se para fora? Quem Sou Eu?' significa tentar encontrar a fonte do Eu ou o Pensamento-eu. Tudo o que se precisa fazer é encontrar a Fonte do Eu e permanecer lá. O método é: fique em silêncio.
A liberação, que é bem-aventurança, é natural a todos. A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação. Apenas o ego é prisão e a sua própria natureza, livre do contágio do ego, é liberação. Não há engano maior do que acreditar que a liberação, que está sempre presente como a sua verdadeira natureza, será alcançada em um tempo futuro. Até mesmo o desejo pela liberação é fruto da ilusão. Portanto, permaneça em silêncio.
O destino da alma é determinado segundo seu 'prarabdha-karma'. O que não deve acontecer não acontecerá, não importa o quanto você deseje. O que deve acontecer acontecerá, não importa tudo o que você faça para evitar. Quanto a isto, não resta dúvida. Portanto, o melhor caminho é permanecer em silêncio.
Conheça-te a ti mesmo. Tudo além [e aquém] será conhecido por sua própria harmonia. Discerne entre o eterno, imutável, todo interpenetrante e infinito Atman e o sempre mutante, fenomênico e perecível universo do corpo. Inquira: 'Quem sou eu?'. Faz a mente calma. Liberta-te a ti mesmo de todos os pensamentos outros do que o simples pensamento do Ser ou Atman. Mergulha profundamente dentro do quarto fechado do teu Coração. Encontra-te no real e ilimitado Eu. Descansa Nele, pacificamente, para sempre, e te torna idêntico com o Ser Supremo. O vegetarianismo é absolutamente necessário.
O mundo é infeliz por causa da sua ignorância do verdadeiro Ser. A verdadeira natureza humana é a felicidade. A felicidade é inata no verdadeiro Ser. A procura da felicidade pelo homem é uma procura inconsciente pelo verdadeiro Ser. O verdadeiro Ser é imperecível; portanto, quando alguém O encontra, encontra a felicidade, a qual não tem fim. No interior do Coração, o Ser Supremo Uno está sempre emitindo a emanação da autoconsciência: “Eu” ... “Eu”... Para realizá-lo, entre no seu Coração – através da busca interna ou do profundo mergulho ou controle da respiração – e permaneça no Ser do Ser. Somente o 'Eu' Supremo é. Pensar outra coisa é se iludir. O objetivo mais elevado da experiência espiritual é a compreensão do Eu Superior. A meditação profunda é a linguagem eterna. O silêncio é a linguagem eterna. O buscador deve investigar a sua verdadeira natureza, que é sempre destituída de corpo, e deve permanecer nela.
É evidente que, se o estado perfeito de 'Ahimsa' (consiste em não cometer violência contra outros seres) prevalecer, não poderá haver mais nenhuma guerra. Se um homem insulta seu próximo ou o injuria, o remédio não consiste em revidar ou resistir, mas, em permanecer tranquilo, simplesmente. Esta tranquilidade provocará a paz nele próprio e deixará quem o ofendeu pouco à vontade, até o momento em que este admita seu erro. Mahatma Gandhi se entregou completamente ao Ser Supremo e cumpre sua missão sem nenhum interesse pessoal. Ele não se preocupou com os resultados de suas atividades, e os aceitou como eles se apresentaram. Sua atitude deveria servir de exemplo a todos os que trabalham pela nação.
Cuide primeiro de si mesmo e tudo o mais se seguirá naturalmente. Submeta-se, primeiramente, à Vontade Divina, e espere. Você perceberá que o ambiente que o cerca melhorará à medida que você se fortificar espiritualmente. Você não tem necessidade de se deter em todas as diferenças. A diversidade é a lei do mundo. Mas, uma corrente única une todas elas. O Ser é o mesmo em todos os homens. Ele não conhece nenhuma diferença. As diferenças são superficiais, exteriores, e provêm da mente pensante. Você deve apenas descobrir a Unidade Suprema através da meditação.
Eliminar a mente pensante e o ego profano através da constante meditação é uma boa prática para se viver a suprema paz. As pessoas têm a tendência de não compreender a verdade simples, a verdade de sua experiência de cada dia, sempre atual e eterna. Esta verdade é o Ser. Mas, as pessoas não querem ouvir falar disto. Preferem saber o que se passa no além, no paraíso imaginário, no inferno... Querem saber sobre a reencarnação. Preferem o mistério à verdade simples – mistério que as religiões utilizam para atrair os homens por vias tortuosas. Mas, é inútil ir por tais caminhos. É necessário se conscientizar do Ser. Por que, então, não se estabelecer imediatamente Nele?
Descubra quem você é em essência, e chegarão ao fim todas as suas dúvidas. O Divino é a perfeição. Mas, você vê o mundo como imperfeito por causa de sua identificação incorreta. Sem a auto compreensão, a compreensão do mundo se torna sem significado. Mergulhe profundamente em você mesmo... e veja o mundo através dos olhos do Ser Supremo. Se você se dedicar sinceramente a prática da meditação e da devoção, seus sofrimentos acabarão.
É inútil desejar medir o Universo e estudar os diversos fenômenos, pois, os objetos são apenas criações mentais. Querer medi-los é comparável à tentativa de alguém que coloca o pé sobre sua própria sombra para bloqueá-la.
Aquele que deseja os bens deste mundo é semelhante ao sonhador que procura satisfazer em sonho seus desejos oníricos. No mundo do sonho, você encontra igualmente os desejos, os objetos desejados e a satisfação. A criação onírica preenche uma função tão importante para o sonhador quanto o mundo objetivo para o homem em estado de vigília. E, no entanto, o sonho não é considerado real.
A Consciência Pura, completamente desligada do Corpo Físico e transcendental à mente, é uma questão de experiência direta, pessoal ( toda experiência é direta, pessoal e intransferível. O mesmo não poderá viver a experiência do outro, e o outro não apre(e)nderá nada com a experiência do mesmo). O sábio conhece sua existência imaterial e eterna, assim como o leigo conhece a sua existência física. Mas, a experiência pode ser alcançada, quer se esteja consciente do corpo, quer não. Na existência imaterial da Consciência Pura, o Sábio [Iniciado] está além do tempo e do espaço, e nenhuma pergunta surge sobre a posição do Coração. Entretanto, desde que o Corpo Físico não pode subsistir à parte da Consciência, a percepção do Corpo é sempre sustentada pela Consciência Pura. O Corpo, pela sua natureza, é limitado e não nunca pode ser eterno como a Consciência Pura, que é ilimitada. O reflexo da consciência [objetiva] no Corpo é simplesmente uma espécie de mônada, reflexo-miniatura da Consciência Pura, com a que o Sábio realizou a sua identidade. Para ele, a consciência do Corpo é somente um raio refletido da Autoluminosa e Ilimitada Consciência – que é Ele próprio. É somente neste sentido que o Sábio está consciente da sua existência física. Desde que, durante a experiência imaterial do Coração como Consciência Pura, o Sábio não está apercebido do seu Corpo, aquela experiência absoluta é localizada por Ele dentro dos limites do Corpo Físico, como por uma espécie de recordação dos sentidos, deixada enquanto Ele esteve com a percepção do Corpo.É perfeitamente irrelevante para o 'jnani' (sábio) ou para o 'ajnani' (ignorante) se o mundo é percebido ou não. O mundo é visto por ambos, mas, seus pontos de vista diferem. Deus é sempre a primeira pessoa – o Eu – sempre estabelecido antes do tu. Como você dá preferência às coisas do mundo, Deus parece haver passado para o segundo plano. Se você desiste de tudo e procura somente a Ele, Ele apenas permanecerá como o Eu-Eu – o Ser. A Força Espiritual da auto-realização é mais poderosa do que o uso de todos os poderes ocultos. Visto que não há ego no Sábio, não há "outros" para ele. Chega-se [assintoticamente] à Verdade conscientizando-se do fato fundamental de que todos somos eternos, e não simplesmente acreditando que o mundo é efêmero.
Aqui estou eu, abandonando tudo.
Não Te peço nada; não perco nem lamento.
Pegue-me e me faça Teu.
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