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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

MAHAMUDRA, DE TILOPA


A Instrução de Tilopa sobre o Grande Símbolo (Mahamudra), para Naropa, 
em Vinte e Oito Versos

O Mahamudra não pode ser ensinado, ó inteligente Naropa, mas como você passou pela austeridade rigorosa, com tolerância no sofrimento e devoção ao mestre, ó abençoado, guarde esta instrução secreta em seu coração.
 
Assim como ninguém pode se segurar no espaço, o Mahamudra não existe ponto de apoio. Fique parado no estado natural, sem qualquer artifício. Assim, sem dúvida, os nós se soltarão.
 
Contemplando o meio do céu vazio, a visão cessa; do mesmo modo, quando a mente olha para a própria mente, termina o fluxo do pensamento discursivo e conceitual e é obtido o despertar supremo.
 
Assim como a neblina da manhã se dissolve no ar, sem ir a qualquer lugar, mas cessando de ser, as ondas da conceitualização se dissolvem com ondas quando você contempla a verdadeira natureza de sua mente.

O espaço puro está além das cores e das formas, permanece imutável quando vestido de preto ou branco; assim também, a essência da mente está além da cor e da forma e permanece imutável mesmo vestida por ações negras ou brancas.

A escuridão de mil eras não tem poder para ofuscar a claridade de cristal do coração do Sol; e do mesmo modo, eras de samsara não têm poder para encobrir a essência luminosa do espírito.
 

Apesar de o espaço ser chamado de “vazio”, na realidade ele é indescritível; apesar da natureza da mente ser chamada de “clara luz”, mesmo essa concepção não tem fundamento.
 

A natureza original da mente é como o espaço; ela permeia e abraça todas as coisas sob o Sol. Sem agir, com o corpo naturalmente tranquilo, em silêncio, as palavras vibrando como um eco, sem pensar, a mente passa para o dharma do além.
 

O corpo é essencialmente vazio, como um canudo de junco,e a mente é como o centro do espaço, além dos objetos do pensamento; fique nessa esfera, parado, sem rejeitar nem aceitar nada; a mente sem qualquer objetivo é o Mahamudra e com a prática aperfeiçoada é obtida a iluminação suprema.
 
A clara luz do Mahamudra não pode ser revelada pelas escrituras canônicas ou pelos tratados metafísicos dos que estudam os Tantras, da Prajnaparamita, do vinaya [escrituras do Hinayana], dos sutras e das outras doutrinas.
 
A clara luz é encoberta pelos conceitos e ideias. As proibições e votos prejudicam o verdadeiro samaya [caminho tântrico]. No não-agir do mental, sem nenhum objetivo, o surgimento e o desaparecimento são espontâneos como as ondas; não abandonar o sentido daquilo que não tem moradia, que não tem referência, é manter o samaya, é como uma tocha acesa nas trevas.
 
Livre de toda intenção, não aceitando nenhuma conclusão, são revelados todos os dharmas e ensinamentos.
 
Praticar neste estado liberta da prisão do samsara; meditar nesse estado consome todos os véus e a negatividade; isso é o que se chama ser a tocha do conhecimento.
 
Os tolos, em sua ignorância, desprezam o Mahamudra, são levados continuamente pelas ondas do samsara.Tendo compaixão pelos ignorantes que sofrem de constante ansiedade, aquele que busca libertar-se de sua infelicidade insuportável deve buscar imediatamente um mestre: sua influência espiritual, penetrando no seu coração, libertará seu espírito.

KYE HO! Ouça com alegria! O investimento no samsara é fútil; é a causa de todo sofrimento. Já que o envolvimento mundano é inútil, procure o coração da realidade.

Na transcendência das dualidades da mente, está a visão suprema; em uma mente em repouso e silenciosa, está a meditação suprema; na não-ação, está a atividade suprema; e quando todas as esperanças e medos morrem a meta é alcançada.
 
Além de todo ponto de referência, está a natureza luminosa da mente: não siga nenhum caminho, para seguir o caminho dos Buddhas, não aplique técnica alguma, para obter a iluminação suprema.
 
KYE MA! Ouça com simpatia! Compreenda bem os fenômenos do samsara: eles não podem durar, como a ilusão e o sonho. Como eles, não possuem existência autêntica; desenvolva a renúncia e afaste-se da atividade do samsara.
 
Corte todo envolvimento emocional aos objetos e medite sozinho em um retiro na floresta ou na montanha; fique lá em um estado de não-meditação. Atingindo o inatingível, é encontrar o Mahamudra.
 
Uma árvore estende seus galhos e põe folhas, mas quando sua raiz é cortada, sua folhagem seca. Assim também, quando a raiz da mente é cortada, os galhos da árvore do samsara morrem.

Uma árvore estende seus galhos e põe folhas, mas quando sua raiz é cortada, sua folhagem seca. Assim também, quando a raiz da mente é cortada, os galhos da árvore do samsara morrem.
 
Uma única tocha elimina as trevas mesmo se a escuridão durou mil eras; do mesmo modo, um único lampejo da clara luz da mente apaga eras de cegueira e negatividade da ignorância.
 
KYE HO! Ouça com alegria! A verdade além da mente não pode ser compreendida por qualquer faculdade mental; o significado da não-ação não pode ser compreendido pelo dharma da ação; para perceber o significado da não-ação e do que está além da mente, corte a raiz de sua mente e deixe o conhecimento permanecer na sua nudez.
 
Permita que as águas barrentas da atividade mental clareiem; deixe tudo o que aparece ficar tal como é, sem nada produzir nem impedir. O mundo dos fenômenos, sem adição ou subtração, é o Mahamudra.
 
A base não-nascida onipresente está livre de tendências e ilusões; não tenha intenções nem previsões, repouse na essência não-nascida e deixe todos os conceitos de si mesmo e do universo se dissolverem.
 
O caminho real e sublime está livre de qualquer conclusão; a mais elevada meditação sonda as profundezas sem limite; a mais elevada ação não adota opinião nem partido; o espírito supremo está aqui mesmo, não é preciso esperar.

No começo, a atividade mental é como uma cachoeira; depois, ela flui como o rio Ganges serpenteando gentilmente; e no fim, é como um rio que se torna um com o oceano, ele termina na consumação, como o encontro de mãe e filho.
 
A pessoa estúpida, incapaz de permanecer nesse estado, retendo o alento essencial e expelindo a seiva da consciência, praticando a fixação do olhar – métodos de focalizar a mente, devem se disciplinar até que se estabeleça o estado de consciência total.
 
Aquele que se dedica a uma parceira (karmamudra),
Se eleva até o conhecimento primordial do êxtase e do vazio. Entre na união da sabedoria (prajña) e dos meios (upaya). Docemente, envie a bodhichitta devagar para baixo, retenha-a, retraia-a para cima, e, conduzindo-a à sua fonte, sature o corpo inteiro. Se não houver apego, ele se elevará ao conhecimento primordial do êxtase e do vazio. Com vida longa e juventude eterna, crescerá como a Lua, radiante e clara, com a força de um leão, obterá rapidamente os resultados comuns e se dedicará ao supremo.
 
Possa esta profunda instrução do Mahamudra permanecer nos corações dos seres afortunados.
 
 
NOTA: A Instrução Mahamudra de Tilopa para Naropa em Vinte e Oito Versos foi transmitida pelo grande mestre e mahasiddha Tilopa ao erudito, sábio e siddha de Kashmir, Naropa, próximo às margens do rio Ganges, após completar suas doze austeridades. Naropa transmitiu os ensinamentos em sânscrito, na forma de vinte e oito versos, ao grande tradutor Marpa Chökyi Lodrö, que fez umatradução livre deste texto em sua vila, Pulahari, na fronteira do Tibet com o Butão. 

Fonte:http://www.yogadevi.org
Texto recebiddo por email

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