O Q U E N Ã O C O M P R E E N D O
Compreendo, ó homem, todos os teus vícios – menos um…
Compreendo que sejas cobiçoso, sensual, mentiroso e irascível…
Compreendo que sejas vítima de inveja e escravo de vil egoísmo…
Tudo isto, embora reprovável, é por demais compreensível…
Mas, não compreendo – o teu orgulho…
Não sei realmente de que possas ufanar-te…
A alma não é tua – e o corpo é fraquíssimo…
Duvidas?
Duvidas?
Se entrar no corpo certo micróbio – estás morto…
Se te romper no cérebro uma veiazinha capilar – estás no cemitério ou no manicômio…
Se a temperatura do sangue passar seis graus acima do normal – és cadáver…
Se deres um passo em falso sobre uma ponte – deixaste de existir…
Se o piloto aviador cochilar um instante – estás reduzido a uma massa sangrenta de carne e osso quebrado…
Morrem cada ano mais de 50 milhões de homens – e um dia serás tu desse número…
De que pois, pretendes orgulhar-te, ó homem?…
Das potências de teu espírito? – das luzes da tua inteligência?…
Dize-me, com que sustentas a atividade do teu intelecto?…
Se te faltarem feijão, batata, carne, pão e manteiga – que é da tua sapiência?…
Basta que, por uns dias, te faltem certas matérias brutas – e adeus ciência e arte…
Sucumbem toda a tua eloquência e poesia – perece tua inspiração…
O mais inteligente dos homens se torna idiota – quando lhe falta um bocado de matéria inerte…
A mais graciosa cantora é creatura banal – aos solavancos do navio que a transporta…
Por que, pois, te glorias ó homem, da tua grandeza?…
Por que achas desdouro ser humilde – e crer nas coisas divinas?…
Disse ao mar a gotinha da praia: Sai daqui, elemento mesquinho!…
Disse ao sol o arco-íris: Retira-te! Não me roubes as cores que produzi!
Disse aos pais o infante recém-nato: que estais a fazer aqui?…
Disse a pérola ao molusco que a fez: Por que entraste na minha concha?…
Disse a rosa à roseira: Que queres de mim, sarça espinhosa?…
Disse a laranja à laranjeira: Segura-te em mim para não caíres!…
“Disse o insensato no seu coração: Não há Deus”!
Disse o orgulhoso a Deus que o creou: Não preciso de Ti!…
Compreendo ó homem, todos os teus vícios – menos um: Teu orgulho… Tua presunção…
Tua arrogante ignorância…
Tua arrogante ignorância…
Huberto Rohden, do livro: De Alma para Alma
https://ihgomes.wordpress.com
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