C A M I N H O   P A R A   A   S A B E DO R I A 

Escritos de Wu Hsin

 

Aquilo que é natural não segue ou requer lei alguma. Pode haver uma lei para o pulsar do coração? Ou para o negrume do corvo? Há um ritmo natural para o mundo; alguns são discerníveis, enquanto outros não podem ser discernidos. É a dança entre os dois que gera a ação.

Confia que aquilo que te trouxe até aqui conduzir-te-á até lá.

O infinito não tem preferências, beija igualmente a escuridão e a luz. 

Aquele que percebe e aquilo que é percebido são duas extremidades de um mesmo bastão.

A ausência de um é a ausência de ambos. A ausência de tudo revela a presença da semente de tudo.

Muitos escritos falam do criador. No entanto, na verdade, esse criador é apenas outra criação. Quem criou o criador?

Aquilo que começa com uma rachadura se torna uma janela, e então uma porta, até que desapareça por completo. Esse é o desdobramento da consciência.

Não há floresta, nem caverna, nem montanha onde possas esconder-te de ti mesmo.

Quando a visão e a compaixão se expandem para abranger a oposição, a oposição deixa de se opor.

Tudo o que existe é consciência. Consciência é tudo o que existe. Na ausência da consciência, o que é que existe? Todas as manifestações aparecem e desaparecem na consciência. A consciência é a condição anterior para toda a percepção. Tudo o que é percebido é percebido pela consciência como um objeto da consciência, incluindo aquele que percebe. Entende isso e então cultiva tuas cenouras.

Todas as experiências são transitórias. O sábio não as procura nem as rejeita. Desse modo, permanece-se enraizado no imutável, o palco sobre o qual todas as mudanças ocorrem. Para muitos, aquilo que acreditam ser um castelo é, na verdade, uma prisão. A dependência do entorpecente chamado intelecto resulta na análise de tudo. Todas essas leituras, avaliações e análises complicam o que é simples. o tornar-se puramente receptivo, afastar-se do falso e deixar o grande portal se abrir, aquilo que é pode ser claramente compreendido.

O maior prazer é experienciado quando não há preocupação a respeito de sua duração.

Utilizar a mente para tentar alcançar o entendimento final é como contratar um ladrão para proteger uma casa de ladrões.

A supressão é uma falta de aceitação, uma tentativa de anular o que é natural. O tratamento dos sintomas não cura a doença. Os efeitos desaparecem quando as causas são removidas, não quando são suprimidas.

O segredo mais profundo é que tu estás além do tempo, além dos céus. Contata cada um em dois pontos: aqui e agora. Não te vejas separado da totalidade quando, de fato, és a própria totalidade. Muda teu ponto de vista e muda teu mundo. Assim como o olho não pode ver a si mesmo, a mente não pode conhecer a si mesma. Como tal, todo o conhecimento deve brotar daquilo que é mais vasto.

Ao cavar um buraco, emprega-se uma pá. Quando o buraco está feito, larga-se a pá. Ao ensinar, usam-se de conceitos. Quando o ensinamento é assimilado, largam-se os conceitos.

Quando a necessidade da ação alcança o tamanho adequado, a ação acontece. Essa é a natureza do mundo. Aquele que realiza a ação é apenas o instrumento da ação, nada mais.

A xícara vazia tem o vazio em seu interior. O que acontece com o vazio quando a xícara é quebrada?

O alvorecer de uma complacência para aceitar o inaceitável produz a cessação da preocupação. Em um mundo sem preocupação, o homem vazio é um imperador.

Todas as emoções vêm e vão, tu permaneces.

Não há necessidade de transcender o passado. Tudo o que deve ser feito é deixar de carregá-lo, como um bloco de pedra nas costas.

Pensar cria mais problemas do que resolve.

Há uma grande alegria quando uma gota de chuva se reúne com o oceano. Da mesma forma, há uma grande alegria na morte. O que morre, além de uma história cheia de tristeza e alegria intermitentes?

Os seguidores do sol nunca conhecem a escuridão.

Viver e morrer é natural; temer viver e morrer não é.

Tu não és o personagem principal da peça; tu és um dos muitos personagens. Cada um tem um papel a desempenhar. Essa percepção é o primeiro passo rumo à unidade que é, que sempre foi e sempre será.

A infelicidade vem ao homem por dois meios. O primeiro é chamado de “não obter o que se deseja”. O segundo é chamado de “obter o que se deseja”. Ambos conduzem à infelicidade. O primeiro, no entanto, é mais rápido do que o segundo. O primeiro ensina a futilidade de desejar. O segundo ensina a loucura que é acreditar que satisfação e felicidade são uma coisa só.

Por baixo, está a sustentação; que é a água para o barco; que é o céu para a nuvem. Aquilo que é conhecido é sustentado pelo desconhecido, que, por sua vez, é sustentado pelo incognoscível. Ignorar isso é a loucura dos homens.

Tudo se move em direção à sua própria destruição. A chama que está acesa se move em direção à extinção. O que está entre os dois é intitulado de tempo.

Não confunda o esvaziar da xícara com o quebrar da xícara. A xícara que é esvaziada pode ser preenchida novamente, enquanto a xícara que é quebrada deixa de existir. 

A união da plena consciência com a vida é a mais bela união que esse mudo já conheceu.

A chegada do que está ausente é pré-condicionada pela partida do que está presente. Enquanto a hospedaria está cheia, não há quartos disponíveis.

Quando a água do rio é colocada em uma jarra, ela muda sua qualidade? O recipiente é irrelevante. A atenção deve permanecer sobre o que é essencial.

O que é natural não requer estudo ou prática para dominar. Alguém estuda como dormir? Para alcançar o que é natural, basta remover o que não é natural.

Olha profundamente para dentro de ti e tenta encontrar a ti mesmo. O fracasso que se segue é a verdadeira descoberta.

As numerosas formas desta manifestação são ilimitadas. Ao focar a atenção nessas numerosas formas, é fácil se perder. O caminho de volta é o caminho de saída. Volta a atenção para aquilo de onde a infinitude surgiu.

Quão gloriosa é a vida sem propósito! Os eventos ocorrem sem seu curso natural e nada precisa ser feito, nem ser algo em particular. Pode haver maior liberdade do que essa?

O silêncio é a ponte entre o sem forma e o mundo das formas.

Como pode a luz encontrar a escuridão? A escuridão é apenas a ausência da luz. Como pode alguém encontrar a própria origem? A própria origem é revelada na ausência de ti mesmo.

 Escritos de Wu Hsin - Projeto Luz do Oriente