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quarta-feira, 15 de abril de 2020

R  E  L  A  X  E    E  N  Q  U  A  N  T  O    A  G  E 

Group of businesspeople discussing the project on laptop | Free Photo 

Antes de tudo, o tipo de atividade e as tendências ocultas que ela carrega precisam ser entendidas; do contrário, nenhum relaxamento é possível. Mesmo que você queira relaxar, isso será impossível se você não tiver percebido, observado, ponderado, a natureza de sua atividade, pois a atividade não é um fenômeno simples. Muitas pessoas gostam de relaxar, mas não conseguem. O relaxamento é como um florescimento; você não pode forçá-lo. Você precisa entender o fenômeno inteiro – por que você é tão ativo, por que tanta ocupação e atividade, por que você está obcecado por isso.

Lembre-se destas duas palavras: umas delas é ação; a outra é atividade. Ação não é atividade; atividade não é ação. A natureza de ambas é diametralmente oposta. Existe ação quando determinada situação a exige, e você age, reage. Há atividade na situação em que esta última, para você, é irrelevante, em que a atividade não é reação; você se sente tão inquieto, que essa situação é apenas um pretexto para você ficar ativo.

A ação promana de uma mente silenciosa – é a coisa mais bela do mundo. A atividade resulta de uma mente inquieta – é a coisa mais horrenda que existe. Há ação quando esta é relevante; atividade é algo sem importância. A ação ocorre de momento para momento, espontaneamente; a atividade é algo pejado de coisas passadas. Não é uma reação ao momento atual; ao contrário, é o extravasamento de sua inquietação, a qual você vem trazendo do passado para o presente. A ação é criativa. A atividade é muito destrutiva – ela o destrói, e destrói os outros.

Tente perceber essa diferença sutil. Por exemplo, você sente fome e, então, você come – isso é ação. Mas você não se sente faminto, não se sente nem um pouco faminto, e mesmo assim você continua comendo – isso é atividade. Esse ato de comer é um tipo de violência: você destrói o alimento, pressiona os dentes uns contra os outros e destrói o alimento; isso lhe proporciona algum alívio de sua inquietação íntima. Você está comendo não por causa da fome; você está comendo simplesmente por causa de uma necessidade íntima, um estímulo para ser violento.

No mundo animal, a violência está relacionada com a boca e as mãos, as unhas e os dentes; esses dois conjuntos são fatores de violência no reino animal. Enquanto você come, ambos se juntam; com as mãos, você pega o alimento, e com a boca, você o come – a violência é liberada. Mas, quando não há fome, isso não é ação; é doença. Essa atividade é obsessão. Obviamente, você não pode continuar comendo dessa forma, pois, assim, você explodirá. Por isso, as pessoas inventam alguns truques: elas mastigam tabaco ou mascam chiclete, fumam cigarro. Isso é alimento falso, sem nenhum valor nutritivo, mas funcionam bem, já que se trata de um meio de lidar com a violência em nós.

Um homem sentado e mascando chiclete, o que ele está fazendo? Ele está matando alguém. Em sua mente, se ele se tornar consciente disso, ele pode fantasiar a ideia de que está cometendo assassinato, matando – mas ele está mascando chiclete, atividade muito inocente em si mesma. Você não está prejudicando ninguém – mas isso é muito perigoso para você, pois você parece completamente inconsciente do que está fazendo. Um homem fumando, o que ele está fazendo? Muito inocente, até certo ponto; apenas inalando a fumaça e exalando, inalando e exalando – uma espécie de pranayama malfeito, e um tipo de meditação transcendental secular. Ele está criando um mandala: ele inala a fumaça, expele-a, inala-a, expele-a – um mandala é criado, um círculo. Pelo ato de fumar, ele está como que recitando uma espécie de salmo, fazendo uma cantilena ritmada. Isso alivia; sua inquietação íntima diminui um pouco.

Quando estiver conversando com alguém, lembre-se sempre – isto é quase cem por cento exato – se a pessoa começa a dar mostras de que deseja fumar, isso significa que ela está enfastiada, e você deveria afastar-se ou despedir-se dela. Se pudesse, ela o expulsaria da presença dela; isso não pode ser feito, seria muito indelicado. Ela procura o cigarro e diz: “Agora, chega! Não aguento mais.” No reino animal, ela teria saltado sobre você, mas não pode fazer isso – ela é um ser humano, civilizada. Ela “salta” sobre o cigarro, e começa a fumar. Agora, ela já não se preocupa com você, agora, ela está envolta em seu próprio e fumarento cântico. Isso alivia.

Mas essa atividade demonstra que ela está obcecada. Ela não consegue continuar sendo ela mesma; não consegue permanecer silente, não consegue permanecer inativa. Por meio da atividade, ela se vê na possibilidade de expelir de si a sua loucura, insanidade.

Ação é beleza, ação resulta de uma reação espontânea. A vida precisa de reação, e a todo momento você precisa agir, mas a atividade vem pelo momento atual. Você se sente faminto e procura comida; você sente sede e vai à fonte de água. Você está se sentindo sonolento e vai dormir. É em razão da plenitude da situação que você age. Ação é algo espontâneo e pleno.

A atividade jamais é espontânea; ela é oriunda do passado. É possível que você a venha acumulando há muitos anos, e ela acaba explodindo no presente – embora ela não seja relevante. Mas a mente é astuta; ela sempre achará motivos para a prática da atividade. A mente sempre tentará provar que isso não é atividade; que isso é ação; que é necessário. De repente, você explode de raiva. Todos à sua volta percebem que isso não era necessário, que a situação não exigia isso, que a coisa era simplesmente insignificante – mas o fato é que você não consegue entender isso. Todos observam: – O que você está fazendo? Não havia necessidade disso. Por que você está tão furioso? – Mas você acha razões para isso, conclui que isso é necessário.

Essas razões o ajudam a permanecer inconsciente de sua loucura. Essas coisas são o que George Gurdjieff costumava chamar de “amortecedores”. Você cria “amortecedores” do raciocínio em torno de você para que não perceba a realidade da situação. Amortecedores são mecanismos usados em trens, entre dois vagões; amortecedores são usados para que, em caso de paradas súbitas, os passageiros não sofram toda a intensidade do choque. Os amortecedores absorvem o choque. Sua atividade é sempre irrelevante, mas seus amortecedores do raciocínio não permitem que você enxergue a situação. Os amortecedores o cegam, e esse tipo de atividade continua.

Se a atividade existe, você não consegue relaxar. Como você poderia relaxar? – por ser uma necessidade obsessiva, você sempre quer fazer algo, seja o que for. Existem tolos no mundo inteiro que não param de dizer: “Faça algo, em vez de não fazer nada.” E há também idiotas completos que espalharam este provérbio por toda a Terra: “A mente fazia é a oficina do diabo.” Não é! A mente vazia é a oficina de Deus. A mente vazia é a coisa mais bela do mundo, a mais pura delas. Como pode a mente vazia ser a oficina do diabo? O diabo não pode entrar numa mente vazia, é impossível! O diabo só consegue entrar na mente que está obcecada por atividades – então, ele consegue dominá-lo, consegue mostrar formas e meios e métodos para que você fique mais ativo. O diabo jamais diz: “Relaxe!” Ele diz: “Por que você está desperdiçando seu tempo? Faça algo, homem – mexa-se! A vida está passando, faça algo!” E todos os grandes instrutores, instrutores que despertaram para a verdade da vida, acabaram percebendo que a mente vazia dá espaço ao divino, para que ele entre em você.

A atividade pode ser usada pelo diabo, não a mente vazia. Como o diabo pode usar uma mente vazia? Ele não se atreverá a se aproximar, pois o vazio simplesmente o destruirá. Mas, quando você está tomado por um impulso forte, um louco impulso para tornar-se ativo, o diabo assume o comando. Assim, ele passa a guiá-lo – então, ele se torna o seu único guia.

Gostaria de dizer-lhes que esse provérbio é absolutamente equivocado. O próprio diabo o deve ter inspirado.

Essa obsessão de ser ativo tem que ser observada. E você precisa observá-la em sua própria vida, pois tudo o que lhe digo não será de muita valia, a menos que você observe em si mesmo que sua atividade é irrelevante, é desnecessária. Por que você está fazendo isso?

Em minhas viagens, tenho visto pessoas fazendo sempre as mesmas coisas. Durante 24 horas, fico com um passageiro no trem. Ele lê o mesmo jornal várias vezes, e não encontra nada mais para fazer. Confinado numa cabine de passageiros, não há muita possibilidade para ser ativo. Assim, ele lê o mesmo jornal inúmeras vezes. E eu fico observando… o que esse homem está fazendo?

Um jornal não é um Gita ou uma Bíblia. Você pode ler o Gita muitas vezes, pois, cada vez que o faz, você descobre um novo significado. Mas um jornal não é um Gita; ele acaba assim que você passa os olhos sobre ele! E ele não vale a pena ser lido nem mesmo uma vez, mas as pessoas o continuam lendo. Uma vez após outra, elas tornam a lê-lo. Qual o problema aí? É uma necessidade? Não – elas estão obcecadas; não conseguem permanecer caladas, inativas. Isso é impossível para elas; isso lhes parece a própria morte. Elas têm que estar ativas.

O fato de ter viajado durante muitos anos me deu muitas oportunidades para observar pessoas sem que elas soubessem disso, pois, às vezes, somente uma pessoa viajava comigo na cabine. E ela fazia todo tipo de esforço para me fazer conversar com ela, e eu respondia apenas sim ou não; e ela acabava desistindo da ideia. Então, eu passava apenas a observar – uma bela experiência, e não me custava um centavo! Eu a ficava observando: ela abria a pasta – e eu via que ela não estava fazendo nada – em seguida, ela olhava brevemente o interior e a fechava. Depois, abria a janela, e a fechava a seguir. Mais adiante, o homem tornava a se ocupar com o jornal, e fumava, e abria a pasta, e a arrumava, e abria a janela, e olhava a paisagem. O que ele está fazendo? E por quê? Um impulso interior, algo freme dentro dele, um estado mental febril. Ele tem que fazer algo; do contrário, estará perdido. Ele deve ser um homem ativo; agora, há um momento para relaxar – ele não consegue relaxar, o velho hábito predomina.

Consta que Aurangzeb, imperador mongol, aprisionou seu velho pai. O pai de Aurangzeb, Shah Jahan, construiu o Taj Mahal. O filho o aprisionou, o destronou. Consta também que – e isto está escrito na autobiografia de Aurangzeb – depois de alguns dias Shah Jahan deixou de preocupar-se com a prisão, pois toda a regalia lhe foi concedida.

A prisão era um palácio, e Shah Jahan estava vivendo como vivera antes. Ela não parecia uma prisão; absolutamente tudo de que ele precisava havia ali. Somente uma coisa estava faltando, e era atividade – ele não podia fazer nada. Assim, ele pediu a seu filho Aurangzeb: – Sim, você tem me fornecido tudo, e tudo é muito bom. Mas há uma coisa pela qual eu lhe serei grato para todo o sempre se você puder me atender, e essa coisa é: envie-me trinta jovens. Eu gostaria de lecionar-lhes.

Aurangzeb não conseguiu acreditar no que ouviu: “Por que meu pai gostaria de dar aulas a trinta jovens?” Ele jamais tinha demonstrado nenhuma inclinação para ser professor, jamais se interessara por nenhum tipo de educação, o que havia acontecido com ele? Mas o imperador satisfez o desejo do pai. Trinta jovens foram enviados a Shah Jahan, e tudo ficou bem – ele se tornou imperador outra vez, com os trinta pequenos jovens. Você entra para a escola primária, e o professor é quase um imperador. Você pode ordenar que eles se sentem, e eles terão que se sentar; você pode mandar que se levantem, e eles terão que se levantar. E, naquele cômodo, ele criou com os trinta jovens todo o ambiente de sua corte – simplesmente o velho hábito e o vício inveterado de dar ordens a pessoas.

Aliás, os psicólogos suspeitam de que os professores são como políticos. Logicamente, não muito confiantes em si mesmos a ponto de entrarem para a política – eles vão para as escolas, e lá se tornam presidentes, primeiros-ministros, imperadores. Crianças pequenas – e eles lhes dão ordens e as forçam a fazer isso ou aquilo. Os psicólogos suspeitam também que os professores têm certa inclinação para o sadismo, de que eles gostam de torturar os alunos. E para isso não se pode achar um lugar melhor do que a escola primária. Talvez ocorra o fato de se torturarem crianças inocentes – e pode ser que se faça isso achando-se que é para o próprio benefício, o próprio bem deles. Vá e veja! Eu tenho visitados escolas primárias e venho observando os profesores. Os psicólogos apenas suspeitam disso – eu tenho certeza de que eles são torturadores! E não se pode achar vítimas mais inocentes, completamente inermes; elas não conseguem nem mesmo reagir. Elas são muito frágeis e impotentes – e o professor assume a atitude de um imperador.

Aurangzeb escreve em sua autobiografia: “Meu pai, simplesmente por causa dos velhos hábitos, continua querendo fantasiar que ainda é o imperador. Portanto, deixe-o fingir e enganar a si mesmo, não há nada errado nisso. Enviem trinta ou trezentos garotos, quantos ele queira. Deixe que ele administre uma pequena escola e seja feliz.”

Há atividade quando a ação não tem nenhuma importância. Observe a si mesmo e veja: 90% de sua energia é desperdiçada com atividades. E, por causa disso, quando chega o momento de agir, você não tem energia. Uma pessoa relaxada é simplesmente despreocupada, e a energia começa a acumular-se nela. Ela economiza a própria energia, ela é preservada automaticamente e, quando chega o momento de agir, todo o seu ser participa do fenômeno. É por isso que a ação é plena. A atividade é sempre algo a que as pessoas se entregam com certo desânimo, com apenas parte de suas forças, pois como você pode enganar a si mesmo completamente? Mesmo você sabe que isso é inútil. Mesmo você tem consciência de que está fazendo isso por causa de certos motivos que lhe fervilham no íntimo do ser, os quais não estão nem mesmo claros para você, mas, sim, muito vagos.

Você pode mudar de atividade, mas, a menos que as atividades sejam transformadas em ações, isso não ajudará. As pessoas vêm até mim e dizem: “Eu gostaria de parar de fumar.” Eu respondo: “Por quê? Essa marca é tão boa. Continue.” E, se você parar de fumar, você contrairá outro vício – pois a doença não deixa de ser doença só porque mudam os sintomas. Então, você começará a roer unhas, e depois mascará chiclete – e olhe que existem coisas mais perigosas. Essas são inofensivas, pois, se você está mascando chiclete, você está simplesmente mascando chiclete. Talvez você seja um tolo, mas não é um homem violento, não é alguém que violenta ou prejudica outras pessoas. Se você parar de mascar chiclete, fumar, o que você fará? Sua boca precisa de atividade, ela é violenta. Então, você passará a falar. E falará sem parar, excessivamente – por conta de incontrolável leviandade e bisbilhotice – e isso é mais perigoso ainda!

A esposa de Mulla Nasrudin veio me visitar um dia desses. Raramente ela vem me visitar, mas quando ela vem eu entendo imediatamente que deve haver algum tipo de crise. Assim, pergunto: “Qual o problema?” Ela precisou de trinta minutos, e de milhares de palavras para dizer-me: – Mulla Nasrudin fala enquanto dorme. Eu gostaria que você sugerisse algo – o que eu deveria fazer? Ele fala demais, e é difícil dormir no mesmo quarto que ele. E ele grita e diz coisas obscenas.

Eu lhe disse: – Você não deve fazer nada. Simplesmente dê a ele uma chance para conversar quando vocês dois estiverem acordados.

As pessoas falam sem parar, não dão nenhuma chance a ninguém mais. Falar é o mesmo que fumar. Se você falar durante 24 horas… e você fala mesmo! Enquanto está acordado, você fala; depois, se o corpo cansa, você adormece, mas a falação continua. Durante 24 horas, um dia inteiro, você fala, e fala, e fala. Isso é como fumar, pois o fenômeno é o mesmo: a boca precisa de movimento. E a boca é a causa da atividade básica porque falar foi a primeira atividade que você realizou em sua vida.

A criança nasce, e começa a sugar o seio da mãe – essa é a primeira atividade, e a atividade fundamental. Fumar é quase como sugar o seio da mãe: o caloroso leite entra pela boca… ao fumar, a calorosa fumaça entra pela boca e o cigarro entre os seus dedos lhe parece o seio de sua mãe, o mamilo. E se você não tem como fumar, mascar chiclete, e isso e aquilo, então você fala. E isso é mais perigoso, pois você está atirando seu lixo na mente das outras pessoas.

Você consegue se manter em silêncio durante muito tempo? Os psicólogos dizem que, se você permanecer calado durante três semanas, você começará a falar sozinho. Então se dividirá em dois: você falará e, ao mesmo tempo, escutará a si mesmo. E, se tentar manter-se calado durante três meses, você estará pronto para ser levado para o hospício, pois não se importará se há alguém lá ou não. Você falará e não fará apenas isso, mas responderá também – agora você está completo, agora você não depende de ninguém. Os lunáticos são assim.

O lunático é a pessoa cujo mundo inteiro está confinado nela mesma. Ele é o interpelante e o interpelado, ele é o ator e o espectador – ele é tudo, todo o seu mundo está restrito a ele mesmo. Ele se dividiu em várias partes, e tudo lhe ficou fragmentado.
 
Osho
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