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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

MAHAMUDRA
 A EXPERIÊNCIA DEFINITIVA

Segunda Parte

Milhões e milhões de vezes mais profunda,
milhões e milhões de vezes mais alta é Mahamudra.
É um orgasmo total com o Todo, com o Universo.
É fundir-se na fonte do Ser.


 
Essa é a canção de Mahamudra. Foi belo da parte de Tilopa chamar a isso canção. Tu podes cantá-la, mas não podes dizê-la; podes dançá-la, mas não podes dizê-la. É algo tão profundo que o cantar pode transmitir, dela, minúscula parte - não o que cantares, mas a forma pelo qual cantares.

Muitos místicos simplesmente dançaram, depois de sua experiência com o definitivo. Não poderiam fazer outra coisa. Estavam dizendo algo através de todo o seu ser, de todo o seu corpo: corpo, mente, alma, tudo se envolvia naquela experiência. Dançavam, e aquelas não eram danças comuns. Na verdade, toda a sua dança nascera deles mesmos: era uma forma de contatar o êxtase, a felicidade, a beatitude.

Algo do desconhecido penetrara no conhecido, algo do além viera à terra - e que outra coisa poderias fazer? Dançar o fato, cantar o fato. Essa é a canção de Mahamudra.

E quem a cantará? Tilopa já não existe. A sensação orgásmica, ela própria está cantando, não é cantada por Tilopa. Tilopa já não existe. A própria experiência vibra e canta. Daí, a canção de Mahamudra, a canção do êxtase a canta. Tilopa fundiu-se. Quando aquele que procura se perde, só então a meta é atingida. Quando já não existe a experiência, a experiência ali está. Procura e perderás o que procuras, porque através da busca o que procuras se fortalecerá. Não procuras e encontrarás. O próprio fato de procurar, o próprio esforço torna-se uma barreira, porque quanto mais procurares, mais o ego se fortalecerá, como também aquele que procura... Não procures.

Esta é a mensagem mais profunda em toda a canção de Mahamudra: não procures; fica apenas onde estás, não vás a parte alguma. Ninguém jamais alcança Deus, ninguém o pode fazer porque não sabe qual é o endereço. Para onde irás? Onde encontrarás o Divino? Não há mapas, não há caminhos e não há ninguém para dizer onde Ele está. Não, ninguém jamais alcança Deus. Sempre se dá o contrário: Deus vem a ti. Quando estiveres pronto. E o estar pronto nada mais é do que estar em receptividade. Quando estiveres completamente receptivo, não haverá ego. Tu te tornarás um templo oco, sem ninguém lá dentro.

Tilopa diz, na canção, para te tornares oco como um bambu, nada por dentro. E, subitamente, no momento em que fores um bambu oco, os lábios do Divino estarão sobre ti, o bambu oco transformar-se-á numa flauta, e a canção começará - a canção de Mahamudra. Tilopa tornou-se um bambu oco, o Divino veio e a canção teve início. Não a canção de Tilopa, mas a canção da própria experiência Definitiva.

Alguma coisa sobre Tilopa antes de entrarmos nesse belo fenômeno. Não se conhece muito sobre Tilopa, porque nada, na verdade, pode ser conhecido sobre tais pessoas. Elas não deixam traços, não se tornam parte da História. Existem ao lado, não são parte do trânsito principal em que toda a Humanidade está se movendo. Elas não se movem no mesmo terreno. Toda a Humanidade move-se através do desejo, e pessoas como Tilopa movem-se na ausência do desejo. Elas simplesmente se afastam do trânsito principal da Humanidade, onde existe a História.

E, quanto mais distantes se colocam, mais mitológicas se tornam. Existem na qualidade de mitos; já não são acontecimentos do tempo. E assim é que deve ser, porque elas se movem para além do tempo - vivem na eternidade. Desta dimensão da nossa Humanidade comum, elas simplesmente desaparecem, evaporam-se. Só do momento em que estão evaporando, só desse momento é que nós nos recordamos, até então elas são parte de nós. Por isso é que não se conhece muito sobre Tilopa, sobre quem era ele.

Só existe a canção. É a dádiva de Tilopa; e foi concedida a seu discípulo Naropa. Essas dádivas não podem ser concedidas a ninguém - a não ser que exista uma profunda intimidade de amor. A pessoa tem de ser capaz de receber tal dádiva. E aquela canção foi concedida a Naropa, seu discípulo. Antes de recebê-la, Naropa foi testado de mil maneiras: sua fé, seu amor, sua confiança. Quando se soube que nada de duvidoso existia nele, nem mesmo a mais insignificante partícula de dúvida, quando seu coração estava inteiramente repleto de confiança e de amor, a canção lhe foi dada.

A indiferença é a chave; sê simplesmente indiferente. Ela aí está - aceite-a. Leva tuas energias, mais e mais, em direção à confiança e ao amor, porque a energia que se torna dúvida é a mesma energia que se torna confiança. Mantém-se indiferente à dúvida. No momento em que te tornares indiferente, tua cooperação será rompida, tu não a estarás alimentando - porque é através da atenção que todas as coisas se alimentam. se deres atenção à tua dúvida, mesmo que seja contra ela, será perigoso, porque essa mesma atenção é alimento, é cooperação. Devemos, apenas, ser indiferentes - nem a favor, nem contra: não sejas a favor da dúvida e nem sejas contra a dúvida.

Assim, terás que compreender três palavras. Uma palavra é dúvida, a outra é crença e a terceira é confiança ou fé, aquilo que no Oriente se conhece como shraddha. A dúvida é uma atitude negativa em relação a qualquer coisa. O que quer que se diga é ouvido, de inicio negativamente. Tu te sentes contra aquilo e encontras razões, racionalizações, que apóiam tua "negatividade". Há, então, a mente da crença. É tal e qual a mente da dúvida, só que de cabeça para baixo - não há muita diferença. Tal mente vê tudo como positivo e tenta encontrar razões, racionalizações, que apoiem essa atitude "a favor". A mente que duvida suprime a crença, a mente que acredita suprime as dúvidas - mas ambas são do mesmo tipo, a qualidade não é diferente.

Há, então, um terceiro tipo de mente; e dessa mente a dúvida simplesmente desapareceu. Quando a dúvida desaparece, a crença também desaparece. Fé não é crença, é amor. Fé não é crença, porque não é a metade, é total. Fé não é crença, porque nela não há dúvida, portanto, como podes crer? Fé não é racionalização, absolutamente: não é contra, nem a favor disto ou daquilo. Ter fé é ter confiança, uma confiança profunda, amor. Não encontrarás racionalização para isso; simplesmente é assim. Então, que fazer?

Não crie crenças contra a fé. Sê indiferente a ambas, crença e dúvida, e leva tuas energias em direção ao amor: ama mais, ama incondicionalmente. Não ames a mim apenas, porque isso não é possível: se amas, simplesmente amas. Se amas, simplesmente existes sob uma forma mais amorosa - tem amor não só pelo Mestre, mas pelo céu e pela terra. Tu, o teu ser, a tua própria qualidade de ser tornam-se um fenômeno de amor. Então, surge a confiança. E só a confiança assim pode ser concedida uma dádiva como a canção de Mahamudra. Quando Naropa esteve pronto, Tilopa concedeu-lhe sua dádiva.

Portanto, recorda-te de que, com um Mestre, não estás "viajando-com-a-cabeça". Dúvida e crença são, ambas, "viagens-com-a-cabeça". Com um Mestre tu "viajas-com-o-coração". E o coração não sabe o que é dúvida, o coração não sabe o que é crença - o coração simplesmente, confia. O coração é como a criança pequena que vai pela mão do pai, e o segue para onde ele for, sem confiar, nem duvidar: a criança é indivisa. A dúvida é metade, a crença é metade. Uma criança ainda é total, inteira. Vai, simplesmente, para onde quer que seu pai se dirija. Quando um discípulo se torna tal qual uma criança, só então podem ser concedidas as dádivas do mais alto grau da percepção.

Quando tu te tornas o mais profundo vale da recepção, os mais altos graus da percepção te podem ser concedidos. Só um vale pode receber um grau. Um discípulo deve ser absolutamente feminino, receptivo, como um útero. Só então tal fenômeno acontece, como vai acontecer nesta canção.

Tilopa é o Mestre, Naropa o discípulo, e Tilopa diz: Mahamudra está para além das palavras e símbolos, mas para ti, Naropa, sério e leal, isto deve ser dito...

Aquilo está para além de palavras e símbolos, de todas as palavras e de todos os símbolos. Então, como pode ser dito? Há, então, alguma forma? Sim, há uma forma. Se há um Naropa, há uma forma. Se há, realmente, um discípulo, há uma forma. Depende do discípulo o ser, ou não, encontrada essa forma.

Se o discípulo for tão receptivo que não tenha mente própria, não julgará se é errado ou certo: ele não tem mente própria, cedeu sua mente ao Mestre; ele é, simplesmente, receptividade, um vazio pronto para receber incondicionalmente o que quer que lhe deem - e então as palavras e os símbolos não são necessários. E, então, algo pode ser dado. Podes ouvir isso entre as palavras, podes ler entre as linhas; e as palavras são apenas uma escusa. O que é verdadeiro acontece exatamente às margens das palavras.

Palavras são apenas artifícios, expedientes. O real segue as palavras como uma sombra. E, se estiveres muito preso à mente, ouvirás as palavras, mas não poderás comunicar-te. Mas se não fores absolutamente uma mente, então as sombras sutis que seguem as palavras, muito sutis, só o coração as pode ver, sombras invisíveis, ondulações invisíveis da percepção, "vibrações"... então a comunhão será imediatamente possível.
 

Osho
https://redemetamorfose.org
 

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