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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Q U A N D O   E U   E R A   P R I S I O N E I R O

Prisao mente Fotografias de Banco de Imagens, Imagens Livres de ... 

Lembras-te ainda, Mestre, do tempo quando eu estava encarcerado? E, mesmo por detrás das grades da minha voluntária prisão, cantava hinos à liberdade?...
 
É que eu chamava meu cárcere meu “palácio”, porque havia dourado habilmente as suas barras de ferro.
 
E por detrás dessas grades douradas cantava hinos à liberdade que julgava possuir – eu, o prisioneiro de mim mesmo...
 
Lembras-te ainda, Mestre, daquela gloriosa manhã de primavera em que tu abriste a minha prisão dourada? E como eu, a princípio, tinha medo de trocar a minha fagueira escravidão pela austera liberdade de hoje?
 
Desde aqueles tempos remotos, muita coisa em mim morreu – e muita coisa em mim nasceu...
 
A minha pequenina consciência egóica expandiu-se aos poucos e foi culminar na vastidão da consciência cósmica.
 
A soberba mesquinhez da minha inteligência individual espraiou-se na humilde grandeza da razão universal...
 
A minha estreita política de cidadão terrestre alargou-se na vasta filosofia de habitante do universo...
 
Ah! se meus companheiros de prisão de outrora soubessem o que nós sabemos, divino Mestre!...
 
Se soubessem dessas horas inefáveis quando nós passeamos, de mãos dadas, pelos bosques sagrados, à sombra das palmeiras silentes, falando, sem proferir palavra, desses mundos de estupenda grandeza e formosura – mundos em que vivemos, mundos que vivem em nós!...
 
Passam-se horas, dias, meses, anos, séculos, milênios, eons, eternidades e mais eternidades – e nós ainda estamos no início da nossa vida, porque os nossos mundos ignoram tempo e espaço – são de indefectível juventude...
 
Se os homens soubessem, divino Mestre, o que nós sabemos, não tolerariam por um só instante os seus horrorosos prazeres, as suas infelizes felicidades...
 
Nós o sabemos, e por isto todas as nossas solidões são povoadas de vida exuberante, todos os nossos desertos exultam de vitalidade, todas as nossas vacuidades transbordam de plenitude, todas as nossas trevas são mais luminosas que as mais intensas luminárias dos profanos...
 
E as palmeiras silentes do bosque sagrado estendem sobre nós as suas verdes flabelas...
 
E as nossas alvejantes túnicas espelham-se na superfície plácida dos lagos que dormem no seio de pedras e musgos...
 
E tu me falas de coisas que só a alma pode sentir, mas que mente alguma pode entender, nem lábios humanos podem proferir...
 
E durante um único segundo em tua companhia, Mestre, à sombra dos bosques silentes do nosso paraíso, eu chego a saber da verdade mais do que em séculos e .milênios de estudos e lucubrações intelectuais...
 
Porque, as tuas revelações brotam de dentro do meu ser divino – enquanto os sentidos e o intelecto só me assaltam de fora com os seus ruídos estéreis...
 
E à luz das coisas eternas que o teu silêncio me revela, Mestre, eu chego a compreender até as coisas efêmeras que o mundo ruidoso dos sentidos e do intelecto procurava em vão fazer-me compreender...
 
Compreender não é estudar, analisar, anatomizar – compreender é ser iluminado por dentro, pela íntima essência da eterna Realidade...
 
Desde esse tempo, eu me sinto livre, gloriosamente livre – à luz da Verdade... Se os homens soubessem o que nós sabemos, divino Mestre!...
 
Se eles soubessem...  Se eles soubessem... 


Huberto Rohden, trecho do livro A Voz do Silêncio
Poemas de auto-realização para iniciandos e iniciados 

 

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