T A O  -  O CAMINHO PERFEITO

  

Parte I

Moderação 

Para estabelecer o equilíbrio de nossa natureza humana e bem servir ao Eterno, cumpre observar a moderação.
Só pela moderação é que se obtém um rápido retorno ao estado normal do homem.
Este rápido retorno é que eu chamo as acumulações repetidas dos atributos do Tao.
A repetida acumulação desses atributos leva-nos a vencer todos os obstáculos que impedem esse retorno.
Não sabemos qual o limite desta sujeição e por não sabermos o seu limite, estamos aptos a governar o Estado.
Ao conquistarmos a mãe do Estado, podemos ter uma longa existência.
Este é o chamado caminho da raiz profunda e dos ramos firmes pelo qual podemos ver incontáveis dias.

A Misteriosa Excelência
 

Aquele que conhece o Tao não fala
Aquele que fala do Tao não o conhece.
Quem o conhece mantém a boca fechada e fecha também a porta dos sentidos e da mente.
Procura desfazer as complicações das coisas e aparar suas arestas.
Diminui a sua luz a fim de amoldar-se à obscuridade dos outros.
Isto se chama a Misteriosa Excelência.
Tal indivíduo não pode ser tratado de modo familiar nem cerimonioso, pois está além de toda consideração, lucro e injúria. É o mais nobre dos homens sob os céus.

A Qualidade da Indulgência
 

A mente do sábio não é inflexível
A sua mente é a mente do povo.
Sou bom para aqueles que são bons para mim
Para os que não são bons, também sou bom
Desta forma todos seremos bons.
Para os sinceros comigo, sou sincero
Para os insinceros, também sou sincero.
O sábio aparenta ser indeciso, pois sua mente permanece no estado de indiferença.
Todas as pessoas mantém os olhos e ouvidos para ele dirigidos, e ele os trata como suas crianças.

A Natureza do Tao
 

O Tao de que se pode falar, 

Não é o todo absoluto.
Os nomes que podem ser dados, 

Não são nomes absolutos.
O indizível é a origem do Céu e da Terra,
O denominado é a mãe de todas as coisas.
Portanto:
Há quem muitas vezes se dilacere de paixão 

Para ver o segredo da vida;
Há quem muitas vezes encara com paixão a vida;
A fim de ver suas formas manifestas.
Ambos podem ser chamados o Mistério do Cosmo.
São da mesma natureza, 

A qual se dá diversos nomes
Quando se tornam manifestos.
Ambos podem ser chamados o Mistério do Cosmo,
Abarcando o Mistério e o Mistério mais profundo,
Eis a porta do segredo de toda a vida.

A origem dos contrastes
 

Quando todos os homens da Terra reconhecem a beleza como beleza,
Surge o conhecimento da fealdade.
Quando todos os homens da Terra reconhecem o bem como bem,
Surge o conhecimento do mal.
Portanto:
O ser e o não ser interdependem na sua formação;
O difícil e o fácil interdependem na realização;
O comprido e o curto interdependem em seu contraste;
O alto e o baixo interdependem na sua posição;
Som e vozes interdependem na harmonia;
Frente e verso interdependem na sua reunião.
Portanto o Sábio:
Procede nos negócios sem agir;
Prega a doutrina sem palavras;
Todas as coisas sobem, mas ele não lhes vira as costas;
Ele dá-lhes vida, mas não se apodera delas;
Ele age, mas não se apossa;
Realiza, mas não reclama conhecimento;
E porque não reclama conhecimento
O conhecimento não lhe pode ser tomado.

 

Agir Sem Ação
 

Não exalteis sábios,
A fim de que o povo não conspire nem nutra ambições;
Não louveis preciosidades raras,
A fim de que o povo não roube;
Afastai da sua vista as coisas cobiçadas,
A fim de que não seja perturbado o coração do povo.
Portanto:
Onde governa o sábio, Mantém esvaziados os corações,
Mas cheios os estômagos, Enfraquece seus desejos
Fortalece seus corpos:
A fim de que o povo fique livre de conhecimentos e desejos,
E os manhosos não tentem interferir.
Pela atividade sem ação, Que todos vivam em paz.

A Natureza do Tao
 

O Tao é um vaso; Sua utilidade é inexaurível!
Imensurável! Como a fonte primitiva de todas as coisas,
Suas arestas são arredondadas,

Seus laços desatados,
Sua luz diminuída, Seu tumulto sufocado,
Mesmo assim, parece permanecer escuro como água profunda.
De quem é o filho, não sei,
Uma imagem daquilo que existiu antes de Deus.

A Natureza
 

A Natureza não é bondosa;
Ela trata a criação como cães de palha para sacrifícios.
O sábio não é bondoso;
Ele trata os homens como cães de palha para sacrifícios
Como se parece com um fole o Universo!
É vazio, mas dá ar sem parar -
Quanto mais é acionado, tanto mais produz
Esgota-se o espírito por muitas palavras.
É, pois, preferível, ater-se ao âmago.

 

O Espírito do Vale
 

O espírito do Vale nunca morre. 

Ele chama-se o "Feminino Místico".
A porta do Feminino Místico. 

É a raiz do Céu e da Terra.
Imutável, imutável, 

Parece permanecer.
Tira dele E ele te servirá com facilidade.

Viver Para os Outros
 

O Universo é eterno. 

A razão porque o Universo é eterno
É que ele não vive sua própria vida.
Por isso pode sobreviver por muito tempo.
Por isso é que o sábio se coloca no último lugar
E se encontra no primeiro lugar;
Considera seu corpo como acidental
E por isso conserva seu corpo.
Não será por isso que ele não vive para si mesmo
Que o seu Ego se realiza?

   

Água
 

O melhor dos homens é como a água; 

Água beneficia todas as coisas
Mas não rivaliza com elas.
Ela conserva-se em lugares baixos, 

desdenhados por todos -
E nisto aproxima-se do Tao.
Para sua morada o sábio prefere a terra baixa;
No seu coração ele ama tudo o que é humilde;
Nas suas relações com outros ele ama a bondade;
Nas suas palavras ele ama a sinceridade:
No governo, ele ama a paz; 

Nos negócios ele ama a habilidade;
Nas suas atividades ele gosta de escolher o tempo certo.
E é porque ele não é ambicioso que ele é irrepreensível.

O Perigo do Êxito Excessivo
 

Estica o arco até o extremo e desejarás, a tempo
Haver-te detido. 

Forja demasiadamente afiada
A lâmina de uma espada e o gume não durará muito.
Quando ouro e pedras preciosas encherem a tua casa.
Não poderás guardá-los com segurança.
Orgulhar-se de riquezas e honrarias
Significa semear os germes da própria derrocada.
Retirar-se logo que a obra estiver terminada.
Eis o caminho do Céu.

Abraçar o Uno

Ao abraçares o Uno com a alma não poderás mais abandonar o Tao?
Ao reforçares tua força vital para conseguir humildade
Poderás assemelhar-te a um recém nascido?
Ao calcares e purificares tua visão mística poderás aspirar pela perfeição?
Ao amares um povo e governares um reino poderás governar sem interferir?
Ao abrires e fechares as portas do Céu poderás representar o papel do feminino?
Ao perceberdes todo o conhecimento poderás renunciar ao pensamento?
Dar à luz e nutrir, dar à luz sem se apossar,
Agir sem se apoderar, 

Ser amo entre os homens sem dirigi-los,
Eis a Virtude Mística.

O valor do Não Ser
 

Trinta raios convergem no cubo; 

Do não ser individual
Resulta o valor da roda. 

Modela um vaso de barro:
Do não ser do barro na cavidade resulta o valor do vaso.
Corta portas e janelas na parede da casa
E de seu não ser, do espaço vazio, resulta o valor da casa.
Portanto: o ser das coisas nos é vantajoso,
E o não ser das coisas nos é proveitoso.

 

Os Sentidos
 

As Cinco Cores cegam os olhos do homem;
Os Cinco Sons ensurdecem o ouvido do homem;
Os Cinco Temperos embotam o paladar do homem;
Caçadas, corridas e agitações transtornam 

o espírito do homem;
Tesouros preciosos roubam o sono do homem.
O sábio, portanto:
Cuida das necessidades da alma e não das do olho,
Razão por que rejeita uma coisa e aceita outra.

 Louvor e Censura
 

"Graça e ignomínia causam decepção;
Tudo quanto estimamos ou tememos, 

encontram-se em nós mesmos."
O que significa:
"Graça e ignomínia causam decepção"?
Os que recebem uma graça de seus superiores
são decepcionados ao recebê-la 

e decepcionados ao perdê-la.
O que significa:
Tudo quanto estimarmos ou tememos, 

encontra-se em nós mesmos?
Temos medo porque temos uma existência
Se não considerássemos essa existência como nossa,
Que teríamos a temer?
Portanto:
Quem aprecia o mundo como a sua própria existência
É que deve ser encarregado de governá-lo;
É quem ama o mundo como a sua própria existência
É a quem deve ser confiado zelar pelo mundo.

 

Origens pré-históricas
 

O que é olhado, mas não pode ser visto, 

Isto chama-se o Invisível.
O que é escutado, mas não pode ser ouvido, 

Isto chama-se o Inaudível.
O que se pega, mas não pode ser tocado, 

Isto chama-se o Intangível.
Estes três escapam a todas as nossas indagações, Confluem e tornam-se Uno.
Não é por sua ascensão que dá a luz,
Não é por seu pôr que dá escuridão.
Incessante, constante, não pode se determinado
E volta para o reino do Nada.
Eis porque se chama a forma do amorfo, 

a imagem do Nada.
Eis porque se chama o que escorrega; 

Encontra-o e não verás o seu rosto,
Segue-lhe e não verás suas costas. 

Quem se prende ao Tao do passado,
Para fazer as coisas de hoje, será capaz de reconhecer aquele primeiro Começo
Que é a continuidade do Tao.

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